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COLUNA

Valesca de Assis: Nº 10.892

Foto: Bruno Pedry/Banco de Imagens

QUANDO EU NASCI, era primavera em Santa Cruz do Sul e, imagino, todos ficaram felizes e aliviados após o médico ter desenrolado, do meu frágil pescoço, duas voltas de cordão umbilical. E, também, depois de eu ter chorado, como convém quando se é expulso de um paraíso: dentro da mãe, tudo era quente e livre e não existia fome. Minha mãe parecia confusa com o alvoroço. No primeiro olhar que me concedeu, havia alívio e medo. Tinha 19 anos a minha mãe.

Assim que pôde, meu pai telegrafou para a mãe dele, minha avó Clarinda, e pediu-lhe que espalhasse a boa nova aos parentes de São Leopoldo. Alguns dias depois, compareceu ao cartório do senhor Felippe Becker, para registrar-me como cidadã. Foi com meu tio Lucio Rech, e com o amigo Gustavo Dreher. Há pouco, estive na Escola Municipal Felipe Becker, no Alto Paredão, e foi uma delícia de encontro de livros e vidas.

Meus avós de Santa Cruz eram Irene e Fritz Rech. Ela, em solteira, era Eick. No livro que dediquei a eles, escrevi: “para meus avós, que salgaram e adoçaram minha vida para sempre.”

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Para a saída do hospital não me vestiram de vermelho, como se usa agora. Escolheram um conjunto branco, lindo, de tricô feito em casa. À época, o sexo dos bebês só era revelado ao nascer e ninguém iria desperdiçar trabalho e dinheiro com roupinhas que vestissem a um só sexo. Exceção: uma familiar nossa cismou que a criança que esperava era uma menina e fez todo o enxoval em rosa e branco. Mais, o nome seria Clarice Maria (homenagem às duas avós). Já adivinharam, nasceu um garoto, a quem chamaram, por fim, Carlos Mauro, pois todo o enxoval – incluídos lençóis e fronhas – estava bordado com as iniciais MC.

Quando tive alta, fomos para a casa dos avós, e o primeiro que vi foram árvores debruçadas umas frente às outras, formando uma espécie de cordão verde, quem sabe um túnel. Eu já sabia o que era um túnel.
Meus pais tinham viajado a Santa Cruz para que eu nascesse sob os cuidados da família materna. Então, já moravam em Iraí, muito longe, para onde meu pai havia sido transferido, por promoção na Coletoria Estadual. Depois que recebi o batismo, voltamos para Iraí, onde vivi por 11 anos e meio.

Não sou muito de falar sobre mim, embora só tenha feito isso, aqui. É que, estando perto dos 80, começo a esquecer minhas lembranças, ou recordo-as como fiapos. Quero fixá-las no papel até onde me for possível, sabendo que serão peças de um jogo que, ao final, restará incompleto.
É o desafio ao qual convido vocês, conterrâneos, a me ajudarem.

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Ah, ia me esquecendo: 10.892 é o número do meu nascimento de cidadã.

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