As palavras do mais famoso primeiro-ministro britânico – político exageradamente dramático nos discursos e nas atitudes, mas, mesmo assim, um ótimo frasista – parecem refletir bem a situação atual com relação ao advento da inteligência artificial como realidade palpável e inevitável.
Na virada do milênio, a empresa para a qual eu trabalhava me transferiu para os Estados Unidos. Regularmente, a lista com os números de celulares dos mais de 1.200 funcionários da sede mundial era atualizada. Para perplexidade geral, eu precisava informar ser o único funcionário que não tinha um aparelho móvel. Após alguns meses, meu chefe colocou um celular sobre minha mesa e disse: “Use-o. Não é opcional”.
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O primeiro modelo comercial de um telefone celular aconteceu em 1984. A invenção de Martin Cooper, da Motorola, pesava mais de um quilograma e custava o equivalente a R$ 68 mil. Até meados dos anos 1990, havia um certo ceticismo quanto à sua utilidade e praticidade. No final daquela década, porém, a adoção generalizada chegou como uma avalanche e, menos de duas décadas depois, já havia mais telefones celulares habilitados do que habitantes no planeta.
Grandes avanços tecnológicos e culturais têm um padrão de comportamento semelhante. No início, a expectativa é muito maior que a realidade, causando certa decepção. Em determinado momento, um ponto de inflexão inverte a situação e as possibilidades superam a imaginação popular. Hoje, fazer uma ligação telefônica pelo celular já é visto pelas novas gerações como um recurso obsoleto e até constrangedor.

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A inteligência artificial parece estar nessa fase inicial da curva de expectativa. O termo está na boca de muitos, mas é raro encontrar alguém que realmente entenda o que ela significa e que impactos pode ter na humanidade. Frequentemente, é confundida com aprendizado automático de programas (machine learning), o que, embora seja útil, não se trata de inteligência, já que não segue evoluindo e não cria uma estratégia própria.
O atual uso rudimentar pelo público de uma protoinfância de inteligência artificial, que gera textos e imagens baseada em informações públicas, está longe do autoaperfeiçoamento que a verdadeira inteligência artificial representa. O ponto de inflexão, contudo, está muito próximo e, possivelmente, será uma questão de meses, e não anos.

É um caminho freneticamente irreversível, a menos que alguma catástrofe natural ou humana impeça. As consequências de termos pela primeira vez na história um conjunto de agentes com inteligência inorgânica superior à coletividade humana são imprevisíveis e incontroláveis. Um dos maiores pensadores no assunto, o intelectual Yuval Noah Harari, compara o impacto com uma invasão de uma forma alienígena de inteligência, que transformará a raça humana em algo diferente do Homo sapiens nas próximas décadas.
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Reflexões sobre a inteligência artificial não são novas. A principal razão de ela ter se tornado uma realidade é termos criado a capacidade computacional necessária. Esta, para ser viável, necessita de um alimento imprescindível: uma enorme quantidade de energia. Grandes empresas de tecnologia estão ávidas por energia elétrica e sabem que o maior custo da inteligência artificial é energético. Não é por acaso que a Google, recentemente, investiu sozinha em uma usina nuclear de 1,8 gigawatts nos Estados Unidos.
A humanidade tem uma longa história de inteligência natural. Crianças absorvem a cultura em que vivem e o que lhes é ensinado, antes de partirem para a vida adulta onde, espera-se, sigam refletindo e reinventando sua própria identidade e seu destino. Diferentemente da inteligência mortal de carbono a que estamos habituados, cérebros de silício não têm carga genética original nem prazo de validade, e suas redes neurais, pelo menos em teoria, não podem agir contra sua própria natureza. Rapidamente, estamos entrando em um território completamente desconhecido. (continua)
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