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ELENOR SCHNEIDER

Debaixo da laranjeira

Penso que aos poucos podemos começar a entender o tempo da pandemia e escrever a história, registrar os estragos e as dores que causou à humanidade e a cada um de nós em particular. O ano de 2020 iniciou com sua rotina normal, muitos usufruíam das férias, se banhavam em rios, piscinas ou nas águas do mar. Nenhuma festa em suspensão. Em fevereiro, a luz vermelha se acendeu e o pânico se derramou sobre o mundo todo.

As primeiras notícias vindas da China nos impactavam. Cidades grandes em total recolhimento, em silêncio assustador. Como assim? Logo a seguir, vieram imagens desesperadoras da Europa. A Itália não conseguia acolher os intermináveis enfermos, que morriam sem atendimento e, depois de empilhados em frigoríficos, eram sepultados em valas comuns, com cenas verdadeiramente de confranger o coração.

Não demorou para vermos a réplica dessas imagens em nossa terra. Em Manaus, as pessoas morriam sufocadas, não havia oxigênio para preservar a vida. Sepulturas eram abertas com retroescavadeiras. Os familiares, arrasados de dor, observavam de longe os entes queridos sendo enterrados.

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A pandemia foi devastadora. A economia estagnou, lojas fecharam, restaurantes não atendiam, escolas e igrejas ficaram em silêncio, sem livros e sem orações. As pessoas, com medo umas das outras, se recolheram aos lares, portas e janelas se cerraram, tentando impedir que esse vírus mortal adentrasse as casas.

Quase todos falavam que depois disso o mundo seria melhor, que esse grande susto levaria a mais solidariedade, a mais respeito, a mais paz, a mais amor. Mas, já ao tempo, houve quem explorasse a dor, superfaturando equipamentos, comprando o desnecessário, apropriando-se desonestamente de auxílios emergenciais, mais adiante desviando vacinas. Hoje, atenuado o medo, muito já voltou ao mesmo cenário de antes, ou até pior. Parece que dá uma certa paz ao coração saber que os mortos não estão passando de duzentos ao dia. Há quem continue acreditando que a pandemia foi um drama inexistente, que os 650 mil brasileiros mortos foram invenção da imprensa.

Quantas pessoas queridas partiram nesses dois anos e sequer pudemos nos despedir, abraçar e confortar amigos, consolar quem tanto ficaria bem com a nossa presença. Mais triste ainda é saber que alguns perderam a vida por terem apostado mais nas falsas informações do que acreditar na ciência, negando a eficácia da tão esperada vacina que milhões de vidas já preservou.

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Entre tantas experiências difíceis desse tempo esteve a de ficar distante principalmente dos familiares. Embora dura, essa decisão foi um gesto de amor e, repetida por milhares de outras famílias, com certeza, contribuiu para impedir a disseminação da doença. Em nossa família, por longo tempo respeitamos o distanciamento.

Num domingo de sol, resolvemos acolher uma parte dela. Estávamos com muita saudade. No pátio, debaixo de uma laranjeira, pusemos uma mesa, cadeiras, talheres. Não abraçamos nossos netos, apenas trocamos olhares e palavras, o que já atenuou a nossa ausência. Alcançamos o churrasco, as saladas, as bebidas. Mas, muito mais do que isso, alcançamos nosso carinho, nosso afeto, retribuídos da mesma forma, que é o que faz a vida valer a pena. Um pouco mais adiante, com segurança, voltamos a nos encontrar com todos, convictos de que nossa decisão, apesar de dolorida, foi correta. Nunca duvidamos da vacina e nunca perdemos a nossa fé.

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