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Conheça John Mc’Innes, o afilhado santa-cruzense de Getúlio Vargas

John Mc’Innes, aos 71 anos, com as netas: ele atua como corretor de imóveis em Santa Cruz há quatro décadas

Nessa terça-feira, 19, transcorreu o dia de aniversário de um dos mais importantes políticos da história do Brasil, o ex-presidente Getúlio Vargas, nascido há 140 anos, em 1882, em São Borja. Duas vezes chefe da nação, ele se suicidou no dia 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em Santa Cruz do Sul, em homenagem a ele, o nome é atribuído à mais importante praça, a central, do Chafariz, situada diante da Catedral São João Batista.

Se o País perdia, em 1954, o mandatário, um menininho santa-cruzense de 3 anos perdia um padrinho. Neto do petebista local Ottmar Muench, John Alexander Mc’Innes teve o ex-presidente como padrinho de batismo. Aos 71 anos, ainda ouve as histórias associadas às circunstâncias que levaram os pais, Gerald e Clarice, a convidarem Getúlio a ser testemunha do batizado, na Catedral São João Batista. “É claro que eu não tenho lembrança pessoal associada ao padrinho Getúlio Vargas”, cita Mc’Innes. No entanto, mais de sete décadas após, registros fotográficos da vinda de Vargas a Santa Cruz e os documentos comprovam ou eternizam aquela época.

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Getúlio, a bem da verdade, tinha vínculos anteriores com a região, já desde a época de formação dele. Afinal, ainda adolescente, veio estudar na antiga Escola Militar de Rio Pardo, entre 1899 e 1902, como inclusive refere o jornalista Lira Neto no primeiro volume da biografia do renomado político. Quase três décadas depois desse período, entre 1930 e 1945, ele ocuparia a presidência do Brasil na fase conhecida como Estado Novo, assumindo o poder, mas sem ser eleito. Porém, em 1950, quando era senador, se candidataria ao cargo pelo PTB, elegendo-se então pelo voto, para assumir a partir de 31 de janeiro de 1951. Esse segundo governo ficou cercado de polêmicas e atritos, especialmente com o jornalista Carlos Lacerda, e levou ao gesto radical do suicídio, em agosto de 1954.

Em 1950, Vargas arrastou multidões ao Centro

Foi justamente no contexto da campanha para a Presidência, na reta final de 1950, que Getúlio Vargas acabou recebendo o convite para ser padrinho de um santa-cruzense cujo nascimento estava programado para dezembro daquele ano. O menino veio ao mundo quando o padrinho já fora eleito o novo presidente do Brasil.

Getúlio veio à cidade, ainda na condição de senador, para um megacomício em 22 de setembro de 1950, uma sexta-feira, como a Gazeta estampou na capa da edição da terça-feira seguinte, dia 26. “Consagradora Recepção a Getúlio”, enfatizou. E ampliou: “O prestigioso líder trabalhista nacional teve o mais concorrido comício da história política da nossa terra”. Era a passagem do futuro padrinho de Mc’Innes.

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Manchete de capa da Gazeta repercute passagem de Getúlio Vargas pela cidade em 1950

O jornalista José Augusto Borowsky, na coluna “Memória”, na Gazeta do Sul, recordou dessa visita na edição de 27 de agosto de 2012. Frisa que, além de participar de comício na frente da Prefeitura, Getúlio visitou a Catedral, o que foi documentado em foto do líder ao lado dos padres Beno Beuren e Affonso Hansen, e participou de recepção na casa do líder local do PTB, Ottmar Muench, em cuja residência pernoitou. Muench e a família residiam na Rua 28 de Setembro, nas imediações de onde a Caixa Federal teve uma agência de autoatendimento, próximo à loja de O Boticário. Mais uma vez, momentos desse convívio de Getúlio com a família de Ottmar foram registrados em fotos, bem como o megacomício que ocorreu na cidade.

Borowsky recuperara essa circunstância em outra coluna, no dia 22 de agosto de 2011, lembrando que em 22 de setembro de 1950 Vargas foi recebido às 16h30 no campo da aviação, que na época ficava na região do atual Distrito Industrial. De lá, seguiu em carreata até a sede do PTB, na Rua 28 de Setembro, local hoje da Loja Por Menos. Já à noite, às 20h30, participou de comício na Praça da Bandeira. A Gazeta de 26 de setembro informou que, apesar da noite fria, 6 mil pessoas foram prestigiar o líder, no maior comício da história na cidade.

E na edição da Gazeta de 29 de setembro, uma foto na capa estampava um sorridente Getúlio saindo da Catedral São João Batista ladeado pelo vigário Beno Beuren e pelo padre Affonso R. Hansen. Era uma forma de rechaçar o comentário, que circulava na cidade, de que Vargas era comunista, pois nessa ocasião visitava uma igreja católica.

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Um Getúlio Vargas sorridente saía da Catedral São João Batista, em sua visita a Santa Cruz do Sul em 1950 | Foto: Acervo Pessoal

Foi na recepção que a filha de seu Ottmar, Clarice, e o marido Gerald Mc’Innes convidaram Getúlio para ser padrinho do filho, a nascer em dezembro. Vargas prontamente aceitou. O batizado de John Mc’Innes aconteceu na Catedral no dia 10 de março de 1951. No entanto, os compromissos da Presidência, assumida em janeiro, inviabilizaram a vinda de Getúlio à cidade para o ato religioso. Destacou o filho Manuel Vargas, o Maneco, na época secretário da Agricultura do Estado, a vir representá-lo, por procuração. Na certidão de batismo ficou registrado, para a posteridade, que o padrinho de John Mc’Innes era o dr. Getúlio Dornelles Vargas, representado por Manoel, sendo a madrinha Lisete Schmidt.

No batismo, a madrinha Lisete e Maneco, representando Getúlio, com o pequeno John | Foto: Acervo Pessoal

O padrinho é um político que mudou a história

O santa-cruzense John Alexander Mc’Innes pode não ter uma lembrança pessoal associada ao padrinho de batismo, mas os familiares e amigos, bem como os demais da geração dele, trataram de situá-lo, desde menino, sobre quem era esse personagem, cujo nome entrou para a história. À medida que crescia e tomava consciência do fato, naturalmente John foi compreendendo melhor essa situação, e não são todos, convenhamos, que aprendem ou estudam sobre o padrinho nos livros de História, no colégio.

Em entrevista para a Gazeta do Sul, John rememorou a trajetória e a da família. O ramo paterno é de origem inglesa, e estava presente em Santa Cruz em virtude da atuação junto à então Companhia Brasileira de Fumos em Folha, ligada à British American Tobacco (BAT), depois Souza Cruz, e hoje novamente BAT Brasil. O pai, Gerald, casara com Clarice Muench, filha do líder petebista Ottmar João Muench. Além de John, o casal tivera mais um filho, Adrian, nascido em 1948 e que já é falecido.

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Os pais de John acabaram se separando, há cerca de três décadas, e com isso o pai, Gerald, viveu temporadas na Austrália e em outras regiões até se fixar em Teresópolis, na Serra do Rio de Janeiro, onde faleceu há dez anos, com mais de 90 anos. Já a mãe, que também esteve radicada no Rio de Janeiro, mais tarde retornou a Santa Cruz do Sul, onde veio a falecer. Em virtude das circunstâncias familiares e de formação, John se dividiu entre Santa Cruz, Porto Alegre e o Rio, entre outras viagens. Casou-se com Ângela Maria Kliemann, e com ela tem um casal de filhos: Michael, casado com Adriana Noll, pais da Antônia; e Vanessa, casada com Gilberto Haas Júnior, pais da Olívia.

Em atividade profissional, John é reconhecido como corretor de imóveis, área à qual se dedica já há cerca de quatro décadas. E igualmente mantém vínculos com entidades sociais na cidade e na região, a exemplo do Santa Cruz Country Club, como adepto e praticante do golfe.

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Se John não chegou a estabelecer proximidade com o padrinho Getúlio Dornelles Vargas, isso foi compensado pela relação constante com a madrinha que esteve no batismo, Lisete Schmidt. “O marido dela, Arno Willy Schmidt, depois inclusive veio a ser meu padrinho de crisma”, salienta. E é claro que dona Lisete, por ter testemunhado a cerimônia religiosa de março de 1951, também sempre confirmava a existência do padrinho famoso. E os acontecimentos na rotina brasileira nos tempos de infância, evidentemente, podem ser conferidos nos livros de História.

Conversas e homenagens durante a estadia na cidade

A edição da Gazeta do dia 26 de setembro de 1950, uma terça-feira, enfatizava a impactante passagem do então senador e ex-presidente da República Getúlio Dornelles Vargas pela cidade. “Ultrapassou todas as previsões o entusiasmo com que foi recebido aqui na sexta-feira última, dia 22, o Senador Getúlio Vargas”, referia. E acrescenta que a equipe dele chegara em dois Eletras da Varig, e do aeroporto se deslocara até a cidade em automóvel que já atraíra a atenção de uma multidão ao longo do caminho. “Passava das 17 horas quando o ilustre candidato petebista deu entrada na rua principal da cidade, sob entusiásticas ovações de seus numerosos simpatizantes e correligionários. Uma multidão calculada em diversos milhares de pessoas comprimia-se defronte a sede do PTB, quando o ex-chefe do Estado Novo ali se refugiou para em seguida hospedar-se na residência do sr. Ottmar Muench, vice-presidente do Diretório Municipal do PTB”, amplia o veículo.

O jornal menciona ainda que o candidato, ali, recebeu a visita do prefeito, Alfredo L. Kliemann; do juiz de Direito, dr. José Antonio Borges Maciel; e de outras figuras destacadas da política local. Por volta das 19 horas, Getúlio teria sido homenageado com um jantar na residência de um industrialista local, dr. Jorge E. Hoelzel. Compunham a comitiva o senador Ernesto Dornelles, candidato ao governo gaúcho os deputados José Diogo Brochado da Rocha, Egydio Michaelsen, Fernando Ferrari e Batista Luzardo; e os candidatos a deputado federal Victor Loureiro Issler e Ruy Ramos; além de jornalistas e outros elementos ligados à alta direção petebista.

Prestígio: o então senador trabalhista ao centro de um grupo durante recepção na cidade

Na edição da Gazeta da sexta-feira seguinte ao comício, uma semana após a passagem de Vargas pela cidade, na qual vinha em destaque na capa a foto da visita de Getúlio à Catedral São João Batista, entre parênteses, ao final do texto, vinha a informação: tratava-se de uma publicação do Diretório Municipal do PDT. O partido estava preocupado em expor à população a notícia da recepção ao candidato na igreja católica, uma vez que a oposição fazia circular o rumor de que Getúlio na verdade tinha ideias comunistas.

A trajetória do avô

Se o padrinho firmou o nome na história, o avô de John Mc’Innes, seu Ottmar Muench (também grafado Münch, em alemão), liderança local do PTB na época de Getúlio, tem a trajetória destacada em Santa Cruz. Seu Ottmar foi vereador em três legislaturas (entre 1952 e 1955; entre 1956 e 1959; e entre 1960 e 1963), tendo recebido, respectivamente, 811, 777 e 580 votos em cada uma delas. Era contemporâneo na Câmara de figuras políticas como Alfredo José Kliemann, Bruno Agnes, Orlando Oscar Baumhardt, Nestor Frederico Henn, Euclydes Nicolau Kliemann, Edgar Gruendling, Alvino João Schmitt, Emiliano José Limberger, Floriano Peixoto Azevedo Menezes, Luiz Arthur Jacobus, Arthur Walter Kaempf, Patrick Francis Fairon, Harry Antônio Werner, Carlos Aloysio Hoppe e Arno Ignacio Etges, entre tantos outros. A trajetória na vida pública em Santa Cruz lhe rendeu a homenagem com o nome da Rua Vereador Ottmar João Muench, no Bairro Faxinal Menino Deus.

A biografia definitiva

A vida de Getúlio Vargas é amplamente documentada em livros. Mas a biografia escrita pelo jornalista cearense Lira Neto talvez seja a que proporciona melhor e mais detalhada aproximação com o percurso pessoal e público do político gaúcho. Lançada pela Companhia das Letras, a obra abrange a infância e a formação no primeiro volume (que compreende de 1882 a 1930 e cita a passagem dele por Rio Pardo); o primeiro governo e o Estado Novo no segundo, de 1930 a 1945; e a volta ao poder pela via das urnas, até o suicídio, no terceiro volume, que contempla o período da campanha eleitoral de 1950, por ocasião da qual Getúlio fez o comício em Santa Cruz do Sul.

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