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a vida no bairro

Bairro Dona Carlota: uma história que vem do século 19

Foto: Rafaelly Machado

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Em direção a Rio Pardo, pela BR-471, mas ainda em território santa-cruzense, dobrando-se à direita e seguindo pela Rua Victor Frederico Baumhardt, chega-se ao Dona Carlota. O bairro, hoje parte do que se conhece por Distrito Industrial, desenvolveu-se no ritmo em que as grandes empresas foram se instalando no município. 

Casa de gente trabalhadora e também lar de grandes negócios, o Dona Carlota tem, oficialmente, 2.080 habitantes, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010. No entanto, o levantamento está, sem dúvida, bem ultrapassado. Afinal, alguns anos depois teve início a ocupação das mais de 900 residências do Loteamento Viver Bem, que faz parte do bairro.

Foto: Rafaelly Machado

Além disso, é no Dona Carlota, também, que está situada a Usina Municipal de Resíduos de Santa Cruz do Sul, administrada pela Coomcat.

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Delimitações

Inicia em um ponto localizado na margem sul do Arroio das Pedras, no limite leste da Zona de Alagamento, instituída pelo Plano Diretor, seguindo pela mencionada margem, no sentido leste, por linha irregular, até encontrar um ponto coincidente com o limite oeste da Zona Industrial, instituída pelo Plano Diretor, seguindo por este limite, no sentido sul, até encontrar um ponto localizado na margem norte do Arroio Levis Pedroso, seguindo por esta margem, em linha irregular, no sentido oeste e sul, até encontrar um ponto localizado na confluência do Arroio Levis Pedroso com o Arroio das Pedras, de onde segue, pela margem leste deste, em linha irregular, no sentido norte, até encontrar o ponto inicial.” – Trecho da Lei Ordinária 8714, de 14/09/2021.

Histórico

O bairro da Zona Sul de Santa Cruz leva este nome como referência a Carlota Pedroso Barreto Lewis. O sociólogo Iuri João Azeredo, que fez um levantamento sobre a história do bairro, destaca que ela é uma das pouquíssimas mulheres referidas em topônimos e logradouros da cidade. Descendente de famílias de poder e posses em Rio Pardo e no Rio Grande do Sul, Carlota casou com o norte-americano Guilherme Lewis Green, por volta de 1840, tendo 12 filhos. O avô de Carlota foi o paulista João Pedroso de Albuquerque, que se estabeleceu por volta de 1790 em Rio Pardo, casando com Maria Benedita. O filho do casal, Manoel Pedroso de Albuquerque, pai de Carlota, era tenente-coronel e tinha o título de Visconde de Alegrete. Foi premiado com uma imensa sesmaria que, atualmente, em parte, estaria em território santa-cruzense.

O professor de sociologia diz que o marido de Carlota, Lewis, foi o empreiteiro da primeira igreja católica de Santa Cruz. “Tinham muitos bens, terras pela região onde hoje fica a cidade. Daí o nome do bairro, loteado em cima de parte de suas propriedades originais. Essa foi umas das primeiras famílias a construírem casa e se instalarem na então São João da Santa Cruz”. Conforme o sociólogo, o casal era proprietário de escravos, como toda gente abonada da época. “Anos depois, na morte do marido, em 1867, foi necessário fazer um inventário oficial em Rio Pardo. Carlota foi quem procurou o tabelião e o trabalho parece ter durado meses até estar tudo certo. O filho mais velho do casal estava no Paraguai, onde se desenrolava a guerra, sendo impossível localizá-lo para que assinasse os papéis”.

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Chama atenção, segundo Azeredo, que na listagem de bens arrolados por Carlota, além de terras, casas, animais e móveis, estão três escravos, com nomes, mas não sobrenomes: Gonçalo, de 55 anos; Manoel e Pedro, ambos de 21 anos de idade. “Ou seja, seres humanos como propriedade, ‘em papel passado’, algo tratado com toda naturalidade”, relata. A pesquisa do sociólogo aponta, também, que Dona Carlota teria morrido pobre, morando na humilde casa de uma das netas.

Giro pelo bairro

Foto: Rafaelly Machado

Lugar para bons negócios

O empresário Élio Policena, proprietário da Carrocerias Policena, volta no tempo para contar como tudo começou, há 32 anos. A empresa foi a primeira a se instalar naquela área do Distrito Industrial, na divisa entre os bairros Rauber e Dona Carlota. “Eu fui na Secretaria da Indústria e Comércio porque, quando comecei essa oficina, estava num lugar bem acanhado, bem difícil. Era bem pequeno e apertado, e eu trabalhava com veículos grandes. Então, eu fui lá para pleitear um auxílio, para que a Prefeitura me ajudasse a tocar meu negócio. Eu prestava assistência para várias transportadoras, considerava que meu negócio era importante para a cidade, e era”, relembra. 

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O empresário conta que não foi muito bem recebido, mas o nome ficou anotado por lá. “A Prefeitura dava a infraestrutura e o dono (João Dick) nos vendia por um preço bem acessível, e eu consegui comprar parte da área”. Um ano depois, ainda era necessária mais uma parte de terra, principalmente devido ao trabalho com grandes veículos. “Apareceu mais um terreno, mais outro e mais outro, e eu comprei. Porque naquelas alturas do campeonato o negócio fluiu melhor e eu pude comprar”, observa Élio Policena.

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O engenheiro da empresa, Leandro Policena, trabalha e reside no local e comenta que, embora seja um lugar próspero, com muitos negócios, ainda deixa a desejar nos quesitos segurança e infraestrutura. De uns anos para cá, as coisas pioraram. “Sexta e sábado de noite e domingo de tardezinha a questão do trânsito é ruim, motos e carros fazem muito barulho. O bairro cresceu desproporcional às condições das vias de trafegabilidade”, frisa.

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Além desse problema, o engenheiro cita também que falta uma escola de Educação Infantil no local, além de um local de lazer, como uma praça. “Não temos uma creche aqui e o número de empresas é considerável, as vias não têm sinalização, a ciclovia foi feita e não passou por uma manutenção e tem locais em que o esgoto corre a céu aberto. O bairro cresceu, mas a infraestrutura não acompanhou”, acrescenta.

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Para Leandro Policena, o lado bom é o número crescente de micro e pequenas empresas de diferentes ramos. “Isso gera emprego e renda. São quase mil empregos gerados diretamente aqui, tudo com negócios diversificados.”

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Morador há mais de 25 anos

Foto: Rafaelly Machado

O caminhoneiro Antonio Duré, de 56 anos, fixou residência na Rua das Oliveiras, no Bairro Dona Carlota, há mais de 25 anos. Ele relata que foi o segundo morador da rua, a qual, na época, era praticamente um descampado. O proprietário do Areial Duré acha o bairro calmo e bom de morar. “É bem tranquilo. Eu tive um mercadinho aqui também, mas fechei, daí fiquei só no caminhão”, comenta.

Foto: Rafaelly Machado

O Viver Bem do bairro

Há cinco anos, a monitora de transporte escolar Angela Severo, de 53 anos, mora no Residencial Viver Bem, no Bairro Dona Carlota. Ela foi uma das mais de 900 contempladas com casas financiadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Antes, Angela morava de aluguel no Bairro Avenida e, com o valor que economizou durante esses anos, conseguiu até fazer algumas reformas no imóvel e aumentar o tamanho da residência. 

Angela comenta que, logo que chegou no local, havia mais problemas do que agora. Para ela, o Dona Carlota melhorou muito e está mais tranquilo para viver. “Agora está bom, não vemos mais tanta violência como antigamente. Ainda tem, como em todo lugar”. Porém, uma das questões que incomoda é a falta de uma praça no bairro. “A gurizada joga bola no meio da rua, anda de skate, de bicicleta. Uma praça seria um ambiente para eles brincarem”.

Além disso, ela ressalta que o movimento de veículos é intenso. Por isso, são necessários quebra-molas nas ruas do loteamento. “Já foi solicitado, já fizemos abaixo- assinado. Tem um fluxo muito grande de crianças. Então, é bem importante, já teve casos de atropelamentos. As motos passam muito rápido aqui”, observa.

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