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Mortes indignas

É inegável que a medicina avançou muito nestas últimas décadas. Novos exames, novos tratamentos, maior expectativa de vida. Mas apesar de todos esses avanços, uma coisa não mudou (e nunca mudará): todos iremos morrer. Morrer faz parte do ciclo biológico de qualquer ser vivo. E nós, seres humanos, não somos diferentes.

A Medicina tem como um de seus objetivos principais evitar as mortes evitáveis e precoces. Quando elas acontecem, muitas vezes invertendo a ordem natural da vida, o sofrimento é abrupto e intenso. Para aqueles que vivem longos anos, o inexorável crepúsculo da vida chega. E infelizmente muitas dessas pessoas acabam tendo mortes indignas.

Esta percepção provém de experiências pessoais e profissionais, onde muitas vezes o processo de morte acaba sendo penoso, longo, sofrido, caro e desgastante. Em algumas situações, esse processo descaracteriza totalmente como a pessoa que está morrendo foi em vida, num longo velório extenuante. E isso é um luto duplo. Perde-se o familiar e perde-se o “paciente” cuidado.

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Além de evitar mortes evitáveis, é compromisso da Medicina promover uma morte tranquila. E é aqui que infelizmente ainda falhamos muito. As pessoas ainda sofrem demais. Seja por onipotência médica, interesses econômicos ou previdenciários, egoísmo, dependência emocional ou apego excessivo da família, muitas pessoas idosas, sem vida de relação, sem consciência e sem perspectiva, são mantidas “vivas”. Fazem cirurgias, tratamentos dispendiosos, consomem UTI a preços aviltantes. Com qual objetivo?

Eutanásia é quando se toma alguma ação para acelerar o processo de morte e ela é proibida no Brasil. Ortotanásia é quando deixamos a natureza patológica seguir seu curso, com conforto, analgesia e tranquilidade, para aqueles pacientes sem chance de se recuperar ou quando o tratamento gera mais dano do que a doença. A ortotanásia deveria ser a regra, mas infelizmente não é.

O medo de ter uma morte sofrida faz muitas pessoas contemplarem o suicídio. E muitas o cometem. Aliás, é após os 55 anos que a incidência de suicídio aumenta drasticamente. Talvez em parte seja esse medo de ter uma morte indigna. Tanto que alguns países permitem um suicídio assistido, em condições bastante específicas e com critérios definidos. Paradoxalmente, ter a opção de terminalidade da vida de uma forma humanizada reduz os índices de suicídio.

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Não acredito que no Brasil seja necessário autorizar eutanásia ou suicídio assistido. Mas tenho certeza que deveríamos adotar e propagar a ortotanásia como o padrão para lidarmos com a morte, a fim de que ela seja encarada como parte de nosso ciclo biológico. É certo que ela chegará. Tomara que não de forma evitável ou precoce. Mas menos ainda de forma desumana e indigna.

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