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RICARDO DÜREN

Uma história da linha do tempo

Esta semana a prô Ardélia passou uma lição de casa bem interessante à turma onde estuda a nossa caçula, Ágatha: fazer uma linha do tempo com alguns dos fatos que marcaram a vida da garotada. Cada evento deveria ser devidamente identificado com uma breve descrição e ilustrado com um desenho. A traquinas passou uma tarde às voltas com a tarefa e quando cheguei em casa, após o expediente na Redação, minha esposa, Patrícia, veio me mostrar o resultado.

E o fez cheia de orgulho, não só pelo capricho e esmero da filha mais nova, mas porque, conforme consta na linha do tempo, a primeira palavra que Ágatha aprendeu a falar teria sido “mamãe”. Eu podia jurar que fora “papai”, mas o que vale, agora, é o que está no caderno. Entre outros fatos ali registrados estão o primeiro passeio em carrinho de bebê, um dos aniversários mais marcantes e o dia em que Ágatha ganhou seu tão sonhado cavalo de pelúcia, que batizou de Batata. E não faltou também, já no espaço destinado aos fatos mais recentes, uma referência aos dias em que recebeu a primeira e segunda doses da vacina contra a Covid – ilustrada com o desenho de uma imensa injeção.

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Um dos eventos citados na lição de casa me despertou uma alegre sensação de nostalgia. Consta ali: “Durante um passeio ao Cassino, vimos pinguins e um leão-marinho”; e o desenho mostra Ágatha olhando para um tanque de água, do qual se projeta a cabeça de um simpático leão-marinho. Na correria dos últimos tempos, eu quase havia esquecido desse passeio, realizado durante um veraneio, bem antes da pandemia.

Na verdade, observamos esses animais durante uma visita ao Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em Rio Grande, a uns dez quilômetros da Praia do Cassino. Para mim, um apaixonado pelas coisas do mar e por histórias de expedições, o lugar se mostrou fantástico. Além dos animais resgatados, de uma série de esqueletos de baleias e reproduções de tubarões e outros peixes, tem ao lado o Museu Antártico – uma maquete em tamanho real das primeiras instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz. O ambiente consiste em uma vila de contêineres, nos quais pode-se entrar para sentir como viviam os cientistas brasileiros durante as primeiras pesquisas no Continente Gelado.

Curiosamente, essa visita não estava em nossos planos daquele veraneio. Aconteceu por força de um constrangedor acidente – que, felizmente, Ágatha não mencionou na linha do tempo. Ocorre que no dia anterior, na beira da praia, decidi saborear uma caipirinha. E o efeito da mistura de limão com álcool, sob o sol escaldante e à mercê da maresia, foi devastador para os meus lábios. Com os beiços queimados, latejando, jurei a mim mesmo que não voltaria à praia tão cedo. E, no dia seguinte, convenci a Patrícia e as crianças de que uma visita ao Museu Oceanográfico seria muito mais divertida que uma tarde à beira-mar.

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Eis aqui a grande lição da coluna de hoje aos papais: caipirinha, na praia, só com canudinho.

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No fim das contas, o argumento que apresentei às crianças para irmos ao museu se mostrou acertado. Elas adoraram ver os pinguins, que circulavam com passos inconfundíveis ao redor de um tanque, numa impaciente espera pelo dia em que teriam condições de retornar à natureza. Contudo, a grande estrela da visita ao Museu Oceanográfico fora, sem dúvida, o leão-marinho. Resgatado em 1993 na Lagoa dos Patos, fora batizado de Ipirelo. Por mais de uma vez os cientistas tentaram reintroduzi-lo na natureza, mas Ipirelo sempre acabava voltando. Linguarudos dizem que o malandro não queria abrir mão da boa vida, como hóspede do museu, mas os pesquisadores concluíram que ele realmente já não tinha condições de se readaptar ao habitat natural. E Ipirelo foi ficando.

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Em nossa visita, constatamos que Ipirelo, de bobo, não tinha nada. Sua diversão predileta era nadar de um lado a outro do tanque, emergindo repentinamente para respirar e – ao que parecia – dar um susto em distraídos que estivessem por perto. As crianças acharam-no o máximo. Mas, quando se posicionavam em uma das extremidades do tanque, para fotografar bem de perto o leão-marinho emergindo, ele as surpreendida reaparecendo no lado oposto. As crianças então corriam para aquela direção e Ipirelo, peralta, mergulhava e emergia novamente no lado anterior. Quando as crianças perceberam a dinâmica da manobra, resolveram dividir-se e aguardá-lo, com os celulares a postos, em ambas as pontas do tanque. E Ipirelo, com um sorriso irônico entre as bochechonas repletas de bigodes, emergiu bem no meio.

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Em março de 2020, a Furg divulgou uma triste nota, comunicando, com pesar, o falecimento de Ipirelo. Uma pena. Foram 27 anos de convívio com o leão-marinho, cujas peraltices ficaram registradas na memória de inúmeras crianças e adultos. E registradas, também, na linha do tempo da Ágatha.

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