“A pressa do mundo não combina com a delicadeza do crescimento interior” – Dulci M. P. Boetcher, em “Florescer com o tempo: a arte do Late Bloomer” (Gazeta do Sul, 11.11.25)
Vivemos num mundo em que eventos e festas se sucedem. Quase em modo contínuo somos conduzidos de um programa a outro. Pressa, compromissos, diversão, dispersão por cooptação pelo mundo virtual, sons ensurdecedores estão sempre na ordem do dia e por toda parte. Tudo nos convida, ou até mesmo nos impele, a vivermos numa superficialidade entorpecedora. Pouco nos volvemos à contemplação de nosso mundo interior, para pensarmos sobre a vida que vivemos. Em seu texto Pensar é transgredir, Lya Luft já nos alertava: “Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.”
Max Frisch, renomado escritor suíço, de quem eu elenquei – em texto anterior – alguns de seus questionamentos sobre a morte, também publicou diversos outros questionamentos sobre temas existenciais, como: amizade, casamento, lar, felicidade. Perguntas que estimulam reflexão e possibilitam ao leitor um contato com seus valores e crenças internas. Frisch e Luft nos incentivam a examinarmos criticamente a vida que vivemos. “Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores.” Lya Luft, em Pensar é transgredir.
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Da coletânea dos “Questionários” de Max Frisch seleciono algumas perguntas, entre seus diversos temas, e te convido a volver um olhar para o que te é deveras relevante em tua vida.
– Você se considera um bom amigo? – Halten Sie sich selbst für einen guten Freund?
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– Você tem um cachorro como amigo? – Halten Sie sich einen Hund als Freund?
– Você gostaria de se arranjar sem amigos? – Möchten Sie ohne Freunde auskommen?
– O que você percebe como traição? Quando o outro trai ou quando você trai? – Was empfinden Sie als Verrat: Wenn der andere es tut oder wenn Sie es tun?
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– Do que você precisa para ser feliz? – Was brauchen Sie, um glücklich zu sein?
– O que lhe falta para ser feliz? – Was fehlt Ihnen, um glücklich zu sein?
– O que é para você lar/ lugar de viver? – Was bezeichnen Sie als Heimat?
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– De qual esperança você desistiu? – Welche Hoffnung haben Sie aufgegeben?
– Você tem certeza de que realmente se importa com a sobrevivência da raça humana quando você e todos os seus conhecidos não estiverem mais entre nós? – Bist du dir sicher, dass dir das Überleben der Menschheit wirklich am Herzen liegt, wenn du und alle, die du kennst, nicht mehr unter uns weilen?
– O que significa para você felicidade em seu lugar de trabalho? – Was bedeutet für Sie Glück am Arbeitsplatz?
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– O que você não faria por dinheiro? – Was würden Sie nicht für Geld tun?
– Você teria preferido pertencer a uma outra nação (cultura) e qual? – Hätten Sie lieber einer anderen Nation (Kultur) angehört und welcher?
– Que idade você gostaria de atingir? – Wie alt möchten Sie werden?
– Você ama alguém? O que lhe faz chegar a esta conclusão? – Lieben Sie jemand? Und woraus schließen Sie das?
– Pelo que você é agradecido? – Wofür sind Sie dankbar?
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Vamos nos permitir tempo para contemplar e sentir com profundidade a delicadeza e a preciosidade da vida; volver zelo ao nosso florescimento interior, ao ser que somos – “A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada.” Lya Luft, em O ponto cego.
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