Dizem que o jornalista de verdade é aquele que vai lá e põe “o pé no barro”. Nós ainda não sabemos se esse é o real parâmetro que define um profissional, mas podemos dizer que já vivenciamos essa experiência. Literalmente.
Em um trabalho de faculdade, para o projeto COMverso – lançado nesta semana –, percorremos a RSC-287, juntamente à nossa colega Bruna Weis. O objetivo era produzir uma reportagem sobre a duplicação da rodovia e os impactos das obras aos moradores e empreendedores das margens do asfalto. Ao todo, foram mais de 400 quilômetros percorridos, entre ida e volta, cobrindo todo o trecho concedido entre Tabaí e Santa Maria.
Em alguns pontos, os trabalhos ainda não começaram; em outros, a lama e o barulho das máquinas já tomam conta do cenário. Um desses lugares é Tabaí, pequeno município do Vale do Taquari, que marca o início do trecho a ser duplicado da RSC-287. Lá, a previsão de conclusão dos trabalhos é para agosto. As obras estão em estado avançado, mas com transtornos constantes para a população. Desapropriações e desocupações, solicitações não atendidas, valetas abertas e uma larga camada de lama que tomou conta da beira da rodovia.
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Conforme conferíamos a situação das casas e conversávamos com os moradores, percebemos que não se tratavam somente de entrevistas. Era preciso observar os detalhes e escutar atentamente. Cada parada rendia mais do que respostas técnicas, nos oferecia histórias que vão muito além da superfície. Histórias de fé, de luta e resistência.
Como a da ministra de uma igreja em Tabaí, que enfrenta a exaustão para deixar o templo minimamente preparado para a missa de domingo. Ou então da mulher que teve a parte da frente de sua casa demolida e há três anos aguarda a indenização. Ou da senhora com problemas de saúde que nem sabe ao certo se a ambulância vai conseguir parar na frente da sua residência quando precisar. Ou do casal que precisou deixar seu portão aberto 24 horas por dia para simplesmente garantir que os moradores de certa parte da cidade pudessem chegar a suas casas.
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E essa foi apenas uma parte da nossa jornada, marcada pelos depoimentos e olhares sinceros de quem convive, dia após dia, com a incerteza do seu futuro em meio às obras. Aqueles relatos contundentes, na verdade, eram pedidos de ajuda, gritos de esperança em meio ao caos que se faz necessário para viabilizar a duplicação. Foi ali que entendemos qual o verdadeiro papel do jornalista: ser uma voz.
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Voltar com o carro sujo e o tênis encharcado era só parte da experiência. Voltamos diferentes, com o olhar mais apurado, com a escuta mais sensível e com a certeza de que, para contar uma boa história, é preciso estar disposto a caminhar por onde poucos passam. Nosso papel não é apenas ser um observador passivo, que trata com naturalidade o desespero de famílias. É preciso ser tocado para que o seu trabalho possa tocar. Talvez seja isso, afinal, o tal “pé no barro”: uma metáfora viva de que, para entender de verdade o que se passa na vida das pessoas, o jornalista precisa estar lá. Presente. Com corpo, alma e coração.
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E voltar com boas histórias para contar.
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