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Recortes de Humanidade – V

Com os olhos marejados, um entrevistado rompeu o silêncio e a tentativa de conter o choro, e me disse, sem titubear, que vale a pena ser bom e ser correto. Repetiu isso e ainda observou que tal postura deve ser mantida apesar de toda e qualquer circunstância. Toda e qualquer. Haja o que houver. Ele falava comigo, na última semana de maio, sobre o legado deixado por seu pai, um homem que havia feito literalmente de tudo na vida, menos desistir.

Havia sido capataz de fazenda, encanador, assador em churrascaria, dono de salão de baile, dono de fruteira, pedreiro, apicultor, mecânico… E, por fim, dono de restaurante. Um empreendedor nato e que, aos 50 anos, depois de tantas reviravoltas e reinvenções, ousou mais uma vez.

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E viu, enfim, seu negócio vingar e prosperar. Embora tenha conseguido acompanhar a trajetória do seu tão sonhado restaurante por 18 anos – faleceu em 2007 –, foi exemplo de persistência aos que ficaram e hoje administram o empreendimento. E administram com entusiasmo, com base nos valores que dele herdaram. Isso é tão evidente que ainda hoje sua foto está perto do caixa, num porta-retratos, como se estivesse zelando pelo local.

Poucos dias depois, outra entrevistada, cuja história acompanho há 20 anos, lembrava o quanto precisou se dedicar (e ser corajosa) para ter sua loja de confecções. De sacoleira, passou a dona de um grupo que hoje administra pelo menos três estabelecimentos desse segmento. Eu a encontrei justamente para produzir o conteúdo de divulgação do seu mais recente empreendimento.

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Minha primeira reação, quando a vi, foi salientar “mulher, tu é imparável”. E ela é: uma de suas lojas, inclusive, foi aberta para que tivesse dinheiro suficiente para pagar as despesas da faculdade de Medicina de sua filha. Deu tão certo que a filha está formada, atuando na profissão, e a loja prosperou a ponto de ter uma filial em outra cidade.

Enquanto conversávamos, ela fez questão de que eu anotasse e publicasse que “todos os dias podem ser marcados por recomeços e que não importa de onde se comece, mas sim para onde se está indo”. Me disse também que nós, todos, precisamos nos libertar da ideia de que o impossível é uma normalidade. Para ela, essa foi a história que nos foi contada, não a que devemos aceitar. E quanto mais falava, mais entusiasmada ficava. A postura dela condiz, de fato, com os resultados que tem alcançado. Além da realização pessoal, tem sido exemplo de força, de admiração, de pulsar de vida para quem com ela convive.

Embora transcorridas em épocas e locais distintos, as duas histórias se entrelaçam. Em comum, elas têm o protagonismo de quem se recusa a desistir. Esses dois recortes, extraídos durante a coleta de informações para conteúdos completamente diferentes, me fizeram lembrar de uma frase dita por Tinga, empresário e ex-jogador da dupla Gre-Nal, em palestra que ministrou na abertura da Semana do Empreendedor deste ano, em Santa Cruz.

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Ele disse que “somos chefes dos nossos sonhos” e observou que também somos constância, já que todos os dias têm um movimento. Coincidência ou não, enquanto redigia este texto li em postagem do Instagram que “no fundo, a gente está sempre recomeçando, mesmo que não perceba”.

De fato, estamos. Todos os dias temos a possibilidade de tentar. E essa decisão nada tem a ver com o resultado – é inerente àquilo que nos propomos a fazer dos nossos dias, do nosso tempo e antevém qualquer ação. Tentar é, sobretudo, atitude. É o movimento de “lançar-se a”, de se arriscar, de ir em frente mesmo que haja receios ou incertezas. Penso, aliás, que é somente essa postura que pode nos diferenciar uns dos outros.

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O premiado escritor e biólogo moçambicano Mia Couto já dizia, no texto intitulado de “Murar o medo”, que “há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos, mas não há hoje, no mundo, um muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente”.

Nas entrelinhas, percebe-se que estamos todos sob o mesmo céu e diante dos mesmos estímulos. Só mudamos nossas direções (ou nos dividimos) por nossos repetidos gestos de coragem. Isso é reiterado em mensagem cuja autoria foi atribuída à escritora espiritualista Zibia Gasparetto, e de que me valho diariamente. Ela diz: “Persista, insista, lute, se esforçe para fixar sua luz e conquiste tudo o que veio buscar nesse mundo”. Vamos, pelo menos, tentar?

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