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A volta da inflação ou apenas aumento de preço de alguns produtos?

Em meio à pandemia do coronavírus, com todos os estragos econômicos, financeiros, sociais e mortes que já causou, além de queimadas na Amazônia e no Pantanal, chuvas excessivas por aqui e escassas ou inexistentes em outras regiões do país, o consumidor brasileiro enfrenta um novo problema: o aumento exagerado do preço dos alimentos mais consumidos. O pacote de 5 quilos de arroz, por exemplo, que custava R$ 9 a R$ 11 antes da pandemia, chegou a R$ 19; depois, bateu em R$ 27 e hoje tem chegado ou até passado de R$ 40. Também subiram, muito acima do índice da inflação oficial, o feijão, o óleo de cozinha, as carnes.

A primeira questão a ser esclarecida: trata-se da volta da inflação ou é apenas uma alta pontual de preços? São coisas diferentes, mesmo que possam confundir-se. Até o mês de julho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – avalia a variação de preços para as famílias de 1 até 40 salários mínimos – foi de 2,31%, enquanto apenas os itens de alimentos e bebidas subiram 7,61%.

Como o IPCA leva em conta o preço de mais de 400 itens, a forte alta concentrada nos principais produtos da cesta de alimentação não se manifestaram de todo naquele índice. Significa que os aumentos não estão generalizados, mas localizados em alguns produtos, sendo descartada a inflação. O problema é que os itens que estão sofrendo altas exorbitantes são justamente os de alimentação, que representam os maiores gastos para as famílias mais pobres.

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Outra questão que se coloca nessas situações é eleger um ou mais culpados. De cara, não faltou quem apontasse o dedo ou o trombone para os supermercados. Até o presidente Bolsonaro chegou a dizer que iria “conversar” com a respectiva associação para convencê-los, apelando a uma atitude de patriotismo, a não aumentarem os preços dos produtos básicos de alimentação, mantendo sua margem de lucro próxima de zero.

Por ser onde o consumidor percebe os aumentos, os supermercados são apontados como vilões da alta dos produtos de alimentação. Em nota, a Associação de Supermercados do Estado do Rio (Asserj) alegou que tem sofrido grande pressão de aumento nos preços, repassados pelas indústrias e fornecedores. Esclarece que tem se esforçado para manter os preços normalizados e vem garantindo o abastecimento regular, desde o início da pandemia. Algumas redes de supermercados, como o grupo Carrefour Brasil, estão limitando a quantidade de produtos da cesta básica que podem ser comprados pelos clientes.

Por que, então, estão acontecendo essas altas dos produtos básicos da alimentação do brasileiro, principalmente do arroz? O Secretário de Política Econômica do governo federal, Adolfo Sachsida, disse que o governo colocou muito dinheiro nas mãos do pobre, que passou a comprar e comer mais, diminuindo os estoques, com o que concorda o vice-presidente Mourão. Já a ministra da agricultura, Tereza Cristina, disse que o arroz não vai faltar, embora esteja com o preço alto, mas que o governo vai fazê-lo baixar. ”Se Deus quiser, teremos uma supersafra no ano que vem”, resumiu a ministra.

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Além dessas razões, existem outras para explicar o aumento do preço dos produtos da cesta básica, principalmente o arroz:
1ª) com a pandemia, I) os países produtores de alimentos seguraram as exportações, para garantir o abastecimento interno; entre março e julho deste ano, o Brasil importou 59% menos arroz; II) os países importadores de alimentos estão refazendo seus estoques; a China já comprou 50% a mais de carne, o que, além de provocar a subida do preço em nosso mercado, também puxa alta na carne de porco e frango;
2ª) a alta do dólar desvalorizou o real, tornando os preços do arroz e outros produtos, em reais, muito mais interessantes quando exportados, provocando menor oferta no mercado interno, com o consequente aumento de preço; em agosto do ano passado, o dólar valia R$ 4,02. Um ano depois, está valendo R$ 5,46, uma alta de 36%. Essa desvalorização do real fez com que os preços de produtos como arroz, soja, milho, carnes, cotados internacionalmente em dólar, subissem mais. Além disso, o dólar alto encareceu alguns alimentos, produzidos com insumos importados e pagos em dólar, como os fertilizantes na agricultura;
3ª) a falta de estoques reguladores de arroz, permitindo a exportação indiscriminada, resultou na redução da oferta e explosão dos preços; até 2015, havia um estoque médio de 1.629 toneladas de arroz; em 2016, no segundo governo Dilma, caiu para 88 toneladas; no final do governo Temer, estava em 31 toneladas; em 2020, eram de apenas 22 toneladas.

Numa tentativa de aumentar a oferta e diminuir o preço, o governo brasileiro zerou a tarifa de importação de arroz para países de fora do Mercosul. Mas, na avaliação de entidades que operam nessas atividades, a importação não deve alterar muito os preços para o consumidor final, nem trazer benefício imediato.

O presidente Bolsonaro já avisou que não fará nada para segurar o preço do arroz, tendo descartado qualquer tabelamento, já aplicado várias vezes no Brasil, no passado, com resultados desastrosos (falta de produtos e cobrança de ágio). O presidente admitiu que “houve mais exportações” de arroz e que os agricultores, surfando na alta do dólar, estão em seu direito porque “estavam com prejuízo há mais de 10 anos”.

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Na contramão do viés liberal, parecendo dois governos, o que inclusive gerou mal-estar na equipe econômica do ministro Paulo Guedes, o Ministério da Justiça, através da Senacom (Secretaria Nacional do Consumidor), notificou supermercados e produtores para explicarem, no prazo de cinco dias, o aumento de preço de alimentos da cesta básica. O Procon, por sua vez, prepara fiscalização em supermercados para apurar alta dos alimentos.

Só nos resta, então, pagar os preços absurdos por alimentos da cesta básica ou aguardar alguns meses, até que a situação retorne à normalidade, conforme sugere o secretário da Economia, Adolfo Sachsida. Ou, ainda, atendendo recomendação do presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto,” substituir o arroz por macarrão”.

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