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LISSI BENDER

Sobre o valor do silêncio

Quando me deparo com pessoas falando alto, políticos vociferando, carros que passam com caixas de som ligadas, em volume ensurdecedor, vem-me à mente aquela história da carroça vazia. Lembram? Quando pai e filho ouvem ao longe um barulho e o pai afirma ser de uma carroça vazia. Querendo compreender, o filho pergunta: como o pai sabe, se ainda nem a avistaram. Ao que o pai responde ser fácil saber se uma carroça está vazia por fazer muito barulho. Uma carroça cheia se movimenta silenciosamente, acrescenta.

O filósofo Friedrich Nietzsche dizia que “Der Weg zu allem Großen geht durch die Stille”. Ou seja: “O caminho para tudo quanto é grandioso passa pelo silêncio”, pela quietude. Também o escritor austríaco Adalbert Stifter escreveu a este respeito: “Die großen Taten der Menschen sind nicht die, welche lärmen. Das Große geschieht so schlicht wie das Rieseln des Wassers, das Fließen der Luft, das Wachsen des Getreides.” Traduzindo: os grandes atos dos seres humanos não são aqueles que fazem barulho. O grande acontece tão despretensiosamente como o murmurar da água, o fluir do ar, o crescer do cereal.

No entanto, nossa sociedade vive submetida a crescente poluição sonora que impede qualquer possibilidade de um encontro das pessoas com elas mesmas, com seu mundo interior. Dificulta também o necessário silêncio para leitura, estudo ou reflexão. O excesso de ruídos impossibilita qualquer profundidade do pensamento; induz à dispersão, à superficialidade da existência. Vivemos submetidos a barulhos que invadem nosso mundo privado.

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Sem falar nas mídias, como smartphones, TV, internet, publicidades em constante disputa por nossa atenção. Se não somos seletivos, esses meios facilmente nos dominam com conteúdos, em grande medida, supérfluos. Quando nos submetemos às muitas distrações, quando nos deixamos instigar à correria, quando nos deixamos conduzir pelos constantes apelos do mercado e pelos ruídos, ficamos atordoados e nos distraímos do que é essencial. O essencial não seria estarmos atentos ao que fazemos com as nossas vidas? Com nosso precioso tempo aqui neste plano?

Um olhar atencioso e amoroso para nós mesmos, para as nossas essencialidades, dificilmente atingiremos em meio a agitação. Isso requer uma mudança da superficialidade para a profundidade. Caso contrário, gradativamente nos desconectaremos de nós mesmos. Muitas pessoas já não conseguem mais conversar calmamente, não conseguem mais viver sem ruído a sua volta. Festas em que os convivas conversam sobre Deus e o Mundo se tornaram raras. Nelas domina a música amplificada em potentes caixas de som que impedem qualquer diálogo.

A vida pede preciosidades, como o contato com nosso ser, com bons livros, livros que nos levam ao silencioso fruir e pensar. A vida requer preciosidades simples, como cultivar amizades verdadeiras; permitirmo-nos tempo para sentir a relva sob nossos pés, ouvir cantos silvestres, o murmurar das águas, inspirar os aromas da terra, sentir gratidão pela nossa existência e cuidados para não nos perdermos de quem somos.

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Todos nós podemos nos tornar carroças vazias, fazendo um barulho tremendo quando não preenchemos nossas vidas com bons conteúdos para a mente e a alma. O mundo silenciosamente clama por carroças cheias, cheias de paz, de cuidados para com o lugar em que vivemos, cheias de consideração para com a vida e a natureza, o mundo está a precisar de carroças silenciosamente cheias.

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