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LITERATURA

“Estamos vivendo uma revolução”, afirma Martha Medeiros

A praça vai ser de Martha Medeiros na 35ª Feira do Livro de Santa Cruz

Cronista e romancista Martha Medeiros é a patrona da Feira do Livro de Santa Cruz | Foto: Carin Mandelli

A 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul e a 1ª Festa Literária Internacional já estão no horizonte, devendo agitar a cena cultural regional na semana que vem. E a grande homenageada é a escritora Martha Medeiros, que será a patrona desta edição. Ela estará na cidade na próxima terça-feira, 30, para participar de um talk-show a partir das 19 horas, no auditório central da Unisc.

A entrada para esse evento será um quilo de alimento não perecível, e a retirada de ingressos pode ser feita no Sesc Santa Cruz do Sul, organizador tanto da Feira quanto da Festa Literária (em parceria com a Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura), bem como no estande do Sesc na Feira do Livro (na Praça Getúlio Vargas) ou perante agendamento pelo fone (51) 3713 3222. Após a atividade na Unisc, Martha também concederá autógrafos no local.

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E já na expectativa pela vinda a Santa Cruz, ela concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul. Referiu que nos dias que antecedem sua viagem à região esteve envolvida em intensa agenda em outros pontos do Estado, inclusive na Serra Gaúcha. Em seus compromissos junto a eventos literários, divulga especialmente seu mais recente livro de crônicas, Conversa na sala, lançado em 2023.

É o título com o qual chega a seus 30 anos de dedicação à crônica, em 2024, ela que é reconhecida como uma das mais importantes e bem-sucedidas autoras nesse gênero de texto em realidade nacional. E isso que a crônica, identificada com o jornalismo, sempre teve grandes expoentes no País, a exemplo de mestres ainda em atividade, como Luis Fernando Verissimo, e de outros já falecidos (Rubem Braga, João Ubaldo Ribeiro, Nélida Piñon…).

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Entrevista – Martha Medeiros, escritora e patrona da 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul

  • Gazeta do Sul – Quais os temas que, atualmente, mais ocupam ou atraem a atenção da senhora, do mundo mais próximo ou do mais distante?
    Estou bastante atenta aos temas identitários. Acho que a gente está vivendo uma revolução, num momento em que o feminismo voltou com total força, e falando ainda sobre assuntos como etarismo, racismo, homofobia… Tudo isso é muito importante para a gente construir um mundo sem tanta desigualdade, mais diverso. Porque o mundo é diverso; não é um ou outro que inventa que o mundo é diverso. Ele é essencialmente diverso. Então, nós temos que aprender a viver com esse mundo diverso, com pessoas diversas, e isso tudo me interessa.
    Eu vivi uma época, quando era mais garota, em que esses temas não estavam em pauta. A gente repetia o que ouvia dos pais, dos avós, meio sem pensar, sem mentalizar aquilo, e muitas vezes fizemos mal para outras pessoas, até sem perceber, não que a gente fosse de natureza ruim. Mas a gente não tinha consciência de como o outro vive, como o outro sente.
    Hoje tem esse aspecto positivo da tecnologia, em que ela deu voz a todo mundo. Assim como dá voz também a pessoas muito agressivas, muito opressoras, alienadas, mas, meu Deus, dá voz a todos, e isso é uma coisa positiva. Porque a gente consegue desenvolver empatia: quem tem, quem tem o dom da empatia, e espero que a maioria das pessoas tenha, consegue entender melhor o que o outro vive. O outro deixa de ser um estranho total para ser alguém como nós, alguém que tem suas emoções, suas dificuldades. Podem não ser as mesmas que temos, mas o outro tem a mesma essência humana que nós e é preciso estar aberto para ver, olhar para o outro. E, junto com ele, um mundo que não seja bom apenas para alguns e tão ruim para outros; tem que ser bom para todos.
  • A senhora ocupa-se desses assuntos em sua produção?
    Estou muito atenta a tudo isso, sabe, à inclusão. À inclusão, acho que esse é o fator. Não dá mais para o mundo ser dominado sempre pelos mesmos. Até nem gosto desse verbo, dominar. O que eu acho é que o mundo tem que ser cada vez menos vertical e cada vez mais horizontal. Acho que essa é uma busca. Quando tratamos sobre todos esses assuntos, estamos buscando horizontalizar as oportunidades para todos, e isso me interessa. Claro que muita gente diz “mas é uma chatice”. Ninguém disse que ia ser fácil, né? Claro que quebrar algumas verdades instituídas e colocar outras verdades no lugar, tudo isso é difícil, mudanças são naturalmente difíceis.
    Muita gente acha chato, claro, porque já está confortável na sua situação, no seu platô de visão de mundo, e daqui a pouco vem aí uma série de questões que obrigam as pessoas a repensarem suas verdades. Muitas vezes é incômodo mesmo, mas necessário. Necessário! Não podemos viver da mesma forma, o tempo inteiro; o mundo está em constante evolução. É muito importante que tudo isso esteja acontecendo para que a gente reavalie a maneira como constrói a vida.
  • Mas a crônica também envolve alguma leveza, não é?
    Fora isso gosto também não só de coisas seríssimas. Gosto da arte, que sempre vai me interessar: literatura, música, cinema, dança, teatro, tudo isso está na minha pauta sempre, e cada vez mais. Esse é o verdadeiro alimento do nosso espírito, e é o que nos possibilita sermos pessoas mais empáticas, mais inteligentes, sensíveis, e com a visão de mundo mais expandida.
    Tem muitas coisas mais leves de que gosto: moda, viagens… Sou uma andarilha incorrigível! Acabei de chegar de uma grande viagem que fiz, maravilhosa. Fui ao encontro da minha filha, que mora na França, e lá, já no outro dia, pegamos um carro e fomos para a fronteira da França com a Itália, até a Eslovênia. Foi muito legal, e na estrada, coisa que eu não fazia há muito tempo. Só eu e ela, duas mulheres na estrada, se divertindo, aprendendo, convivendo. Foi muito forte, bonito, e toda viagem traz alguma coisa para nós. A gente sempre volta com uma bagagem que não é aquilo que a gente comprou, mas aquilo que a gente viveu.
  • São muitos focos de interesse, portanto…
    É isso, meu foco de interesse é a vida como um todo, vivendo tanta coisa. Sou uma pessoa que ama a vida. Pode parecer uma frase meio sem sentido: “afinal, quem não ama a vida, né?”, a gente pode pensar. Mas acho que tem gente que se acomoda muito mesmo e não dá à vida o seu verdadeiro valor. Isso aqui é um privilégio! Antes de nascermos era o nada; depois que nós formos, vem mais uma imensidão de nada. Então, esse tempo que temos aqui precisa ser honrado e vivido da melhor forma.
  • Cito um livro anterior seu, de 2018: “Quem diria que viver ia dar nisso”. Em que deu esse nosso modo de viver contemporâneo? Que restou da humanidade?
    A minha visão de mundo hoje está um pouquinho mais pessimista, e me dói dizer isso, pois sempre tive um olhar muito generoso para a vida. Não que tenha deixado de ter, continuo tendo, mas com um pouco mais de esforço agora. Acho que está todo mundo muito bélico, muito raivoso, aquela nossa ideia de um mundo pacífico está cada vez mais distante. E é incrível isso, porque temos muita informação, estamos todos interligados. E isso, em vez de gerar aproximação, um bem comum e uma visão de mundo mais pacífica e benéfica para todos, não, ao contrário, estamos cada vez mais separados, cada vez mais nos juntando só com aqueles que pensam como nós e juntando essa força não para prosperar junto com todos, mas para brigarmos uns com os outros, quem tem ou não tem razão.
    Enfim, não gosto muito dessa visão tendenciosa da vida, sabe? Só eu tenho razão, tu não tem, quem faz isso é desse jeito, quem não faz está errado. Muito certo e errado, sabe? Quando eu acho que a gente devia transcender isso e procurar um bem comum, verdadeiramente comum. Isso aliado a preocupações não só políticas, mas também com o meio ambiente, principalmente.
  • Ou seja, na avaliação da senhora, o mundo não vai bem…
    Está na cara que o mundo está se desintegrando, e que está cada vez mais difícil a gente sobreviver como sobrevivia antes. Vamos ter de encontrar novos caminhos, não dá mais para alimentar o desenvolvimento como antigamente. Temos que buscar soluções, é isso. O mundo está em busca de soluções, e eu não sei se os seres humanos estão dispostos a colaborar nas soluções. Às vezes, parece que estão querendo colaborar mais com os problemas.
    Eu sei que é uma visão meio sombria, mas, infelizmente, é a visão que tenho. Não tenho dúvida de que o que pensava antes continuo pensando: acho que se cada um de nós fizer a sua parte, na nossa rua, dentro do relacionamento, no trabalho, se fizermos o melhor que podemos no nosso microcosmo, já é um fator positivo para o resto da humanidade, é uma contribuição. Mas a gente tem de ter isso bem consciente, né? Não pode ser só da boca para fora.
  • O que 2024 reserva em seus planos, em termos de escrita, de publicação, ou de projetos pessoais?
    Nossa! Só está começando, mas tenho planos, sim. Provavelmente vai sair um livro, talvez até dois, junto a um ilustrador bárbaro que se chama Daniel Kondo, é gaúcho também, viveu muitos anos em São Paulo, e hoje vive em Punta del Este, no Uruguai. É um dos autores de livros infantis mais premiados no País. E Daniel me convidou para fazer alguns projetos com ele. Não estou ainda autorizada a explicitar o que é, mas provavelmente um livro infantil, e talvez ainda um outro livro. Temos dois projetos engatilhados, vamos ver se rola em 2024.
    E, de fato, estou fazendo 30 anos de crônica, de carreira no jornal, e talvez publique alguma coisa comemorativa a essas três décadas. Pode vir algum trabalho inédito, mas estou escrevendo ainda, e não quero antecipar muito, não gosto de fazer promessa e deixar na expectativa. Mas vou trabalhar muito, e pretendo fazer algumas sessões de autógrafos para continuar promovendo o último livro de crônicas, de 2023, o Conversa na sala, que está indo superbem e que merece continuar recebendo atenção.

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