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Uma camélia para Moina

NO DIA EM QUE FOTOGRAFEI a primeira camélia florescida neste ano, soube que Moina, minha tão querida e importante amiga, havia ido embora. Camélias são das poucas flores corajosas que alegram o inverno. Elas não têm perfume; basta-lhes a elegância silenciosa e perene. Minha cameleira é do tipo Rosa do Japão. Todos os anos, enquanto viveu, eu levava a primeira que floria para minha mãe. Agora, a cameleira também florescerá por Moina Mary Fairon Rech.

Moina era casada com um primo Rech, o Claudio, militar do exército, com quem viveu imensas aventuras, em diferentes postos no rumo do Norte, e Santa Cruz ficava cada dez mais longe. Um dia voltaram para ficar. Eu a conheci nos anos 2000: tínhamos livros infantis protagonizados por gatos chamados Tato. Eram felinos muito diferentes, constatamos depois, mas nos uniram para sempre.

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Eu queria saber mais dessa prima que surgiu de repente. Comentei o caso com minha mãe e ela me disse que o pai de Moina era irlandês e a mãe santa-cruzense. Que os pais dela chegaram a morar em frente à casa de meus avós, na Marechal Floriano. Eram pessoas finíssimas, assegurou minha mãe, que raramente usava superlativos.

À tardinha, depois do trabalho, os vizinhos vestiam pijamas e sentavam-se à frente de suas casas e saudavam-se; depois, se mantinham quietos, talvez pensando em suas próprias saudades. Essa dinâmica foi a Moina que me fez lembrar, e eu podia jurar estar vendo o pijama azul-claro-debruado-de-marinho do vô Fritz, que ainda estava bem novinho.

O nome Moina, em suas raízes celtas, evoca qualidades de delicadeza e ternura. Eu acrescentaria, como virtudes da minha amiga, a coragem, a sabedoria e a generosidade. Em nossos primeiros encontros, ofereceu-me uma peça de porcelana de seu enxoval e que teria sido comprada no Bazar de Frederico Rech & filhos. E, para todos nós, plasmou nossa cultura em livros deliciosos, e nos ensinou a conhecer o Brasil inteiro, em especial a região amazônica.

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E ela se foi, a Moina, no mesmo dia em que floresceu minha primeira camélia de 2025. Fechou uma porta em sua fantástica vida e abriu outra, a da Casa do Bosque, onde será poupada de toda a dor e encontrará o Claudio, seus pais, o filho, tia Amélia, a Gertrudes, as muitas primas – minha mãe incluída.

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