Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

PELO MUNDO

Sichuan, China: terra de abundância (e dos pandas-gigantes)

Foto: Arquivo Pessoal

Pandas-gigantes em base de pesquisa de Chengdu, em Sichua

Ao entrar na Base de Pesquisa e Reprodução de Pandas de Chengdu, fiquei com a impressão de que um dos
pandas-gigantes me mirava pensando: “De novo por aqui?”. Era minha oitava visita ao local que salvou da extinção essa espécie, que não era sequer conhecida no mundo ocidental até o final do século 19. O convite para visitar a base vinha sempre depois de reuniões em empresas da região e nunca tive coragem de dizer não, diante do orgulho dos nativos da província de Sichuan (ou Sujuão) de viverem na região que é o habitat do animal símbolo da China para o mundo (dentro do país, o mítico dragão ocupa esse posto). Em uma das visitas, fazia tanto calor que todos os ursos estavam recolhidos em confortáveis galpões com ar-condicionado, música ambiente, zelosos tratadores e fartura de galhos e folhas de bambu, seu alimento favorito, enquanto pareciam entediados observando, através de amplos vidros, os curiosos humanos transpirando do lado de fora.

Há mais de cem animais no centro de pesquisa, o que representa 30% dos pandas cativos no país. Além desses, cerca de 1.500 vivem no ecossistema nativo, nas montanhas da província. Fora da China, há menos de 30 pandas-gigantes, cedidos a zoológicos pelo governo de Pequim. O esforço em recuperar essa população de ursos é notável. Há meio século, havia menos de 200 e o crescimento dos últimos anos fez com que a espécie fosse reclassificada de ameaçada para vulnerável. Apesar da aparência dócil e do comportamento brincalhão desses carnívoros vegetarianos, que chegam a ter dois metros de altura e têm somente o ser humano como predador, eles tornam-se muito agressivos quando se sentem ameaçados.

Ambiente propício: filhotes descansam no berçário da base

Qualquer semelhança com o país que representam é mera coincidência, mas em um aspecto em particular chineses e pandas diferem completamente: a capacidade de reprodução. Em cativeiro, ursos machos perdem o interesse em copular. Cientistas da base de pesquisa usam subterfúgios extremos, como vídeos pornográficos de pandas, uso do medicamento sildenafil, conhecido comercialmente como Viagra, e inseminação artificial, que raramente tem sucesso. O período fértil das fêmeas na natureza é de dois a três dias por ano e, ao darem à luz gêmeos, o que acontece em 50% dos partos, escolhem o mais forte e abandonam o outro filhote, já que só podem produzir leite suficiente para um deles. A participação familiar do macho se limita à reprodução e, após os breves encontros românticos, deixam a fêmea e a futura prole à própria sorte. Como bem sabemos, alguns machos da espécie humana exibem comportamento idêntico.

Publicidade

Enquanto os pandas existem há milhões de anos na região de Sichuan, a concepção da nação chinesa começou há 40 séculos, próximo dali, na planície central banhada pelo rio Amarelo e pelo maior rio da Ásia, o Yangtze. A bacia era seguidamente submetida a enchentes devastadoras, até que, no século 7, um engenhoso sistema de canais permitiu estabilidade e franco desenvolvimento ao império dos filhos de Han.

A China conseguiu recuperar espécie que se encontrava ameaçada de extinção

A província, nutrida por essas artérias vitais, é conhecida como a terra da abundância, com solo fértil e rico em recursos naturais. O território tem uma área maior que a da Espanha e abriga 82 milhões de habitantes. A moderna e ao mesmo tempo tradicional capital Chengdu tem 12 milhões de pessoas, a sétima maior metrópole da China. O sistema de irrigação dos rios Min e Jin, que atravessam a cidade, foi construído três séculos antes de Cristo e é usado ainda hoje na agricultura e na prevenção de enchentes.

A sudoeste de Chengdu, no encontro dos rios Min e Dadu, afluentes do lendário Yangtze, ergue-se uma monumental escultura do fundador do budismo, conhecida como o Grande Buda de Leshan. Idealizada por um monge para acalmar as águas que atormentavam embarcações no local, foi esculpida na falésia a partir do ano 723, durante a dinastia Tang. Com 71 metros de altura, era a maior estátua do mundo até o final do século 20. Ironicamente, a quantidade de rocha arenítica removida das altas encostas, e depositada nos rios, alterou as correntes, tornando o encontro fluvial mais navegável. Exatamente como havia profetizado o religioso budista.

Publicidade

LEIA MAIS: VÍDEO: o mundo sob o olhar de Aidir Parizzi

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.