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CONVERSA SENTADA

Quando se abandona o pago

Cuando se abandona el pago
y se empieza a repechar,
tira el caballo adelante
y el alma tira pa’ trás.

(Quando se abandona o pago e se começa a “repuxar”, puxa o cavalo adiante e a alma puxa para trás.)
Assim cantou o imortal Athaualpa Yupanqui.

É assim que nascem as taperas. Os ocupantes das casas as abandonam, o cavalo puxa para frente, mas a alma puxa para trás.

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Nos nossos campos há várias taperas. Mas lá, perdida no meio de uma invernada de campo nativo, há uma especial. Me disseram que ali moravam fantasmas. Ainda restam algumas paredes.

A casa era de pedras superpostas, com amálgama de barro. O telhado ruiu ou foi levado pelo vento e o mato tomou conta. Um dia, numa linda tarde de domingo, decidi ir solito até a tal tapera, montado no meu cavalo Poeta.

Cheguei, apeei do cavalo e me estirei sobre a relva macia. Acabei adormecendo. Senti uma espécie de inquietude que acelerou meu coração. Me deu a impressão de que via, num átimo, uma jovem descendo a vereda pelo pequeno trilho, em direção à sanga, com um balde. Tinha longos cabelos negros, usava um xale de lã crua, calçava “chancletas” de couro cru. Percebi a voz de um homem com sotaque castelhano. Ela implorava para que ele ficasse no rancho pois “diz que” andavam degolando gente sem piedade por aí…

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Abri os olhos. Voltei à realidade. Teria sido o vento, que causava assobios no taquaral, imitando vozes? Seriam as almas penadas ocupando a tapera? Ou apenas um sonho?

É certo que os campos dessa região já foram habitados por índios guaranis, fugidos da perseguição do homem branco, tentando salvar seu modo de viver.

No riacho Itacurubi, que hoje dá nome a um pequeno município encostado em Unistalda, teria sido morto o índio e líder Andresito Guazurari. O meu querido amigo Nico Fagundes, que tantas vezes me honrou com sua estada na minha estância, era um admirador desse heroico defensor de seu povo. Levei, certo dia, Nico até o outro lado de São Borja, a Santo Tomé, Corrientes, onde há um enorme monumento em honra de Guazurari. Nico, inclusive, deu o nome de Andresito a seu filho mais novo.

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Guazurari é venerado nas províncias de Misiones, Corrientes e na região missioneira do Rio Grande do Sul.
Lutava pelo seu povo, que queria continuar livre, com seus costumes e seus deuses, “que não eram brabos como o dos cristãos”, como referiu um cacique.

Nossa História missioneira é pouco estudada no Rio Grande do Sul, ao contrário da outra margem do Rio Uruguai.
(Agradeço a Eduardo Anton pelo livro de sua lavra que me enviou: Inesperado – Uma oportunidade de superação e aprendizado).

VEJA MAIS TEXTOS DO COLUNISTA RUY GESSINGER

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