Vivemos tempos fracionantes. Costumamos perceber e descrever a realidade em compartimentos, pois tendemos a individualizar capítulos dedicados à geologia, biologia, socioeconomia, cultura e assim por diante. Por sua vez, cada capítulo também se fragmenta em subdivisões. Esse procedimento metodológico vem de longe. Foi Descartes, ao publicar, em 1637, seu Discurso do método, que elencou as quatro regras básicas de seu método.
A primeira busca verificar a evidência, ou seja, só será verdadeiro aquilo sobre o qual não restem dúvidas. A segunda se constitui na análise, que fraciona o objeto investigado em parcelas, tantas quantas necessárias para se alcançar a unidade mais simples. Através da síntese, a terceira regra, reagrupam-se as unidades separadas para se chegar ao conjunto mais complexo. Ao enumerar todas as fases, de forma a nada omitir, em sólido ordenamento, estaremos cumprindo com a quarta regra de Descartes.
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O método cartesiano não deixa de ser prático, todavia, também aprofunda o conhecimento e ação fracionada da realidade em fluxo. E como é difícil integrar o registro daquilo que se iniciou fracionando, pois as interações sistêmicas podem mudar tudo. Exemplifiquemos com o esforço sistêmico dedicado ao conhecimento e atividades relacionadas ao Cinturão Verde.
A partir da colaborativa participação, com a troca de saberes, expressa nas interrogações “do que queremos, somos e temos?”, buscamos o conhecimento do sistema natural/socioeconômico/fundiário, o que, frente aos possíveis cenários futuros, nos habilita à elaboração, em curso, de um mapa integratório, que se encontra disponível no acervo público “Pelo Movimento do Cinturão Verde”. Também o conhecimento e a ação no contexto das bacias hidrográficas alinham-se ao saber/fazer não fracionado.
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O mesmo podemos dizer em relação aos geoparques, que a partir da relevância geológica, abarcam uma gama imensa de oportunidades, aos moldes da fala do colega Enoir Greiner: “O Geoparque congrega tudo, desde a paleontologia até o turismo, além do que oportuniza novos investimentos e ganhos individuais e coletivos. Lembremos que Santa Cruz do Sul, além da paleotoca, abriga ao menos dois sítios paleontológicos, um no Schoenstatt e outro junto ao autódromo, e uma feição basáltica relevante junto ao Parque da Cruz. Acrescente-se que a implantação de um geoparque não estabelece novas restrições ocupacionais, permanecendo os regramentos já definidos pela legislação ambiental existente.”
A implementação do “Geoparque do Vale do Rio Pardo”, que vem sendo trabalhada pela Associação de Turismo da Região do Vale do Rio Pardo (Aturvarp), presidida pelo sr. Djalmar Marquardt, congrega oito municípios (Candelária, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Vale do Sol, Vale Verde, Venâncio Aires e Vera Cruz), que poderão se consorciar num ampliado processo de interação sinérgica.
Quantos programas e projetos de preservação e desenvolvimento geosocioambiental poderão ser impulsionados pelo geoparque? Cabe à engenhosidade e criatividade coletiva regional aonde se pretende chegar. Importa realçar que todos ganham na perspectiva estratégica de um roteiro que congregue os sítios paleontológicos, as feições geológicas relevantes, a ambiência, arqueologia, cultura, enfim, um mosaico sistêmico representativo da própria linha evolutiva geo-história da região.
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Claro, há um longo caminho até o reconhecimento de um geoparque junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Mas temos tudo para nos integrarmos à rede mundial dos geoparques. E o caminho para tal empreitada nos exige ciência, afeto, vontade, determinação, afinco e atuação integradora, condição fundante para que o resultado final possa ser bem mais do que a mera soma das partes, o que pode ser exercitado num meritório empenho coletivo.
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