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“Ouro verde”: produção e exportação de erva-mate ganham força em Venâncio Aires

Foto: Vanessa Behling

Fundamental na identidade gaúcha e patrimônio cultural imaterial do Estado, a erva-mate é muito mais que um símbolo. Principalmente para municípios como Venâncio Aires, tem enorme relevância econômica, como fonte de renda aos produtores, carro-chefe de empresas e gerador de tributos para os cofres públicos.

Com potencial para aumento de áreas, a Prefeitura tem impulsionado produtores com o subsídio de mudas. Apesar do investimento dar retorno a longo prazo, o cultivo, predominante em terras vermelhas, é de fácil manejo, mesmo sendo de forma manual na sua maior parte. Planta forte, auxilia na restauração produtiva do bioma.

Produto natural, contém diversas substâncias orgânicas, com propriedades antioxidantes e estimulantes. Além de presentes na matéria-prima do chimarrão, estão cada vez mais sendo exploradas para produção de outros itens, como chás, refrigerantes, energéticos e produtos não comestíveis, como cosméticos. Essa exploração e ampliação do mercado contribui para o setor crescer cada vez mais, no campo e na indústria.

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O fato é que, depois de um longo período de estagnação, o setor está ensaiando uma reação. O mercado internacional pode ser a grande virada de chave para, quem sabe, voltar a ser o “ouro verde”, assim chamado em outros tempos.

Vai um mate aí?

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Erva-mate vendida por Venâncio coloca município como terceiro maior exportador

A matéria-prima do maior símbolo dos gaúchos tem ganhado o mundo. E é de empresas venâncio-airenses que sai boa parte. Em 2024, o município do Vale do Rio Pardo se destacou como o segundo maior exportador de erva-mate do Rio Grande do Sul em volume e o terceiro em valor no ranking nacional, com 4,6 mil toneladas, totalizando US$ 8,8 milhões. No primeiro trimestre deste ano, as exportações de erva-mate a partir de Venâncio alcançaram US$ 864.745,00, aumento significativo em relação ao período anterior. 

As duas maiores ervateiras do município têm exportado o produto para América do Sul, América do Norte, Oriente Médio e Europa. Para países como Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos e Síria, toneladas são enviadas mensalmente. A Elacy, com mais de 60 anos, iniciou o processo de exportação em 2012. Para 2025, a empresa projeta mandar ao exterior 5,5 mil toneladas. Cerca de 65% da produção é exportada. 

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Para dar conta da demanda, a Elacy utiliza cerca de 95% da erva-mate cultivada no do Paraná, mais precisamente no município de Cruz Machado, onde a oferta da matéria-prima é maior em quantidade e qualidade. O município paranaense é o maior produtor de erva-mate nativa cultivada de forma sombreada, cuja colheita é feita a cada três anos. No caso dos ervais normais, a poda é realizada a cada oito, 12 e 18 meses. 

Mais de 5 mil toneladas devem ser exportadas pela empresa Elacy ao longo deste ano | Foto: Divulgação

Para atender à demanda, a empresa transferiu a unidade de secagem para a cidade paranaense, onde dois equipamentos trabalham de maneira ininterrupta para canchear e secar as cerca de 100 a 120 toneladas de erva-mate compradas por dia. “Não valia a pena deixar uma unidade de secagem aqui. Hoje, o que compramos de erva in natura aqui na região, terceirizamos a secagem”, explica o diretor, Gilberto Heck.

Depois da secagem, a erva-mate é transferida a Venâncio, onde passa pelo processamento final para venda. Já a matéria-prima destinada para exportação ainda passa por maturação, ou seja, descansa por aproximadamente um ano em três pavilhões da empresa no Paraná e também em Venâncio.

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“Para exportação é 100% erva-mate estacionada [descansada]. E ela é muito complicada de trabalhar: tem que comprar hoje para vender no ano que vem e precisa de muitos metros de depósito de câmaras de maturação”, salienta. “Aí não é fácil aumentar uma venda anual com grandes números. E se tem um valor estacionado, a roda não gira. Com certeza o produtor não vende isso com um ano de prazo, a gente tem que ter esse capital de giro.”

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Para atender o mercado interno, a Elacy utiliza 100% da matéria-prima vinda do Paraná. “​​Essa erva é extremamente selecionada, qualificando o produto para nosso cliente local. O nosso objetivo maior sempre vai ser o mercado interno, por ele ser mais pulverizado, o que nos garante uma crescente regular”, afirma Heck.

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Gilberto Heck: “O que nos move é esse desafio de buscar novos mercados, novos produtos” | Foto: Vanessa Behling

Segundo ele, o mercado externo tem muitas variáveis, especialmente em um país como o Brasil, sem grande estabilidade, na visão do diretor. “Uma hora nós estamos com o dólar supervalorizado; em outra, o câmbio está desfavorável. Isso nos levou a cultivarmos sempre e darmos maior atenção para o mercado interno.”

Também vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Estado (Sindimate-RS), Gilberto Heck salienta que o produto está tendo visibilidade no mundo inteiro. “São poucos os países que não importam ainda. Há uma gama muito grande de nações comprando, mas em pequenas quantidades – meio contêiner, 10 toneladas, 15 toneladas… Ou seja, um mercado que está se formando ainda.” Explica que, a partir do aproveitamento de nutrientes que a erva-mate possui, é utilizada na produção dos mais variados itens, como refrigerantes, energéticos e até produtos que não são para fins comestíveis.

“Hoje a erva-mate é bem mais completa, já temos essas análises, essas comprovações todas. Estamos com ela há pouco tempo nesse mercado variado, então temos que nos aprimorar para explorá-lo mais”, observa.

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Para a América do Sul, a erva-mate é exportada pela empresa em pacotes de meio quilo e de um quilo. Para outras regiões, também é enviada em bolsas de 30 e 50 quilos. Em cada região, as características mudam de acordo com o padrão do cliente.

“O que muda de uma para outra é a forma de moagem. Para a Argentina, é bem mais grossa; a uruguaia é mais fina; e a chilena é só folha, sem pó. A paraguaia também é diferente”, ressalta Gilberto Heck. “São técnicas de processamento diferentes, o que já difere desde a secagem, seja em secador rotativo ou de esteira.”

Já o consumidor interno, segundo o empresário, prefere a erva-mate bem verde e nova. “Consumir erva-mate maturada, de exportação, exige todo um hábito e um equipamento diferenciado. Terá que ter recipientes menores, por exemplo.”

Para manter as propriedades e características, ele sugere o consumo da embalada a vácuo, cuja venda cresce de 20% a 30%, em detrimento da embalagem convencional.

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Produção local está estabilizada

Atualmente são cerca de 450 produtores, mas apenas 25 fazem parte da Associação dos Produtores de Erva-Mate de Venâncio Aires (Aspemva), que representa o polo dos vales no Instituto Brasileiro de Erva-Mate (Ibramate).

Cerca de 1,2 mil hectares são cultivados no município. O corte é feito de dois em dois anos. Assim, são colhidos anualmente em torno de 600 hectares. O inverno é o período que concentra o maior volume da colheita. Contudo, muito depende da demanda do mercado, fazendo com que ao longo de todo o ano ocorra a extração da produção das lavouras.

A média de produtividade neste ano tem sido de cerca de 6.650 quilos por hectare, o que dá mais ou menos um volume anual de 3.990 toneladas. A produção é absorvida por quatro ervateiras locais e uma de Mato Leitão. Três processam a matéria-prima para uso no chimarrão e uma faz o cancheamento (moagem da erva-mate após a secagem). Outra realiza o beneficiamento para utilização para tererê, vendendo um maior volume para estados como São Paulo e Mato Grosso.

Além disso, um montante segue para uma ervateira de Fontoura Xavier. “Parte é exportada via Uruguai para fora e o resto é chimarrão interno no Rio Grande do Sul, e alguma coisa para outros estados”, explica o chefe do escritório local da Emater/Ascar, engenheiro agrônomo Vicente Fin.

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Ele ressalta que o cenário do cultivo da erva-mate em Venâncio continua estabilizado. “Temos os arranques de pés anualmente, mas também o plantio de cerca de 30 mil novas mudas por ano, mantendo as áreas. E lentamente também tem ocorrido uma adesão nova de agricultores da região serrana”, detalha. “Claro que outras culturas se desenvolvem mais rápido, por isso muitos produtores, principalmente de mais idade, preferem substituir as culturas. Mas aquele que já cultiva a erva-mate há alguns anos tem adensado a área todo ano, aumentando a produtividade gradativamente.”

Vicente, chefe local da Emater/Ascar | Foto: Vanessa Behling

Incentivo municipal

A Prefeitura tem incentivado o cultivo por meio do apoio no fornecimento de mudas (com subsídio na aquisição e transporte) e cedência de máquinas para a colheita. O objetivo é incentivar o cultivo sustentável e ampliar a cobertura vegetal dentro das propriedades rurais. 

Neste ano, a Prefeitura disponibilizou R$ 35 mil para subsidiar as plantas aos produtores inscritos no programa. Nos dois últimos dias, 49 produtores buscaram o subsídio. 

Subsídio na aquisição de mudas é um dos incentivos da Prefeitura para os produtores

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Carro-chefe dos Griesang

Com o cultivo da erva-mate enraizado na família há gerações, Éverton Griesang, de 57 anos, em parceria com o irmão Jeferson Konzen, moradores de Linha 17 de Junho, interior de Venâncio Aires, conta com cerca de 20 hectares. Em cerca de 13 eles cultivam a erva-mate, que é o carro-chefe da economia das duas famílias. Em paralelo produzem culturas de subsídio, como aipim e milho.

Há alguns anos, Éverton conta que já “testaram” a troca da principal fonte de renda por outras culturas, como tabaco e milho, mas o erval foi mantido e ganhou mais atenção. “Todo ano plantamos cerca de 2 mil mudas, com o intuito de aumentar o erval, mas também renovar aqueles pés que morrem em virtude da seca. Mas nunca arrancamos nenhuma árvore. Tem algumas com cerca de 100 anos”, conta Griesang. 

Ao longo do ano, o erval exige atenção. A limpeza é feita a partir de trator e também de forma manual, com capina. Segundo Éverton, nenhum tipo de defensivo é empregado para combate de ervas-daninhas.

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A colheita dos irmãos Griesang, feita de forma manual, estende-se de maio a novembro. O intervalo entre a retirada da produção é de dois anos, com metade da lavoura podada num ano e a outra metade no ano seguinte. Já as mudas recém-plantadas precisam de cerca de quatro anos para que se faça o corte do primeiro galho. Depois, levam mais cerca de seis anos para gerarem em torno de uma arroba.

Árvores bem desenvolvidas alcançam cerca de 3 metros de altura e produzem geralmente mais de uma arroba. Atualmente, o preço pago ao produtor é de R$ 14,00 a arroba. Os galhos com as folhas são colhidos em clima seco para manter a folha limpa. Picados e em trouxas de cerca de 60 quilos, ainda verdes, são enviados semanalmente para a empresa local que fará a secagem, processamento e venda. 

Segundo o produtor, cerca de mil arrobas são produzidas por hectare. “Nós acreditamos no cultivo da erva-mate como fonte de renda. Enquanto vemos outros arrancando pés, nós seguimos apostando, apesar de recebermos propostas para arrendar e vender, pois a terra vermelha é valorizada para plantio de outras culturas. Sem contar que é um orgulho dizer que cultivamos um dos maiores símbolos do Rio Grande do Sul, que é a erva-mate”, enfatiza Griesang. Ele adianta que a expectativa, neste ano, é de que a colheita renda mais de 4 mil arrobas. 

Produtor Éverton Griesang tem a erva-mate como principal fonte de renda na propriedade em Linha 17 de Junho | Foto: Vanessa Behling

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