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A importância da cultura do tabaco para o progresso de Santa Cruz

Produtores chegam para venda do tabaco à Souza Cruz, chamada de Die Americanen

A criação de gado foi a primeira atividade econômica de destaque que se desenvolveu no Rio Grande do Sul. Por muitas décadas, a pecuária ditou não somente os rumos da economia, mas também da política sul-rio-grandense. As estâncias de criação de gado influenciaram decisivamente na organização social e na cultura do Estado.

O desenvolvimento da agricultura no Rio Grande do Sul e na região do Vale do Rio Pardo ocorreu principalmente a partir da criação de colônias e da imigração europeia. Dois grupos étnicos tiveram destaque nesse processo: os colonos alemães e os italianos. A colonização alemã iniciou em 1824 em São Leopoldo. Expandiu-se depois pelos vales dos rios Sinos, Cai, Taquari, Pardo e atingiu o Vale do Jacuí.

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Ao se fazer uma retrospectiva histórica sobre a produção de tabaco nos tempos iniciais da Colônia Santa Cruz, corre-se o sério risco de exagerar a sua importância. Mas o fato é que os colonos, nas décadas iniciais, via de regra, dedicaram-se à policultura, com a venda da produção excedente. Plantavam, dentre outros, feijão, batatinha, mandioca, batata doce, milho, amendoim, arroz.

Apesar da importância que o tabaco adquiriu posteriormente na região, não se pode subestimar a importância que teve a cultura do milho para os colonos. O cereal servia de alimento para as pessoas, principalmente na forma de farinha, e como forraginoso para animais domésticos, como porcos, galinhas, vacas e animais de tração. Conjugado com a suinocultura, o cultivo do milho resultava na obtenção de carne, de toucinho e de banha.

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A produção em pequena escala de tabaco já ocorria no Rio Grande do Sul mesmo antes da chegada dos imigrantes alemães. Mas foi com eles, e principalmente com as lavouras desenvolvidas em Santa Cruz, que a produção de tabaco tomou vulto. Fundada em dezembro de 1849, a Colônia Santa Cruz se especializou na produção de tabaco. Foi a partir de meados da década de 1860 que o fumo, em termos de valor financeiro, desbancou os concorrentes como principal produto comercializado. Manteve essa liderança mesmo após a extinção da colônia e da criação do município de São João de Santa Cruz, em 1878.

Até 1917, o tipo de fumo plantado no município e arredores era o de secagem em galpão. Os colonos vendiam a comerciantes a produção, tornando-se freguezes desses comerciantes. Em 1917 ocorreu um fato importante que determinou a reorientação da economia fumageira local. Nesse ano houve a instalação da The Brazilian Tobacco Corporation no município. O empreendimento foi bancado pela empresa inglesa British American Tobacco (BAT). Três anos antes a BAT havia assumido o controle acionário da fábrica criada, em 1903, na cidade do Rio de Janeiro, pelo português Albino Souza Cruz, embora mantivesse o nome do fundador inicial do empreendimento. A empresa visava suprir com matéria-prima a fábrica de cigarros do grupo existente na então capital do Brasil.

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A partir de 1920, a The Brazilian Tobacco Corporation passou a ser denominada de Companhia Brasileira de Fumos em Folha. Essa denominação perdurou até o ano de 1955 quando adotou, finalmente, o nome Souza Cruz. Em 1918 a BAT introduziu, de maneira experimental, os fumos Virgínia de secagem artificial em fornos, sendo então construídas as primeiras estufas na região. Depois de três anos de experimentos foi introduzida, em definitivo, a cultura do tabaco de estufa. Para executar estudos, experiências e acompanhar a introdução e difusão das novas técnicas de cultivo e secagem, a companhia contratou técnicos estrangeiros das regiões produtoras de tabaco dos Estados Unidos. Essa é a razão da população denominar por muito tempo a empresa de Die Amerikaner.

Folhas deram impulso à economia

Com a introdução do fumo do tipo Virgínia, a produção integrada na fumicultura teve início. A CBFF passou a fornecer aos colonos as sementes e o adubo que eram descontados na ocasião da entrega da safra. O mesmo ocorreu com o capital necessário à edificação das estufas. A empresa comprometia-se com a assistência técnica realizada pelos instrutores da companhia. Os colonos, em contrapartida, deveriam seguir fielmente a instruções do instrutor e tinham o compromisso de entregar todo o tabaco colhido à firma, tornando-se fregueses da empresa.

Atividades de rotina junto à fumageira Souza Cruz em um registro da década de 1930

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O início da entrada de capital estrangeiro no setor, portanto, ocorreu já em 1917. O grupo Souza Cruz, embora controlasse o preço da matéria-prima e realizasse inovações, permitia a existência de concorrentes, que eram formados por empresas predominantemente locais e por cooperativas. No final da década de 1960, e durante as décadas posteriores, ocorreu a transnacionalização do setor com transações, fusões e incorporações de empresas do ramo fumageiro.

Atividades artesanais e ofícios diversos também surgiram na Colônia Santa Cruz depois de transcorridos alguns anos de seu surgimento. Foram, entre outros, ferreiros, tanoeiros, marceneiros, alfaiates e cervejeiros, que se dedicavam a atender às demandas da população local. Indústrias propriamente ditas apareceram somente à época da República Velha (1889-1930). O surgimento e o desenvolvimento da indústria se devem, em grande parte, ao sucesso da agricultura e da pecuária na região. O beneficiamento de produtos primários, caso da banha de porco, do tabaco, da erva-mate e dos couros, fez surgir vários empreendimentos industriais.

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As primeiras indústrias, em geral, ficaram limitadas à produção de artigos de qualidades inferiores e, dificilmente, logravam ultrapassar o âmbito local/regional. Nesse ambiente, eram grandes as vantagens competitivas em termos de economia de transporte e de facilidade de comercialização. Poucas empresas tentavam afirmar-se no mercado nacional ou mesmo estadual. Para isso era preciso dispor de uma sólida base financeira, condição raramente preenchida à época.

O surgimento de empreendimentos industriais se deu de três formas. A principal foi através da acumulação de capitais iniciais via comércio. Aqueles comerciantes que acumularam capital, fossem eles da cidade ou do meio rural, e que tiveram espírito empreendedor, acabaram se dedicando ao beneficiamento do principal produto com que trabalhavam. É o caso, por exemplo, da Cia. de Fumos Santa Cruz, dos Kliemann, dos Tatsch, dos Boetcher e dos Hennig, todas elas empresas que se dedicavam ao beneficiamento de fumo.

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A segunda forma foi via crescimento de uma atividade artesanal. Nesse caso, pequenas oficinas artesanais foram progredindo e, ao cabo de gerações, transformaram-se em atividades industriais importantes. Foram, portanto, empreendimentos que cresceram como cresce uma árvore, de dentro para fora. Aqui se enquadram os casos das Máquinas Binz, das Máquinas Schreiner e da Mercur.

Uma razão para o sucesso

A terceira forma pode ser classificada como exógena, ocorrendo pela inversão de capitais acumulados fora da região. Seria o caso da Souza Cruz e da Cia. Sudan de Tabacos, entre outras. A primeira é um truste de capital anglo-americano e a segunda, uma fumageira de capital paulista.

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Para que a industrialização pudesse ter deslanchado, além do espírito empreendedor, da existência de capitais, de matéria-prima e mão de obra, foi ainda necessário haver uma infraestrutura mínima no município. Foi preciso uma via para o escoamento da produção e aquisição de produtos não fabricados no município. Isso foi solucionado em 1905 com a inauguração do ramal ferroviário Santa Cruz/Rio Pardo. A partir de então, parcela das mercadorias ia de trem de Santa Cruz até Rio Pardo. Dali seguia por lanchões pelo Rio Jacuí, ou por trem até Porto Alegre ou outra localidade.

Quando da elevação da vila de São João à cidade de Santa Cruz, ocorrida em 1905, não havia água encanada, nem energia elétrica, nem telefone. Para que a indústria, o comércio e os serviços pudessem se desenvolver, era imprescindível dotar a cidade de força e luz como se dizia à época. Em 1906, Santa Cruz ganhou a primeira usina de luz elétrica. Antes disse, só iluminação de lampiões. Ela estava situada na Rua 7 de setembro, em frente ao atual prédio da Prefeitura. Como a Intendência do Município não tinha recursos para bancar o empreendimento, concedeu a Henrique Melchior a exploração do negócio.

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Em 1907, a cidade de Santa Cruz, a Vila Teresa (Vera Cruz), Rio Pardinho e a vila de Sinimbu ganham uma rede telefônica. A estação central da rede ficava na Praça XV de Novembro, atualmente denominada de Praça Getúlio Vargas. A construção da rede deu-se através de uma permissão da municipalidade à firma Ganzo, Durutty & Cia. Em 1908, casas e estabelecimentos no centro da cidade passaram a receber água encanada. A obra foi bancada pela própria Intendência. A água provinha do atual Parque da Gruta, onde foram construídos grandes reservatórios para abastecer a cidade.

O beneficiamento do tabaco gerou empregos e importantes receitas para os cofres públicos no âmbito municipal, estadual e federal. Embora com variações ao longo do tempo, os impostos obtidos com a industrialização e comercialização do tabaco sempre representaram considerável fatia no orçamento do município. Assim, a administração municipal teve condições de reinvestir parcela desses impostos na ampliação e melhoria da malha viária, em obras de saneamento básico, no embelezamento e urbanização da cidade, na educação, na saúde pública etc.

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Indiscutivelmente, Santa Cruz do Sul atualmente é o que é muito em função do trabalho dedicado na obtenção, comercialização e industrialização do tabaco.

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