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Literatura

O mais completo retrato dos primeiros anos da presença alemã no RS

Tela de Ernst Zeuner (1895-1967), pintor, desenhista e ilustrador alemão que se radicou no Brasil, e que retrata a chegada dos primeiros imigrantes a São Leopoldo

Se há uma obra que pode ser compreendida como a contribuição definitiva sobre o primeiro movimento da colonização alemã no Brasil, em especial a ocorrida no Rio Grande do Sul, esta é a que foi elaborada pelo historiador e pesquisador Carlos Henrique Hunsche. Em vida, além de diversos livros sobre estudos genealógicos e de família, ele deixara dois sólidos volumes dedicados à imigração ocorrida para São Leopoldo nos anos de 1824, 1825 e 1826, de consulta indispensável para todos os que estudam esse tema.

Com o seu falecimento, em 1986, a sua esposa, Maria Astolfi, tomou a si a tarefa de organizar e sistematizar o material com o qual Hunsche trabalhava a fim de completar seu olhar sobre todo o período inicial da colonização, subsidiada pelo governo brasileiro, e que se estendeu até 1830. Graças ao esforço de Astolfi, esse farto e valioso material foi publicado em mais três volumes, num total de 1.814 páginas, em 2004, no contexto das comemorações dos 180 anos de imigração alemã para o Brasil.

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Os pioneiros da imigração germânica para o Sul do Brasil

Nos dias atuais, seria praticamente impossível compreender plenamente o contexto dos primórdios da colonização alemã na região de São Leopoldo sem a contribuição deixada pelo pesquisador e historiador Carlos Henrique Hunsche. Quando ele faleceu, em 13 de março de 1986, então em uma nova viagem de estudos à Alemanha, deixou publicados dois sólidos e definitivos volumes nos quais relaciona não só os fatos marcantes associados à vinda dos pioneiros, como a relação completa de todos eles.

O biênio 1824/25 da Imigração e Colonização no Rio Grande do Sul, de 1975, e O ano de 1826 da Imigração e Colonização no Rio Grande do Sul, de 1977, são, desde o seu lançamento, obras de consulta obrigatória para todos que se dediquem a estudar ou investigar o tema da colonização europeia no Sul do Brasil. Foram editados, na época, pela Metrópole.

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Escritor Carlos Henrique Hunsche

Ali, ele compartilha as informações que reunira em arquivos históricos, bibliotecas e acervos na Alemanha e no Brasil, relacionados às primeiras levas de imigrantes. Estava, na época, próximo dos 60 anos. Ele nascera em 25 de julho de 1913, em São Sebastião do Caí, neto de um dos primeiros pastores a vir exercer essa função nas áreas de colonização alemã no Estado.

Por sinal, ele próprio destinava-se a seguir essa mesma missão, certamente por influência do avô. Assim, foi enviado à Alemanha para estudar Teologia, em Leipzig. Mas não era essa a área para a qual estava vocacionado. Entusiasmado pelas leituras que fazia, acabou por se interessar por Filosofia e Letras, mesmo correndo o risco de perder os subsídios que a família lhe enviava para sua subsistência. Acabou, sim, por se doutorar pela Universidade de Filosofia e Letras de Berlim, em 1938. Em paralelo, já iniciara as suas pesquisas associadas à imigração alemã para o Sul do Brasil.

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Ainda na Alemanha também se casou, tendo dois filhos. Após a Segunda Guerra Mundial, Hunsche fixou-se em Buenos Aires, onde lidou com a exportação de madeiras do Brasil para a Argentina, e ainda para a Alemanha e outros países. E já publicara os seus primeiros livros, com o resultado de suas pesquisas em genealogia.

Uma relação de parceria que nasceu em meio às pesquisas

O pesquisador Carlos Henrique Hunsche retornara da Argentina para o Brasil em 1973, justamente no período que antecedia as comemorações do sesquicentenário da imigração alemã para a região de São Leopoldo, a transcorrer no ano seguinte. Estimulado pelo clima festivo e com os materiais, muitos deles inéditos, que reunira em acervos tanto em sua temporada na Alemanha quanto em arquivos brasileiros, empenhou-se em participar de um concurso de monografias com temáticas sobre a colonização germânica no Rio Grande do Sul. Venceu esse certame, com a pesquisa que foi imediatamente publicada como o primeiro de seus livros essenciais, O biênio 1824/25 da Imigração e Colonização no Rio Grande do Sul.

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Logo após, ampliou e estendeu essa investigação, a partir do farto material de que ainda dispunha. Assim, em 1977, publicou O ano de 1826 da Imigração e Colonização no Rio Grande do Sul. Justamente nesse contexto, de concretização dessas obras, ingressara em sua vida a professora Maria Astolfi, nascida em 1934, em Guaporé, e que estava por volta de seus 40 anos. Ela auxiliara na revisão dos dados do primeiro desses livros. Como Maria passava temporadas no Rio de Janeiro, em visita a uma irmã, Hunsche solicitara que ela fizesse, para ele, pesquisas no Arquivo Nacional.

Ainda que ela atuasse como professora de português, em Novo Hamburgo, a afinidade em torno dos temas históricos e de genealogia (Maria já pesquisava sobre a sua própria família) contribuiu para que a relação entre ambos se fortalecesse e perdurasse nos anos seguintes, até o falecimento do pesquisador, em 1986. Nesse ano, ele novamente havia viajado à Alemanha, para dar sequência a pesquisas e também para se submeter a um tratamento médico. Lá morreu de maneira fulminante, ao que tudo indica vitimado por um AVC.

Maria Astolfi e Carlos Henrique Hunsche atuaram juntos na pesquisa

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Maria Astolfi empenhou-se em concluir obra de Hunsche

Logo após vencido o luto em virtude da perda de seu companheiro de vida, em 1986, Maria imediatamente tomou a si a tarefa de concluir a obra dele, que ficara interrompida. Ela acompanhava, na época, o esforço que ele empreendia para contemplar o restante do primeiro período efetivo de colonização na região de São Leopoldo, e que se estendia até 1830, quando o Império brasileiro deixara de investir na vinda de novas levas de imigrantes alemães.

Assim como havia se ocupado de todas as peculiaridades dos primeiros três anos da chegada das famílias, com a relação dos imigrantes e suas informações gerais de origem, navios em que viajaram e relações de parentesco e de casamentos já na nova terra, Hunsche também reunira vasto material sobre os quatro anos seguintes, de 1827 a 1830. Era esse conjunto que ele havia submetido a um pesquisador, em São Paulo, e que só aguardava pela posterior sistematização de dados, correções ou complementações. Acabou falecendo antes de reaver esses originais.

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Uma das primeiras providências de Maria Astolfi, conforme contou ao jornalista e pesquisador Felipe Kuhn Braun, em uma entrevista gravada em vídeo para a série Unsere Familien, que este elabora, foi justamente viajar a São Paulo para se encontrar com o amigo do seu marido. Este então lhe repassou todos os apontamentos feitos no manuscrito.

“Com essas indicações, para mim foi possível, ao longo dos anos seguintes, dar formato final ao conjunto, que resultou em O quadriênio 1827-1830 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul, finalmente publicado em 2004, em três tomos, dando por concretizado o imenso legado de Hunsche para os estudos históricos sobre imigração germânica no Estado”, frisa Maria.

Maria Astolfi, em vídeo de entrevista que concedeu a Felipe Kuhn Braun

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Uma fonte de consulta hoje obrigatória

Os cinco volumes sobre imigração e colonização alemã que resultaram das exaustivas pesquisas de Carlos Henrique Hunsche, os três últimos deles efetivados por esforço de sua esposa, Maria Astolfi, são de consulta obrigatória para todos os que pretendem compreender mais a fundo as circunstâncias da vinda das primeiras famílias germânicas ao Rio Grande do Sul. As listas de passageiros de navios, e de colonos, com informações valiosas sobre a sua biografia e genealogia, permitem que não apenas na colônia pioneira como em todas as demais seus dados sirvam de referência.

Nos três volumes dedicados ao quadriênio 1827-1830, por exemplo, há muitas indicações, muitas fotos e documentos sobre famílias que posteriormente, um quarto de século mais tarde, se fixariam em Santa Cruz ou na região. Ou porque se mudaram para essa nova colônia, no Vale do Rio Pardo, ou porque estabeleceram laços por casamento ou parentesco com famílias que se fixaram em Santa Cruz, esse intertexto é valioso. E, no final, paira uma lacuna: é de lamentar que nunca tenha sido efetivada uma pesquisa similar à de Hunsche também sobre os primórdios da Colônia de Santa Cruz.

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Hunsche: milhares de páginas sobre imigração

A Bíblia da imigração e da colonização alemãs

O BIÊNIO 1825/25 remete o leitor para a atmosfera da colonização alemã na região da atual São Leopoldo, à margem do Rio dos Sinos. Exemplares hoje são encontrados de forma esporádica em sebos e livrarias especializadas, e a partir de lá disputados a peso de ouro. Valeria, no contexto do bicentenário da imigração alemã, em 1824, providenciar uma nova edição, a fim de popularizar e difundir esse material agrupado por Carlos Henrique Hunsche em 1975 junto às gerações atuais. Essa obra é de interesse não apenas de historiadores e estudantes, mas particularmente de leitores de todas as áreas, interessados em saber mais sobre as primeiras famílias alemãs que chegaram ao Estado, e seus descendentes.


O ANO DE 1826 dá continuidade ao esforço empreendido por Hunsche e referente aos dois primeiros anos de fixação de germânicos imigrados na atual São Leopoldo. São essas famílias que, ao longo das décadas seguintes, contribuíram para mudar por completo o perfil socioeconômico, educacional, religioso e cultural não só do Sul do País, como, de certo modo, todo o mosaico cultural brasileiro. Afinal, com seus conhecimentos então privilegiados, obtidos na Europa, transpuseram para o Sul do Brasil um espírito empreendedor na agricultura, na indústria e no comércio, que alterou de forma drástica o panorama de desenvolvimento do Rio Grande do Sul.


O QUADRIÊNIO seguinte da década de 1920, associado à imigração alemã para São Leopoldo, descortina um olhar, cuidadosamente sistematizado pela professora Maria Astolfi, sobre o primeiro movimento oficial de colonização europeia, empreendido pelo Império brasileiro. Por ordem alfabética, estão contempladas todas as famílias que emigraram, com amplo conjunto de fotografias e documentos obtidos junto a famílias. Muitos desses materiais fazem referência direta a Santa Cruz do Sul, mencionando famílias como
Tatsch, Trein, Adamy e Niehterwitz, que posteriormente se tornaram tradicionais em toda a região. Ao todo, são mais de 1.800 páginas de informações referenciais.

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