Quem estuda a literatura brasileira ou lê o que de melhor e mais importante já se publicou no País não terá como se desviar de Morte e vida severina, uma das obras-primas em língua portuguesa, entre outros livros referenciais. Logo, não poderá ignorar seu autor, o pernambucano João Cabral de Melo Neto. Falecido há mais de duas décadas (em 9 de outubro de 1999, aos 79 anos), esse poeta, que também fez carreira como diplomata, ainda não merecera uma biografia à altura de sua relevância.

Ainda. Porque a lacuna finalmente foi preenchida. Bem preenchida. Doutor em Literatura Brasileira e professor da Universidade de São Paulo (USP), Ivan Marques assumiu a si a tarefa. Em sólida e caprichosa obra, de 560 páginas, ilumina a trajetória pessoal, autoral e profissional. João Cabral de Melo Neto: uma biografia acaba de chegar pela Todavia, a R$ 109,90.

O mote, claro, foram as comemorações do centenário de nascimento do poeta, em 2020 (nasceu em Recife, em 9 de janeiro). Biografia clássica, aborda a formação ampla de João Cabral, um filho da aristocracia pernambucana que, no entanto, foi perseguido por sua aproximação com os ideais comunistas em meados do século 20, quando já servia no Itamaraty. O que certamente será do agrado do leitor da biografia (e tende a ser convite a prontamente ler e reler a poesia do mestre) é que, a par da propalada aridez ou austeridade de seus versos (dito poeta da pedra), sua poesia é de uma ternura, de uma profundidade e de uma perenidade raras. Se a sua palavra é de pedra, é de pedra preciosa.

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