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Sem tabu

Escritora e instrutora tântrica fala sobre orgasmo e consciência do corpo

O prazer feminino é o mais arrebatador dos prazeres. É misterioso, profundo, mas também negligenciado. A medicina e a ciência pouco sabem sobre as formas pelas quais a mulher atinge o êxtase e, segundo a filósofa, escritora e instrutora tântrica Carol Teixeira, é fácil entender o porquê. “Não é do interesse do patriarcado o conhecimento de algo tão poderoso para a mulher como o prazer dela.”

Carol chama o prazer feminino de poderoso porque o conhece muito bem. Através do curso I Love My Pussy já fez, acreditem, uma mulher gozar por 15 minutos, inclusive com ejaculação. Essa “magia” acontece por meio de toques tântricos, uma atividade que pode levar as pessoas a estados orgásticos e catárticos nos quais ela ressignifica sua relação com o corpo.

Mas o propósito da filósofa vai além. Carol trabalha para que a mulher entenda que não está aqui para agradar. Que seu corpo não deve servir ao outro. Que o sexo pode – e deve – ser muito mais profundo, longe do desserviço “britadeira” que a pornografia faz. Se por anos o prazer  feminino foi relegado a segundo plano, devagarinho vira protagonista. E não só por meio da penetração. Segundo a terapeuta, 90% das mulheres não chegam lá só com ela. É com autoconhecimento e tomada de poder do próprio corpo. Chega de fingir.

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ENTREVISTA

Magazine – O prazer feminino é um mistério? Por que a medicina e a ciência pouco sabem sobre as formas pelas quais uma mulher atinge o êxtase?
Carol – Porque vivemos numa sociedade patriarcal e não é do interesse do patriarcado o conhecimento de algo tão poderoso para a mulher como o prazer dela. A história mostra as sociedades batendo cabeça ao tentar lidar com esse poder da sexualidade feminina. Algumas sociedades cobrem o corpo da mulher com burcas, outras mutilam seus corpos. Já na nossa, há uma superexposição do corpo em que a mulher é vista como objeto para agradar.

Magazine – Quando você começou a se envolver com a descoberta do prazer feminino?
Carol – Sempre tive um interesse grande no assunto, tanto na minha vida pessoal quanto na abordagem filosófica do assunto. Meu trabalho de conclusão quando me formei em Filosofia teve como tema “A sexualidade como afirmação de vida”. Sempre senti que sexo era muito mais do que sexo. Eu achava ressonância nessa ideia nos livros de pensadores como Georges Bataille, por exemplo, que viam a transcendência possível a partir da dissolução do ego que acontece no orgasmo. Formei-me em tantra, tive um programa de rádio sobre o assunto e também escrevo há oito anos uma coluna na Revista Vip. Trago muito a questão do prazer feminino porque há essa negligência com o tema. Tento também ajudar os homens, porque todos sofrem com essa visão errônea do sexo e do corpo que nossa sociedade tem.

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Magazine – Qual a importância de a  mulher  ter o poder sexual nas mãos?
Carol – As mulheres são alienadas do próprio corpo, são criadas ouvindo “tira a mão daí, menina” e afastadas da própria sexualidade.  A energia sexual é também a energia criativa, essa força afeta todas as áreas da nossa vida, inclusive a autoestima. Ali reside um poder absurdo e ela perde muito de sua força criativa por não ter esse contato, essa compreensão. A mulher aprende que ela é um corpo para o outro, que ela precisa agradar, servir. No momento em que entra em contato com sua sexualidade, com seu sagrado feminino, ela sai desse lugar de corpo para o outro e toma posse de seu corpo, sua vida.

Magazine – As mulheres devem consumir mais erotismo?
Carol – Sim, disso elas foram privadas também. Uma das maiores mentiras que nos contaram é que mulher gosta menos de sexo do que o homem. Como elas foram reprimidas por anos e anos, criou-se esse mito. A mulher tem uma potência sexual até maior do que a do homem. O clitóris tem muito mais terminações nervosas do que o pênis. A mulher tem uma capacidade orgástica imensa, mas há essa crença limitante de que sexo não é tão importante. Por isso o consumo do erotismo é fundamental, porque traz essa energia erótica para o seu cotidiano, faz com que ela estimule esse lado nunca estimulado pelo meio em que ela vive.

Magazine – Quais são as tuas dicas de literatura erótica?
Carol – Todos os livros da Anaïs Nin (especialmente o Henry & June) e do Henry Miller.

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Magazine – A masturbação feminina ainda é um tabu?
Carol – Ainda é. As mulheres se masturbam menos que os homens, não por menor necessidade, mas por não terem sido incentivadas, justamente porque são reprimidas. Tento reverter esse quadro com meus cursos.

Magazine – Qual o primeiro passo para a mulher começar a se redescobrir?
Carol – Olhar para sua própria vagina, entender como o órgão sexual dela funciona, entender primeiro como ela mesma pode se dar prazer – para então falar para quem for transar com ela.

Magazine – Que dica você dá para as mulheres que ainda não conseguiram alcançar o próprio prazer?
Carol – O tantra é um bom caminho para esse autoconhecimento. Meus cursos ensinam a mulher a chegar nesse ponto porque faço elas se descobrirem a partir do corpo. Isso muda a maneira como você vê absolutamente tudo. 

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Magazine – As mulheres ainda fingem orgasmo? Como mudar esse cenário?
Carol – Muitas ainda fingem, o que é triste porque isso mantém o outro fazendo coisas que não dão prazer à mulher. A mulher precisa parar de poupar o ego masculino, precisa dizer o que ela gosta na cama sem medo de “incomodar” o outro. Mas primeiro ela precisa se conhecer, saber do que gosta. Depois, perder o constrangimento de falar.

Magazine – Em um dos cursos “I Love My Pussy”, você já fez uma mulher gozar por 15 minutos. Como essa magia acontece? (risos) É possível chegar nesse ápice entre um casal?
Carol – 15 minutos é bastante tempo né? Haha. Mas é isso mesmo. Com os toques tântricos é possível levar as pessoas a estados orgásticos de muitos minutos, levar a estados catárticos nos quais ela ressignifica sua relação com o corpo, quebra crenças limitantes, se livra de traumas. Coisas que só pela racionalidade, pela fala, não seria possível. No curso, eu ensino essas técnicas.

Magazine – Toda mulher pode ejacular?
Carol – Claro!    Basta  se  livrar das repressões que a limitam  e  ser tocada de um jeito que a leve a esse estado.

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Magazine – Como fazer a mulher, que está em um relacionamento heterossexual, mostrar para seu companheiro que o prazer dela também é importante?
Carol – Ela precisa compreender que dizer o que ela quer não é “atrapalhar” o outro, não é ser desagradável. É buscar o prazer no sexo que ela merece. 90% das mulheres não gozam só com a penetração, precisam de um estímulo direto no clitóris enquanto são penetradas. Muitos homens ainda acham que sexo bom é aquele estilo “britadeira” do pornô. Mas se as mulheres não começarem a dizer para eles que assim não está bom, que a coisa não funciona desse jeito, o cenário não vai mudar.

Magazine – O sexo como conhecemos hoje é pouco perto do que pode ser explorado?
Carol – Muito pouco. É mais rápido e bem menos profundo do que pode ser.

Magazine –Tem alguma edição do “I Love My Pussy” marcada para ocorrer pelo Sul?
Carol – Por enquanto não. As gaúchas também podem vir pra SP fazer algum “I Love My Pussy”. 

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