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Série revela as histórias que não foram contadas sobre a independência do Brasil

Não são poucos os fatos (ainda) controversos associados ao período da Independência do Brasil. Algumas dessas lacunas parecem quase intransponíveis, o que não significa que historiadores e pesquisadores não se dediquem a tais aspectos, na esperança de elucidá-los (eventualmente com a localização ou a descoberta de novos documentos, relatos ou registros, quem sabe perdidos em algum espólio, alguma biblioteca ou museu em qualquer parte do mundo).

Um dos dilemas, por exemplo, é compreender o que teria acontecido na fatídica noite que antecedeu a partida de Dom Pedro, em 1826, na viagem para verificar a situação do conflito pela Província Cisplatina, no extremo Sul. Antes da saída, ele teria tido atrito forte com Leopoldina. Teria havido até mesmo uma agressão, um pontapé desferido por ele na esposa. Esta passou mal nos dias seguintes, abortou e morreu em dezembro de 1826, de modo que qualquer coisa que houve silenciou com ela nesse momento.

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É das tantas histórias não contadas, ou contadas em parte, que se ocupa o escritor, historiador, biógrafo e arquiteto paulista Paulo Rezzutti. Aos 50 anos, ele é, ao lado de Laurentino Gomes, Eduardo Bueno, Lilia Schwarcz e de mais alguns acurados pesquisadores, responsável por trazer à luz biografias e estudos de leitura imprescindível. Por exemplo, Rezzutti dedicou-se a elaborar detalhadas biografias dos principais personagens associados à Independência: Dom Pedro I, Leopoldina, Domitila de Castro. A partir destes, são prontamente iluminados vários outros atores decisivos, como José Bonifácio, Francisco Gomes da Silva (o Chalaça, melhor amigo, e alcoviteiro, de Dom Pedro), a inglesa Maria Graham, que foi interlocutora de dona Leopoldina; e o major Georg Anton von Schäffer, outro interlocutor da imperatriz, que ajudou a trazer os primeiros imigrantes germânicos ao Brasil.

Agora, por ocasião do bicentenário da autonomia brasileira, Paulo Rezzutti acaba de lançar Independência: a história não contada: A construção do Brasil 1500-1825, obra de 320 páginas que, a exemplo do restante da produção do autor, chegou às livrarias sob o selo da editora Leya, por R$ 65,00.

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No contexto do novo livro que está lançando, bem como diante das comemorações dos 200 anos de Independência brasileira, Rezzutti concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul. As respostas do escritor às questões formuladas foram enviadas por e-mail.

Entrevista – Paulo Rezzutti, escritor e pesquisador

  • Gazeta do Sul – O senhor publica a série “A história não contada”, em que recupera personagens marcantes da história brasileira, em especial do período da Independência. Qual dos personagens contemplados até o momento mais surpreendeu o senhor em termos de informações recolhidas durante a pesquisa, e por quê?
    Paulo Rezzutti – Eu acredito que um dos personagem mais reveladores tenha sido dona Leopoldina. Quando me aproximei da sua figura, ainda em 2010, eu tinha uma ideia preconcebida baseada no que me foi passado, que era a imagem dela como esposa de Dom Pedro I, mãe de Dom Pedro II e mais nada, o que não é verdade. Mas ela, como uma pessoa que fez política no Brasil e foi importante no nosso processo da Independência, eu só vim a conhecer quando estudei os documentos para fazer a sua biografia.
  • O senhor entende que boa parte das lacunas já foram iluminadas por pesquisadores, acerca daquele momento histórico, ou ainda restam passagens bastante obscuras?
    Eu entendo que ainda falte falar mais e profundamente dos outros personagens da Independência, principalmente o povo, as mulheres, os negros e os indígenas que participaram do processo.
     
  • Passados dois séculos desde a Independência, no que o Brasil mais deu certo, em seu projeto de nação, e no que ficou a dever, em sua avaliação?
    A integração nacional, iniciada no processo da Independência e consolidada durante o Segundo Reinado, foi uma das concretizações desse projeto de nação que foi efetivo. Não resolveu a questão da educação, prevista na Constituição, e muito menos a disparidade social, que é gritante até os dias de hoje.
  • Dom Pedro I ou dona Leopoldina: qual dos dois foi mais determinante para a independência, e por quê?
    Ambos foram, cada um a sua maneira. D. Pedro atuou na esfera pública, assumindo a direção dos acontecimentos, e Leopoldina atuou nos bastidores, costurando acordos e trabalhando pelo reconhecimento do Brasil.
  • Além dos personagens já contemplados, algum em especial daquele período da Independência ainda o desafia ou lhe interessa biografar? Quem mereceria uma obra específica, pela participação no processo?
    Dom João VI, eu já venho trabalhando há alguns anos em um projeto para uma biografia dele.
  • Como o senhor avalia a trajetória de Dom Pedro II, tendo em vista que, afinal, trazia consigo tanto o legado da mãe, dona Leopoldina, quanto do pai, Dom Pedro?
    Dom Pedro II, apesar de se parecer mais com a mãe do que com o pai, não conviveu com dona Leopoldina, pois ele tinha 1 ano quando ela morreu, e as suas lembranças mais fortes eram de Dom Pedro I. O pai partiu do Brasil quando ele tinha 5 anos de idade. De 1831 até a morte de Dom Pedro I, em 1834, eles se comunicaram muito por cartas. Nelas vemos uma imensa preocupação de D. Pedro I com a educação do filho e uma grande insistência de que ele se dedicasse muito aos estudos. Dom Pedro II vai cumprir à risca as determinações do pai e estudará sempre, mesmo depois de ter sido banido do Brasil. Foi sempre um estudioso e um apaixonado pelo Brasil.
  • Há motivos para que o brasileiro celebre a memória dou primeiro casal de imperadores, Dom Pedro e Leopoldina? O senhor entende que a nação hoje faz jus devidamente à memória deles, ou poderia inclusive lhes dar mais ênfase, por exemplo no ensino?
    Sim, é importante que se celebre porque eles foram determinantes no processo da Independência. Mas a educação não deve ser personalista, eles fizeram parte de um processo que inclui outros personagens, inclusive anônimos.
  • O que o senhor entende que foi mais determinante para que o País, tendo dimensões continentais, permanecesse coeso, unido, apesar de todos os interesses regionais?
    Durante o império, sem dúvida, foi o modo como a política nacional era centralizada enquanto se forjava um senso de identidade nacional, que só havia começado a ser criado durante o processo da Independência.

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