Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Opinião

Quebra-pau online

Semana passada, abordei nesta coluna algumas impressões sobre o seriado Round 6, de estrondoso sucesso na Netflix – inclusive entre as crianças, ainda que a censura seja 16 anos. Imaginava que o tema geraria certa polêmica e controvérsia entre os leitores. O que não previa foi o quebra-pau que a crônica fomentou nos espaços para comentários do Facebook, depois de publicada na página do Portal Gaz. Foram mais de 120 comentários, a maioria bem edificante, mas outros, infelizmente, maculados por trocas de insultos entre os próprios internautas.

LEIA: Batatinha frita, 1, 2, 3

Cumpre lembrar que na citada coluna apresentei duas opiniões que formei após assistir ao seriado. Uma delas de admiração por determinadas lições que surgem, de forma latente, na história. Citei o exemplo do protagonista, Seong Gihun (Lee Jung-jae), capaz de fazer vários sacrifícios por pessoas que nem conhecia antes de ingressar nos terríveis jogos – nos quais quem perde, morre. Comparei sua postura à dos heróis da mitologia e deixei bem claro – assim espero – que esse é um mérito da produção sul-coreana.

Publicidade

Por outro lado, dei eco à preocupação de educadores, pedagogos e psicólogos – ou seja, de gente estudada, que entende do assunto – em relação aos efeitos psicológicos de Round 6 sobre as crianças. Registrei minha própria apreensão, como pai de família, em relação à fórmula do seriado, que une jogos infantis e massacres. Ainda assim, concluí a coluna ressaltando, textualmente, que “o diálogo entre pais e filhos e os esforços dos professores em bem educar têm mais força que os banhos de sangue onipresentes na tela da TV”.

● ● ●

Embora correndo o risco de escorregar para o enfadonho, faço questão de relembrar, aqui, o que afirmei na coluna anterior – só que, desta vez, recolocando tais impressões logo no início deste texto. Isso porque, correndo os olhos pelos comentários que surgiram no Facebook, pareceu-me claro que muitos dos autores não leram a crônica até o final – outros sequer passaram do título e alguns simplesmente foram no embalo dos comentários anteriores.

Publicidade

Tive essa impressão ao perceber, por exemplo, que alguns internautas insinuaram que este colunista, ao invés de colocar a culpa nos filmes e seriados, deveria aprender que cabe aos pais ter autoridade dentro de casa, educar e monitorar seus filhos. Mas… poxa vida… foi justamente isso que eu quis dizer quando escrevi que “o diálogo entre pais e filhos tem mais força que a violência na tela da TV”. Pode conferir, está escrito lá.

Mas não, não estou me queixando dos comentários – ao contrário, uma repercussão como essa, com tantas participações, é gratificante. Se faço esse registro, não é como lamúria ou desabafo, mas a título de proveitoso conselho: comentar, ter opinião formada, é importante; porém, comentar sem ler pega mal… as pessoas percebem.

● ● ●

Publicidade

Alguns acusaram este colunista de “fazer mi-mi-mi”. Mas, afinal, o que é mimi-mi? Ainda estou tentando entender os mistérios semânticos por trás desse neologismo. Preocupar-se com a educação das crianças é mi-mi-mi? Dar ouvidos a especialistas, que passaram a vida estudando a fundo a psicologia infantil, é mi-mi-mi? Se assim for, viva o mi-mi-mi!

Também não faltou alguém sugerindo-me ir capinar, ao invés de escrever sobre esse tema. Esse sim, seria um conselho bastante proveitoso, caso eu não já tivesse o hábito de, em certos finais de semana, manejar a enxada com grande destreza no combate às ervas daninhas, no quintal.

Na mesma linha, recomendaram que eu fosse colher fumo ou plantar batatas. Eis duas dicas interessantes, considerando-se o bom momento do tabaco e também a importância de colocar na mesa comida saudável – quiçá, batatas produzidas de forma orgânica na horta de casa. Vou considerar as duas sugestões.

Publicidade

● ● ●

Enfim, até aí, tudo bem. Estava divertido. Contudo, em dado momento as coisas começaram a ficar meio acirradas entre alguns internautas de opiniões opostas e, lá pelas tantas, a discussão descambou para ofensas entre eles. Chamou a atenção a postura de um rapaz que, sem constrangimento algum, passou a atacar os demais comentaristas com grosseria e palavras de baixo calão – a mais amena foi aquela que começa com “m”.

Não sou um fã de redes sociais, guardo certo espírito de velha guarda. Cheguei a esquecer a senha do Face, de tanto tempo que não acessava. Contudo, nas espiadas esporádicas, muitas vezes por força da profissão, tenho percebido que, nos ambientes online, muitos agem como se estivessem em um universo paralelo onde vale tudo, onde as ofensas não têm o mesmo peso, ou mesmo, estão liberadas. É como se no Face houvesse um salvo-conduto para dizer tudo aquilo que, no cara a cara, no olho no olho, não se tem coragem.

Publicidade

Entretanto, se é verdade que, como pregam os visionários do futuro, caminhamos a passos largos para uma simbiose entre o mundo “real” e o virtual, a ponto de ambos se confundirem, teremos que nos acostumar a manter, nesse novo universo, os bons modos que aprendemos – ou deveríamos ter aprendido – à moda antiga, com nossos pais.

LEIA TODAS AS COLUNAS DE RICARDO DÜREN

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.