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HISTÓRICO

Um ano depois do temporal, moradores ainda se recuperam das perdas sofridas

Foto: Rafaelly Machado

Ingrid ainda teme os dias de chuva forte: ela perdeu tudo e a saída foi adquirir móveis e eletrodomésticos usados

Há exatamente um ano, moradores de diversos bairros de Santa Cruz do Sul viveram momentos de tensão por causa de um temporal que provocou alagamentos e estragos em residências, consequência da força da água. A enxurrada não saiu da memória dos santa-cruzenses que sofreram perdas naquele 28 de janeiro de 2021, quando foram registrados 112 milímetros de precipitação entre 18h30 e 19h30. Em alguns momentos, a intensidade chegou a 305 milímetros por hora. Dois terços do esperado para o mês caíram em apenas uma hora.

Uma das situações mais emblemáticas foi a do casal Vandélio Pontel Alves e Jaqueline Hirsch. Moradores da Rua Padre Anchieta, no Bairro Santo Inácio, eles precisaram sair às pressas com o avanço da água, que chegou a 1,65 metro. Vandélio teve de retirar a filha Alícia por cima da grade. Ele ainda precisou remover a sogra, acamada com mal de Parkinson, em meio ao temporal. O muro dos fundos do terreno desabou.

Vandélio Pontel Alves mostra a altura em que chegou a água na sua residência, na Rua Padre Anchieta, Bairro Santo Inácio: tarde foi de pânico e muitos prejuízos para a família | Fotos: Rafaelly Machado

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Além dos móveis e eletrodomésticos, Vandélio acumulou prejuízos com três veículos. Um carro ficou prensado em uma árvore, que precisou ser arrancada. O cachorro capa preta da família morreu durante o ocorrido, e o canil foi completamente destruído. Jaqueline lamenta perdas afetivas, como os álbuns de fotografias levados pela água, assim como muitos documentos.

Vandélio lembra que a família saiu apenas com a roupa do corpo. Eles contaram com a ajuda de muitas pessoas nos dias seguintes. “Ainda estamos comprando coisas para repor o que perdemos. Tenho dívidas para pagar. Tem marca de onde chegou a água até agora.”

Para ele, a pior situação é o estado de pânico da filha Alícia toda vez que começa a chover. Ela está sendo tratada com uma psicóloga e os gastos com remédios chegam a R$ 300,00. “Ela desenvolveu gastrite depois do que aconteceu. Não é mais a mesma. Sente pânico quando chove. Gostaria de ver a minha filha bem novamente”, afirma Vandélio.

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Vandélio teve que passar a filha por cima da grade para salvá-la da enxurrada: menina ainda sofre com o trauma

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A vizinha de Vandélio e Jaqueline, Ingrid Plácido, perdeu praticamente tudo e optou por comprar móveis e eletrodomésticos usados. A máquina de lavar foi consertada. Ela disse que chegou a receber um auxílio, mas insuficiente para custear o necessário.

Na época, ela morava com o marido, com a filha e com o sogro, que agora foi para uma clínica geriátrica por estar em estágio avançado de Alzheimer. “Estamos tentando ajeitar a casa do jeito que conseguimos. Cada vez que chove forte, temos muito receio”, comenta. A cadela Cyndel, retirada em um carrinho de mão no dia do ocorrido, ainda sente medo dos trovões. Segundo Ingrid, uma limpeza de encanamentos e bueiros foi realizada pela Prefeitura. Muitos troncos e galhos foram retirados.

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Água derrubou muro e o barro invadiu casa

Na casa de Luciana Corrêa, na Rua Jair Calixto, Bairro Menino Deus, a força da água derrubou o muro e a enxurrada invadiu os cômodos. O filho João tentou evitar a queda de uma porta, mas não conseguiu. Precisou ser retirado por Luciana, com o auxílio do companheiro Sidnei.

Os móveis e eletrodomésticos ficaram inutilizáveis. A casa ficou tomada por barro e entulho. Foram quatro dias de limpeza com lava-jato. Um ano depois, ainda é possível ver resquícios do que aconteceu. A família ainda aguarda o auxílio da Prefeitura para a retirada do material que restou do muro caído. “O cheiro ruim permaneceu uns dois meses. Parte da lama ficou impregnada”, conta ela.

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Luciana socorreu o filho João, que mostra como tentou tentou segurar a porta contra a força da água

Uma série de relatos de prejuízos e desespero

Na Rua Montevidéu, no Bairro Bom Jesus, ao menos três casas foram invadidas pela água. Todas ficam abaixo do nível da rua e ainda contam com um declive nos fundos do terreno. Luciano Damião Rodrigues afirma que conseguiu levantar os móveis a tempo e a água não chegou a subir muito. Os vizinhos perderam alguns móveis. Na Rua Marcílio Dias, o muro da residência de Sinval Chagas do Santos caiu. O aposentado foi socorrido pela vizinha Maria Estela Tavares, que mora em parte construída no mesmo terreno.

Na Rua Arno Kaempf, no Bairro Independência, Ricardo Lopes enfrentou prejuízos com os carros que estavam na garagem, inclusive de clientes. Ele precisou secar os estofamentos e trocar peças. A água chegou até a sala. Na vizinhança, cachorros morreram afogados e pessoas em cadeiras de rodas precisaram de auxílio para sair de casa. “Ainda temos bocas de lobo entupidas. Isso pode se repetir se nada for feito”, alerta.

Já no Bairro Santuário, na Rua Carlos Bencke Sobrinho, a casa de Carine Schultz teve parte do telhado arrancada com a força do vento e a água entrava tanto pelo teto quanto pela porta da frente. Ela retirou a filha Valentina e a tia Lori, que é cadeirante, para a área da frente. Ela também perdeu praticamente tudo e levou esses 365 dias para tentar retomar a normalidade, após muitos reparos e limpezas.

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Estragos por toda parte: em diversos pontos de Santa Cruz, muros não resistiram e vieram abaixo

Mais de 2,8 mil chamados na Secretaria de Obras

Neste um ano desde que a enxurrada atingiu o município de Santa Cruz do Sul, a Secretaria de Obras e Infraestrutura atuou em diversos bairros para fazer reparos e evitar futuros transtornos. De acordo com o titular da pasta, Edmar Hermany, mais de 2,8 mil chamados chegaram à administração municipal. Destes, conforme o secretário, 85% já foram sanados, fora os que não foram documentados.  

Hermany salienta que, das demandas, muitas ainda não foram atendidas devido ao número de funcionários afastados, tanto na época posterior à enxurrada quanto agora, já que quase os mesmos períodos foram de alta nos casos de contaminações por Covid-19. Contudo, mesmo com a pandemia, o trabalho seguiu. Nesse tempo, cinco quilômetros de tubulações foram substituídos. “E temos, com muita certeza, mais cinco quilômetros ainda para substituir”, frisa.

Além disso, um agravo de anos foi solucionado. “Resolvemos um problema pontual que ninguém conseguia resolver, que foi a rótula 2001. Agora temos outros gargalos que estão em execução de obras perto do Parque da Oktoberfest”, afirma o secretário. Para Hermany, o trabalho é possível devido ao empenho dos servidores. “Agradeço a todas as equipes que trabalham no esgoto, nos arroios, na sanga, em tubulações pesadas, perigosas.”

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Também foram atendidas situações no interior de Santa Cruz e, em breve, um projeto de densidade pluviométrica será feito pela Unisc em conjunto com a Secretaria de Planejamento e equipe de engenharia. “É uma macrodrenagem que vem da descida do Acesso Grasel até a BR-471, para atingir toda a bacia do Bairro Santo Inácio. Outra que está sendo projetada é a bacia da Rua Senador Pinheiro Machado, que vai atingir toda a densidade pluviométrica da parte central da cidade”, completa.

As chuvas dos últimos dias, embora bem menores que as do início de 2021, causaram transtornos pontuais, principalmente no Centro. Hermany faz um apelo à comunidade, para que cuide de seu lixo e não descarte em lugares inadequados. “Lamentavelmente os problemas que tivemos de retenção de água, entupimentos, se repetiram. Mais uma vez, foram as pessoas tapando as bocas de lobo, colocando garrafas, restos de construções e até coberturas para que não saia odor dali.” Segundo Hermany, na manhã de ontem, por exemplo, as equipes tiveram que intervir e retirar lixo de bueiros para desobstruir a passagem da água.

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