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CONVERSA SENTADA

Vendo a morte de perto

Diz a lenda que, de tanto vai o pote à fonte, que um dia se quebra.

O homem é uma criatura incrível. Para tudo, desde o nascimento, tem que aprender desde o início. Leva um tempão para se desenvolver. Até poder se locomover vão anos de aprendizado e desenvolvimento. Incrível como os terneiros nascem numa madrugada de geada e horas depois saem atrás da mãe.

Eu nunca quis falar que quando bois ou vacas passam num lugar onde há pouco morreu um semelhante, se põem a mugir, como se fosse choro. Achei que seria motivo de chacota.

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Nós, como os animais, temos premonições.

Dito isso, quero relatar o que houve comigo na estrada.

Vamos lembrar que nossa fazenda situa-se em Unistalda, um município com muita área, mas pouca população. Em qualquer fazenda há mais bois e vacas do que pessoas em toda a cidadezinha. Não consultei o IBGE, mas deve ter 3 mil habitantes.

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Unistalda não é pouca coisa. Só a Pecuária Gessinger arrebatou na Expointer, tempos atrás, um grande campeão da raça ideal e três grandes campeões de Ile de France.

Para chegar à nossa fazenda eu saio de Porto Alegre, vou pela BR-290, dobro à direita para São Sepé, vou a Santa Maria, pego a 287, passo por São Pedro do Sul, São Vicente, Jaguari, chegando a Santiago. De lá, mais 30 quilômetros para Unistalda.

Certo dia acordei cedo, 4 horas da manhã, e iniciei o retorno para Porto Alegre, voltando da fazenda. Ao passar por São Sepé, entrei na 290 e iniciei a rota que me levaria às pontes do Guaíba.

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Numa reta (lembremo-nos que a pista é simples e não duplicada) vinha, em sentido contrário, uma extensa fila de caminhões e ônibus. Nada à minha frente nem atrás. Num dado momento, não é que sai um carro pequeno do meio da extensa fila do outro lado?

Indizível o que senti, pois vinha a 80 quilômetros por hora. O carrinho a poucos metros de bater de frente na minha SW4. Em um átimo de segundos, que durou não sei quanto tempo, fiquei triste, muito triste, sabendo que ia morrer. Naqueles segundos me lembrei dos meus familiares e recordo bem que pensei: “vou morrer”.

Um anjo da guarda abriu seu caminhão para o acostamento e assim permitiu que o carrinho voltasse para a direita. Da minha parte, tudo em milésimos de segundos, infleti para o acostamento à minha direita. A caminhonete quis capotar, mas consegui dominar a situação.

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Parou todo o trânsito e eu ali completamente sem saber o que fazer.

O carrinho não parou e tratou de sair daí. Esperei quase uma hora, encostei num posto e desabei. Chamei meu filho Rudolf, que veio me buscar.

A morte tem cara. Eu vi.

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