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elenor schneider

Presentes de Natal

Foto: Pixabay

Ninguém é obrigado a dar presentes, embora esta época do ano desperte inquietação em muitos lares e corações. Parece que Natal impõe essa obrigação e, não a cumprindo, em muitos provoca um vazio, uma culpa injustificável. Nem todos os presentes materiais trazem felicidade duradoura. Com o tempo, são esquecidos ou até abandonados. Restam mesmo outros valores, estes para sempre.

Em tempos idos, havia três ou quatro eventos durante o ano: Páscoa, Natal, aniversário, mais ou menos isso. Não existiam tantos dias de tudo como hoje. Natal ficava longe, demoraria a chegar e requeria bom comportamento, boas notas na escola, deveres infantis cumpridos, porque isso poderia render uma justa recompensa.

Quando dezembro batia à porta, nas famílias acendia-se uma luz. Chegara o tempo de preparar, por exemplo, as possíveis bolachas, todas elas produzidas em casa. Lembro-me de uma tia que, observando a suave cor alaranjada do céu do entardecer, anunciava: os anjos estão fabricando bolachas. Vamos também fazer.

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Nossa mãe conduzia o ritual. Preparava a massa, afinava com o rolo, depois os recortes com as forminhas (estrelas, corações, passarinhos), a seguir o forno a lenha entrava em ação, aquele cheiro gostoso e inesquecível perfumando o ar. Vinha a pintura, as miçangas para colorir, depois a lata guardaria a doçura para alegrar o tempo de Natal. Não guardo esse presente físico, entretanto jamais se afastou de mim, mora para sempre em meu coração. Pode haver presente mais lindo do que essa lembrança cheia de afetos?

Mas, aguardava-se também algum presente. Lembro que um dos meus maiores sonhos era ganhar uma bola de couro. Nossa família tinha matadouro e açougue. Uma das primeiras bolas com que joguei era bexiga de boi. Com um canudo de pé de abóbora, insuflávamos o ar e a bola estava feita. Só tinha um problema: à medida que ressecava, ficava mais leve que papel. Em paralelo havia a bola de pano, depois apareceram as bolas de borracha, vendidas nas casas comerciais, mas o sonho era chegar à bola de couro. Na época, eram numeradas de um a cinco, de menor a maior tamanho. O desejo era ganhar ao menos a número três. Num Natal, Papai Noel atendeu e preencheu esse projeto de felicidade.

Um pouco mais adiante, ganhei de presente um par de chinelos de dedo. Fiquei deslumbrado com aquela maravilhosa invenção. Até então usara chinelos de couro e, na lida, tamancos de madeira. Lembro até hoje que eu não parava de olhar, exibido, para a alegria dos dedos libertados, livres da opressão impiedosa que até ali tinham vivido.

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Mais adiante vieram outros presentes. Uma aluna minha, de Rosário do Sul, me contou que seu pai passaria por séria intervenção cirúrgica. Escutei, livrei-a de algumas obrigações e desejei sucesso no procedimento. Tempos depois voltou e contou que dera tudo certo e me agradeceu a acolhida. No dia de Natal, ela ligou para desejar Boas Festas e, mais uma vez, agradeceu pelo apoio recebido. Esse presente eu não esqueci.

Outro aluno tinha grande dificuldade de acompanhar as aulas. Trabalhava como vendedor, viajava muito, faltava às aulas e não conseguia cumprir as tarefas. Reprovei-o, o que sempre gera desconforto. Tempos depois, caminhando pela rua, ele sai correndo dum caixa eletrônico e, pedindo desculpas por seu momentâneo fracasso, veio me dar um abraço de Feliz Natal. Estávamos em paz. Lindo presente. E também inesquecível.

Os presentes mais bonitos são os gestos de amor.

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