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Da terra e da gente

Vida de lixo (ou não?)

Viver “do lixo” poderia significar ter uma vida “de lixo”. Mas nada pode ser tão simplificado assim. Basta falar com um dos tantos que se vê a todo dia buscando nos resíduos descartados a sua sobrevivência para verificar que ali encontram dignidade de viver e de se sustentar, embora, é claro, não nas condições adequadas que se projeta para o mundo do trabalho.

Joel, 50 anos completados na semana passada, que encontro a todo momento em minhas caminhadas rotineiras na ida ao trabalho e a quem alcanço pequenos e eventuais auxílios que pede de vez em quando e sem insistir, é um destes personagens. Nascido e criado não longe do Centro, na região da Pedreira, onde reside e tem família constituída, com esposa, quatro filhos e já alguns netos, está há 15 anos nessa atividade diária, puxando o seu carrinho e recolhendo produtos do lixo que podem lhe oferecer receita, em áreas mais centrais e nas partes Leste e Norte da cidade. Passou a fazê-lo depois de um acidente sofrido na mão, em sua profissão exercida até então, de soldador.

Além de somar a renda de membros da família que trabalham em outras atividades, diz que consegue viver com o que recolhe do lixo, onde muitos objetos postos fora têm boa colocação para reciclagem, como latas e pets, além de seguidamente receber ajuda em dinheiro e alimentos. No entanto, observa que aumentou a concorrência, pois no início eram poucos os que estavam se dedicando a isso, “mas agora já são pelo menos mais de cem, e muitos até nem precisariam”, diz. Tem ressalvas também a valores que recebe pelos objetos, “que poderiam ser maiores pelo que valem no final”, e para falta de cuidados ainda existente na divisão do lixo e na proteção/identificação dos vidros, com os quais já se machucou várias vezes, mesmo procurando usar luvas.

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Este breve depoimento que dele colhi na rua, justamente no dia em que completava mais um ano de vida, leva a valorizar ainda mais o que ele faz, e, diga-se de passagem, sempre zelando para que o lixo não fique espalhado no chão, como em muitos casos acontece. Conduz também a reiterar o que campanhas já buscam destacar e aqui tenho reforçado, mas que ainda está muito aquém do desejado, no que se refere à devida segmentação dos resíduos despachados pela população. Vê-se melhorias, como as que constato no bairro onde resido, Santo Inácio, atendido por contêineres, após algumas recomendações, inclusão de recipientes específicos de lixo seco e inclusive indicação de manutenção das antigas cestas para tal finalidade. Mas, de modo geral, nos caminhos percorridos diariamente, nota-se misturas ainda frequentes, plásticos e papéis que continuam sendo jogados nas calçadas, entre outros aspectos.

Almejo que o relato compartilhado do catador auxilie a aumentar o respeito pelos que, diante da realidade que experimentam, vivem do que oferece o lixo, e o estímulo para maior adoção da forma mais correta de descarte dos materiais, com a consciência de que assim se evita riscos ambientais e sanitários, mas também se facilita a vida de quem faz a coleta oficial (por empresa contratada e cooperativa de catadores) e dos que continuam a se valer do recolhimento informal. Certamente eles não terão assim uma vida de luxo, mas também não será simplesmente de lixo.

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