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Quirguistão: cultura milenar e natureza preservada

Em um país com 90% do território coberto por montanhas, impressionaram-me as belíssimas paisagens, geleiras e milhares de lagos

O Épico de Manas é um poema de 500 mil versos que conta a história da unificação de 40 tribos nomádicas do povo quirguiz no século 9. “Qirguiz”, aliás, significa “os quarenta” na língua turcomana local. O líder de tal feito, Manas, é o maior herói popular dos seis milhões de habitantes deste pequeno país desprovido de costa marítima. O lendário ancestral tem várias estátuas na capital Bishkek (ou Bisqueque) e dá nome ao principal aeroporto do país.

Os quirguizes são o mais antigo povo de origem túrquica conhecido e viviam nas estepes do leste siberiano já no século 3. Em 840, a nação quirguiz migrou para o sul e se estabeleceu no território que hoje é o Quirguistão, dominando ainda uma vasta região que incluía a Mongólia, o sul da Rússia e partes do norte e noroeste chinês. No século 12, o império acabou dissolvido pela fúria imperialista de Gengis Khan.

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A partir dali, os quirguizes levaram uma vida pacata, dedicada à agropecuária e aos rituais xamânicos que emanavam dos yurts, tendas circulares até hoje em uso no interior do país. Em 1755, com os mongóis finalmente derrotados em outra frente pelos chineses, seguiu-se o reino (canado) uzbeque, que introduziu o islamismo em território quirguiz. Atualmente, cerca de 80% da população do Quirguistão é muçulmana.

Em 1876, a Rússia czarista avançou sobre toda a Ásia Central e o Quirguistão não foi exceção. Em 1936, formou-se a República Socialista Soviética Quirguiz, iniciando um período em que o país se modernizou e avançou economicamente. Em 1991, com a queda da cortina de ferro, a nação tornou-se independente, mesmo que contra a vontade da maioria da população. Nas três décadas seguintes, o país se viu mergulhado em crises políticas e corrupção, que culminaram em revoltas populares. A revolução das tulipas, em 2005, depôs o primeiro presidente, Askar Akayev, e em 2010, apesar da violenta repressão policial, o povo forçou o exílio do segundo mandatário, Kurmanbek Babiyev. Desde 2021, existe uma relativa estabilidade política.

Os quirguizes enxergam os anos do período comunista com certa reverência e ainda há estátuas de Lenin em destaque pelo país. As pessoas com quem conversei pelas ruas ou no imenso e animado Bazar Osh me explicaram que a União Soviética contribuiu para o desenvolvimento do país que, até então, era pobre e estagnado. Passado esse capítulo, o Quirguistão é hoje uma nação democrática com eleições livres.

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Na enorme Bishkek, onde moram um quinto dos habitantes do país, encontrei um povo muito hospitaleiro e simpático. Durante o período soviético, a cidade se chamava Frunze, em homenagem ao bolchevique quirguiz Mikhail Frunze. O revolucionário nativo da capital, que está sepultado na necrópole do Kremlin, em Moscou, era um fiel escudeiro de Vladimir Lenin e Leon Trotsky. Um interessante museu na região central de Bishkek leva seu nome e expõe lembranças e histórias da fase soviética.

Em um país com 90% do território coberto por montanhas, impressionaram-me as belíssimas paisagens, geleiras e milhares de lagos, que rendem ao país o apelido de Suíça da Ásia Central. O Quirguistão oferece cultura, aventura e belezas naturais aos poucos turistas que o visitam. O povo, talvez pela origem nômade e por sua relação milenar com a natureza, optou por preservar florestas e recursos hídricos em vez de devastá-los em nome de um míope desenvolvimento. Apesar de ter o segundo PIB per capita mais baixo da Ásia Central, não vi pobreza por onde andei. A vida rural de subsistência de boa parte da população e uma distribuição de renda bastante homogênea podem ser alguns dos motivos.

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Em muitos países, a frieza de indicadores econômicos mascara por vezes uma triste realidade de concentração de renda e de desigualdade social. No Quirguistão, vi opulência somente na arquitetura brutalista de museus, monumentos e prédios públicos. No dia a dia dos cidadãos, não percebi extravagância e consumismo. Nas palavras simples e nos olhos asiáticos dos atenciosos quirguizes, o que senti foi dignidade, consciência ambiental e contagiante serenidade.

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