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Santa Cruz

O homem que quer um novo país: conheça Irton Marx, candidato à Prefeitura

Foto: Alencar da Rosa

Conhecido pelo movimento separatista, Irton participa de eleições desde 1982 e, em 2004, elegeu-se vereador como mais votado

No início dos anos 1990, um movimento que defendia o desmembramento do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina do restante do Brasil e que teve Santa Cruz do Sul como epicentro ganhou a atenção da imprensa de todo o País. Por trás daquela mobilização estava Irton Marx.

Nascido em Hamburgo, na Alemanha, Irton veio para Santa Cruz em 1947, com apenas 11 meses e 4 dias de vida. Junto com o irmão mais velho, além de outros dois nascidos no Brasil, cresceu na região onde fica o quartel – no qual, inclusive, prestou serviço em 1966. Seus pais trabalhavam em empresas de tabaco e, devido à perseguição contra imigrantes germânicos desde a Segunda Guerra Mundial, eram discretos sobre as origens da família. “Tem pessoas que se criaram comigo e não sabiam”, conta. Para ele, aliás, a perseguição segue até hoje. “Aqui em Santa Cruz, creia-me, existe um escritório, não sei onde, do Mossad, serviço secreto de Israel.”

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Sem formação superior, Irton trabalhou em diversas atividades: foi funcionário da Companhia de Fumos Santa Cruz, garçom no Quiosque, fez curso técnico de Enfermagem no Hospital Pompeia, em Caxias do Sul, e manteve uma fábrica de confecções que chegou, segundo ele, a contar com 178 funcionários.

Foi em 1985 que começou a militar pelo separatismo. “Meu avô materno sempre dizia: ‘isso aqui não é Brasil, esse Estado pode ser um país’. Aquilo acho que gravou na minha cabeça”, conta. Com o tempo, formou a percepção de que o Rio Grande do Sul é prejudicado pelo pacto federativo. “Comecei a pesquisar e descobri que fazemos papel de bobo, porque toda a riqueza nossa é baldeada para o Rio de Janeiro e Brasília e dali toma destino para o bolso dos políticos, dos judiciários, dos militares e dos coronéis do Nordeste. Aí dei o grito da independência e até hoje estou peleando.”

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Somou-se a isso a crítica em relação ao tradicionalismo – considera o MTG uma entidade “fascista, racista e discriminadora”.

Nos tempos de vereador, exibia a bandeira da República do Pampa em seu gabinete | Foto: Banco de Imagens

Louco?

Irton se identifica como “evolucionista”, o que lhe garantiria a capacidade de antever os rumos da civilização. Em 1990, lançou o livro Vai nascer um novo país: República do Pampa Gaúcho, pela Editora Excelsior (que pertencia a ele mesmo), no qual diz ter antecipado “tudo o que está acontecendo no Brasil”. “Não errei nada, até o Plano Real. Eu já tinha feito o Plano Joia. Eles só copiaram”, diz.

Também se diz acostumado a ser tratado como louco. “Se tu analisar bem, Thomas Edison, Einstein, todos foram considerados loucos.” Refere-se ao separatismo como uma missão e diz acreditar que seu projeto ainda terá êxito. “Os professores sempre diziam que eu estava à frente do meu tempo. Eu não queria ser assim. Eu queria ser igual aos outros.”

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Alvo da PF e preso por injúria

Embora tenha conseguido chamar a atenção do Brasil – foi tema de reportagem do Fantástico e esteve no Jô Onze e Meia – e até no exterior – afirma ter falado a alguns dos principais veículos do planeta, como o New York Times –, a defesa do separatismo também custou caro a Irton, que esteve na mira da Polícia Federal. Em 1993, relata, sua residência foi alvejada por tiros disparados por homens pilchados que o acusavam de “nazista” e “traidor do Brasil”. “Uma dessas balas pegou a minha mãe. Não fosse a Brigada Militar, teriam me matado.”

Irton também acumulou processos judiciais por conta de publicações feitas em O Estado Gaúcho, fundado por ele na década de 1970 e que circulou até 2017. Criado para veicular artigos nos quais defendia projetos polêmicos para a cidade (e que, segundo ele, começaram a ser barrados na imprensa tradicional), o jornal acabou se tornando um difusor não só da tese separatista como de denúncias e conteúdos satíricos sobre políticos e empresários locais. “Eu não era Lava Jato, mas fiz o papel da Lava Jato”, afirma.

Mesmo condenado por injúria e, em duas oportunidades, levado ao regime semiaberto, garante que não se arrepende de nada que publicou. “Só falei a verdade. Reafirmo tudo.” Também nega que as prisões tenham sido traumáticas. “Os agentes da Susepe foram maravilhosos comigo. Diziam que eu não tinha nada que estar lá.”

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RAIO X

Livro: História da Alemanha, do Charles Bonnefon.
Filme: Gosto de filmes épicos. Gostei muito do Ben-Hur.
Música: rock’n roll. Pink Floyd, Black Sabbath, Nazareth, Dire Straits, Deep Purple…
Ídolo: acho que o Gandhi foi um grande homem.
Pior defeito: sou muito boca grande.
Maior qualidade: digo o que as pessoas não querem ouvir.
Ideologia: social-democrata.
Time do coração: Avenida.
Bolsonaro: intempestivo.
Lula: quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.
Eduardo Leite: o povo foi enganado.
Santa Cruz do Sul: amo Santa Cruz. Poderia estar muito mais desenvolvida.

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Militância na internet e rock ’n roll

Irton vem participando de eleições em Santa Cruz desde 1982 e chegou a concorrer a prefeito em 1988, quando fez 565 votos. Em quase 40 anos, passou por pelo menos oito partidos e se elegeu apenas uma vez, em 2004, quando estava no PDT e foi o vereador mais votado.

Conforme ele, a sua vitória em Santa Cruz este ano pode ser um novo impulso ao movimento separatista. “Seria muito importante. O Brasil inteiro está acompanhando”, garante.

Aos 73 anos completados na semana passada e aposentado, passa boa parte do tempo em uma casa no Bairro Carlota, onde se dedica à jardinagem, leitura, pesquisa e redação de textos que publica pelas redes sociais.

Apreciador de rock and roll – foi guitarrista de bandas na juventude –, costuma ouvir uma rádio especializada de Belarus pelo computador – o mesmo onde guarda montagens do Palacinho e de maquetes de cidades futurísticas com a bandeira da República do Pampa, que ele mesmo criou, hasteada. Diz já ter visitado 37 países, alguns dos quais considera referências. “Quero transformar Santa Cruz em uma cidade alemã.”

Sua companheira Catarina faleceu de câncer há vários anos. Já os dois filhos, Lucas e André, e os três netos moram na Alemanha – segundo ele, por questões de segurança.

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A série

Na segunda-feira, 28 de setembro, a Gazeta do Sul iniciou a publicação da primeira série de reportagens especiais sobre os candidatos a prefeito de Santa Cruz do Sul. Os sete prefeituráveis receberam a reportagem nas residências e falaram sobre as trajetórias profissionais e políticas, bem como sobre as famílias e interesses. Na largada da campanha, será uma oportunidade de os eleitores conhecerem quem são as pessoas que pleiteiam o comando do município e comparar os perfis.

A ordem de publicação foi definida em sorteio na presença de representantes das chapas, em reunião realizada no dia 19. A ordem é: Jaqueline Marques (PSD) na segunda-feira; Alex Knak (MDB) na terça; Helena Hermany (PP) na quarta; Mathias Bertram (PTB) na quinta; Carlos Eurico Pereira (Novo) na sexta; Frederico de Barros (PT) no dia 5, e Irton Marx (Solidariedade) no dia 6.

LEIA TODAS AS REPORTAGENS DA SÉRIE:
1. Uma militância que começou cedo: conheça Jaqueline Marques, candidata à Prefeitura

2. Um sonho que nasceu na infância: conheça Alex Knak, candidato à Prefeitura
3. Do Banco do Brasil ao Palacinho: conheça Helena Hermany, candidata à Prefeitura
4. Liderança que saiu de Pinheiral: conheça Mathias Bertram, candidato à Prefeitura
5. Paixão que começou no Túnel Verde: conheça Carlos Eurico Pereira, candidato à Prefeitura
6. A juventude que tomou a frente: conheça Frederico de Barros, candidato à Prefeitura
7. O homem que quer um novo país: conheça Irton Marx, candidato à Prefeitura

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