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happy hour

O baile de Formosa

Meu pai foi subdelegado em Trombudo e seu auxiliar era o Getúlio, um policial baixinho, gorducho, simpático e bonachão. Ainda que lhe faltasse destreza para correr atrás dos ladrões de galinha e de gado, apartar as brigas nas festas e canchas de bochas era sua especialidade.

O seu Haeser possuía uma habilidade que era só dele. Nas discussões entre os colonos sobre a divisa de terra e o caminho da roça, conseguia apaziguar os ânimos dos brigões e os convidava para celebrar as pazes no salão Machado. Era só atravessar a rua.  Bastava tomar algumas garrafas de cerveja e uma boa conversa, que as desavenças acabavam.  Nada que uma “flasche bier” não resolvesse.  

Noite dessas, realizava-se um grande baile em Formosa. Meus pais foram se divertir na vizinha localidade. O ônibus lotava de jovens e casais. Saía de Trombudo, passava por Rio Pardense e retornava por Pinhal Trombudo.

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Todos usavam suas melhores roupas e haviam tomado banho. Sábado era dia de limpeza geral no corpo. Os rapazes passavam a famosa Glostora nos cabelos, marca de algo parecido com o gel de hoje, mas se usado em excesso, lambuzava a melena que virava uma meleca.

As meninas vestiam seu melhor vestido. A vizinha tornava-se a cabeleireira quebra-galho. Aprendera a fazer o penteado “ninho de abelha”. Aplicava o conhecido laquê, que era uma garantia contra as intempéries, principalmente vento forte. A cabeleira permanecia intacta.

O baile se realizava no Salão Gassen, famosa bailanta de Formosa. O salão sacudia com as rancheiras executadas pelo conjunto musical. Além disso, com o calor, os dançarinos ficavam molhados de suor de tanto sacudir a poeira do salão.
As crianças acompanhavam os pais ao baile. Os maiores brincavam de esconde-esconde com seus amigos. Uma criança contava até 20 e os demais tratavam de se esconder entre as mesas do salão ou no pátio. Era uma loucura. Esbaldavam-se longe dos olhos dos pais. Os pequenos recolhiam-se cedo para a cama coletiva nos fundos do salão. Enquanto os pais se divertiam, esses dormiam tranquilamente, não se importando com o som.

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A cerveja não poderia faltar nessas festividades. Durante o dia, era acondicionada em grandes tachos de alvenaria e coberta de barras de gelo e, para que se conservasse, misturava-se serragem.

Depois de muitas cervejas, era hora de se dirigir à cozinha, tomar um bom café preto e se alimentar de cuca e linguiça. Depois, o baile continuava até a madrugada.

Para anunciar a saída dos ônibus, o conjunto musical dava um toque especial e o maestro falava: atenção, atenção, daqui a 15 minutos vai partir o ônibus para Trombudo, Teresa, Sinimbu… Senhores passageiros, boa viagem! Gut schlafen!

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