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Cultura

Livro lança luz sobre a contribuição afro no Brasil

Matheus Lima (e) é de Vitória da Conquista, e Mateus Skolaude reside em Santa Cruz

Uma obra que acaba de ser lançada, iniciativa de dois pesquisadores, um gaúcho e outro baiano, direciona luz oportuna sobre os estudos relacionados à problemática racial e à contribuição africana no Brasil. O livro Entre escritos e eventos: Gilberto Freyre e o Congresso Afro-Brasileiro é de autoria do cachoeirense Mateus Silva Skolaude, radicado em Santa Cruz do Sul, doutor em História e pós-doutor em Educação, professor do Departamento de Ciências, Humanidades e Educação da Unisc, e do baiano Matheus Silveira Lima, doutor em Sociologia e pós-doutor em Ciência Política, professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Vitória da Conquista, por cuja editora universitária o texto foi acolhido.

Ainda que, diante das restrições motivadas pela pandemia e da distância entre as localidades nas quais residem os dois investigadores, não tenha sido programado lançamento presencial, a obra, de 106 páginas, já pode ser adquirida em livrarias físicas e virtuais. Em Santa Cruz, exemplares estão disponíveis na Iluminura, ao preço de 20,00. Futuramente, e quando viável, os autores pretendem cumprir roteiro de divulgação ou com sessões de autógrafos em suas respectivas regiões.

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O subtítulo do livro, ao tempo em que remete para o evento em debate, o 1º Congresso Afro-Brasileiro (CAB), já sinaliza para o destaque dado a um grande intelectual brasileiro, o pernambucano Gilberto de Mello Freyre, nascido em Recife em 1900 e falecido na mesma cidade em 1987, aos 87 anos. Foi Freyre, o autor de Casa Grande & Senzala, quem liderou a realização, de 11 a 16 de novembro de 1934, meses após ter lançado sua obra depois tão referencial, do 1º CAB, e em sua terra natal. Um amplo espectro de especialistas, estudiosos, artistas e lideranças de variadas áreas (história, religião, gastronomia, entre outras) se encontrou para debater o espaço e as contribuições de negros e mestiços à socioeconomia nacional.

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A partir de Casa Grande & Senzala, e em oposição a uma corrente de adeptos do pensamento eugênico que, naquele entre-guerras, insinuava uma supremacia de brancos sobre as raças de cor (negros, pardos, amarelos, mestiços em geral), Freyre entendia que a miscigenação, longe de ser problema, era fonte e causa de riqueza na formação social e cultural brasileira. Estabeleceu-se rivalidade entre pernambucanos e baianos no tom de artigos e debates, e até um gaúcho, militante social da Frente Negra Pelotense, se fez presente.

Os dois volumes dos Anais com as palestras do 1º CAB, analisados pelos pesquisadores, afirmam-se como importante subsídio para o estabelecimento de reflexão sobre o grau efetivo de inclusão social dos afrodescendentes. Pelas reações verificadas, também na imprensa, dentro e fora do País, houve uma segunda edição do CAB, esta em Salvador, na Bahia, em 1937. E, afinal, um terceiro Congresso Afro-Brasileiro viria a ocorrer, mas somente em setembro de 1982, quase meio século depois do primeiro, novamente em Recife, quando Freyre estava com 82 anos. Desta terceira edição o emérito autor de Casa Grande & Senzala foi o presidente de honra, e seu filho Fernando de Mello Freyre era um dos coordenadores.

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Pesquisa realizada em Portugal

A pesquisa sobre o 1º Congresso Afro-Brasileiro, dentro de suas temáticas de interesse em educação, raça, racismo, multiculturalismo e identidade cultural e nacional, motivou Mateus Skolaude a elaborar artigo para um seminário durante a pós-graduação quando atuava como investigador visitante na Universidade de Coimbra, em Portugal, em 2015.

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E foi no Congresso Luso-Afro-Brasileiro, em Lisboa, em 2015, que conheceu e passou a ter como interlocutor o professor Matheus Silveira Lima, que trabalhava igualmente como investigador visitante no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O livro em grande medida decorre da adaptação que Skolaude empreendeu em seu texto acadêmico daquele colóquio, adequando-o para a publicação. A esse conteúdo o seu xará, Matheus Silveira Lima, com sua bagagem em Sociologia e Ciência Política, deu sua contribuição teórica, e com um olhar a partir da realidade baiana, portanto mais próximo do ambiente da mobilização e da tensão havidas na década de 1930 entre as correntes baiana e pernambucana.

Juntos, recuperam não apenas a importância da realização do 1º CAB, com sua projeção sobre o avanço, nas décadas seguintes, dos estudos e das pesquisas envolvendo a presença afro no Brasil. Ao natural, também iluminam o papel de Gilberto Freyre para a compreensão dessa problemática, e, ao lado dele, de outros investigadores, das mais variadas áreas, atualizando tal legado para a compreensão social, cultural e econômica dos afrodescendentes no Brasil de hoje.

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Em linhas gerais, o início da década de 1930 teve como característica o confronto de duas correntes de pensamentos distintas. Por um lado, pensadores como Roquette-Pinto e Gilberto Freyre, sob influência do culturalismo do antropólogo Franz Boas (1858-1942), enfatizavam que o problema que assolava o homem brasileiro não deveria ser atribuído à miscigenação, ressaltando que a diversidade racial e cultural existente no Brasil contribuía para aumentar a harmonia e a singularidade da civilização nacional. Por outro, um grupo de eugenistas manifestava sua admiração à ‘eugenia negativa’ propagada nos Estados Unidos e na Alemanha. Nesse campo, destacavam-se pensadores como Oliveira Viana, Leonídio Ribeiro e Renato Kehl.”

Ficha

Entre escritos e eventos: Gilberto Freyre e o Congresso AFRO-BRASILEIRO, de Mateus Silva Skolaude e Matheus Silveira Lima. Vitória da Conquista (BA): Edições UESB, 2021. 106 p. R$ 20,00.

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