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ELEIÇÃO

“Número de alunos vai voltar a crescer”, diz candidato a reitor da Unisc

É na sequência de um período delicado que os professores Rafael Henn e Andreia de Moura Valim devem assumir as rédeas da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em janeiro. Primeiro, em função da crise da educação superior, gerada pelo encolhimento de políticas públicas de financiamento estudantil que levaram a uma queda significativa nas matrículas. Depois, em razão da pandemia, que alterou a dinâmica das instituições e acelerou transformações nas formas de ensino.

Em entrevista esta semana à Gazeta do Sul, os candidatos únicos a reitor e vice-reitora na eleição marcada para novembro defenderam continuidade de projetos iniciados durante a gestão de Carmen Lúcia de Lima Helfer, cujo segundo mandato será concluído em dezembro, incluindo a chamada “reinvenção pedagógica”, que envolve uma alteração no perfil curricular dos cursos para tornar a educação mais próxima da realidade do mercado.
Na conversa, comentaram também as medidas de redução da estrutura da universidade, a concorrência com faculdades menores, o futuro do modelo comunitário e a expansão do ensino remoto, entre outros.

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ENTREVISTA

Vocês deram um recado forte de continuidade na composição da chapa. No que a gestão será parecida à atual?


Henn
– A professora Carmen passou por um dos momentos mais difíceis da história da universidade e conseguiu, com muita gestão e uma equipe muito qualificada, enfrentar os principais problemas. Uma questão importante foi o Fies, que no fim de 2014 passou por uma grande alteração, dificultando muito o acesso ao Ensino Superior. Isso gerou, não só na Unisc, uma redução no número de alunos. Um dos grandes desafios foi ajustar a estrutura da universidade a esse novo patamar. Mais precisamente em 2019, fizemos a reinvenção administrativa. De 17 departamentos que tínhamos, ficaram seis. Unificamos coordenações de cursos, que eram mais de 60. E também na gestão superior: as pró-reitorias, que eram cinco, passaram para duas. Isso tudo ia começar em 2020, mas aí veio a pandemia. Por isso a continuidade. Boa parte dos projetos estão no início, porque o ano passado foi muito atípico. Acho que um ponto muito característico da professora Carmen foi olhar os problemas de frente. E outro, também muito marcante nesses oito anos, é o fortalecimento do caráter comunitário da nossa instituição.

O tamanho da universidade ainda terá que ser reduzido?


Henn – De 2015 e 2016 até o ano passado, a redução foi muito grande. Fizemos isso por meio de vários mecanismos, como PDV (programa de demissão voluntária). Hoje temos 7 mil alunos na graduação e, contando todos os demais níveis, em torno de 10 mil. O tamanho está adequado para isso. Um tema que vem sendo muito discutido na universidade e que vai estar presente no nosso trabalho é buscar outras fontes de receitas além do ensino. Há pouco tempo divulgamos que estamos indo para a cidade de Primavera do Leste, no Mato Grosso do Sul, com a nossa Central Analítica, que na parte de solos é a maior do país. E hoje 40% das amostras que analisamos vêm do Mato Grosso. Isso é um exemplo que vai permitir ampliação da receita. Também tivemos um olhar para os preços e para as políticas de bolsas de estudo e de financiamento estudantil. Então, se mantivermos o número de alunos, a estrutura está adequada. Projetamos que o número de alunos vai voltar a crescer no fim do ano. Esse ano já estabilizamos.

Então, vocês entendem que a recuperação passa por baratear as mensalidades?


Henn – A redução nos preços já aconteceu, com o redesenho da arquitetura curricular dos cursos. Trabalhamos muito forte com compartilhamento de cursos. Vou dar um exemplo da minha área. Tínhamos disciplinas de Estatística para diversos cursos – Administração, Contabilidade, etc. O que fizemos foi colocar tudo junto. Isso faz com que o número de alunos na sala de aula aumente e dilui o custo do professor. Então, além de baratear o preço, a viabilidade de uma turma ocorre com um número cada vez menor.

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Os programas de mestrado e doutorado têm um custo alto. É possível manter e vislumbrar a criação de novos nesse cenário?


Andreia – Gostaríamos muito de manter os programas, mas o que estamos discutindo, como há programas com mais alunos e outros com menos, pensar em ter uma estrutura compartilhada. A pós-graduação stricto sensu precisa da orientação individual o tempo todo, por isso tem um custo diferenciado. A própria Capes vem discutindo, e eu acompanhei isso nos fóruns, a questão de não criar mais programas e, sim, de olhar o que é possível compartilhar entre eles. A ideia não é barrar novas possibilidades, mas olhar com muita seriedade cada proposta que aparecer. Demoramos muito para instituir o último programa, que foi o de Psicologia. Temos que olhar com muita cautela, porque é um caminho que exige um cuidado diferente em termos de custos.

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Há perspectiva realista de retomada de políticas públicas de bolsas e financiamento?


Henn – Por sermos uma instituição filantrópica, temos que manter 20% dos nossos alunos com bolsa ProUni. Isso permanece. Em relação ao financiamento estudantil, que é o Fies, no curto prazo não vislumbramos nada de melhorias. A professora Carmen participou de uma reunião do Consórcio das Universidades Comunitárias (Comung) com o ministro da Educação há poucos dias e ele foi muito claro: disse que se não achar uma forma de recuperar o dinheiro que foi emprestado e não foi devolvido, que está na casa de 40% ou 50%, não haverá novas ofertas de financiamento. Mas tem uma luz no fim do túnel: o Comung também tem discutido com o governo estadual a possibilidade de destinar uma parte do orçamento da Educação para as universidades comunitárias, como se fosse um Fies estadual. Essa discussão está avançando bem.
Andreia – A Unisc aprendeu muito com esse processo. Tínhamos um grande número de estudantes com Fies e, com a redução, fomos construindo estratégias para reduzir essa dependência, inclusive criando o nosso próprio crédito, para manutenção dos alunos. Nossa preocupação sempre foi oportunizar que as pessoas estudem.


Os campi em outros municípios serão todos mantidos?


Henn – No curto prazo não temos plano de fechar nenhum campus. Mas estamos remodelando. Tínhamos Direito, Administração e Ciências Contábeis em todos, porque eram os cursos mais procurados no Brasil. O que estamos percebendo é que cada uma das regiões onde atuamos possui demandas diferentes. Em Capão da Canoa, por exemplo, não faz sentido colocar Engenharia, mas faz muito sentido colocar algo na área de serviços. É disso que estamos tratando nesse momento. E além da graduação, o que está vindo muito forte, a pedido dos prefeitos, são cursos de curta duração e tecnólogos.


A crise levantou questionamento quanto à viabilidade do modelo comunitário. Qual a visão de vocês?


Henn – O conceito de comunitário é mal-entendido, talvez até dentro da própria universidade. De uma forma simplista, existem três modelos de universidade: em um extremo as universidades públicas, no outro as universidades privadas, e as comunitárias estão no centro. São universidades privadas, que dependem da mensalidade do aluno e outras fontes de receita, não têm recursos estaduais ou federais, mas não têm divisão de lucros, não têm dono ou acionista. O lucro é importante, mas é revertido para as comunidades onde atuam, por meio de pesquisa, ensino e extensão. A grande demonstração disso foi no ano passado, com a pandemia. Boa parte do nosso orçamento foi usado em ajuda à comunidade nas mais diferentes áreas. Isso é a essência de ser comunitário e eu realmente acredito nisso.
Andreia – É importante que a Unisc seja uma comunidade local. Os grandes conglomerados universitários vêm, exploram em termos de economia, mas vão embora no momento em que perdem interesse. O engajamento de uma universidade da comunidade é diferente. É claro que a leitura de que a Unisc tem obrigação de fazer isso ou aquilo não é o que nós queremos também. Nós nos engajamos dentro do nosso potencial e da nossa capacidade. A pandemia foi o momento de a Unisc mostrar a sua diferença em relação a outras instituições.

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Mas a proliferação de faculdades menores, que oferecem cursos mais baratos e de menor duração, preocupa?

Henn – Em 2015 tínhamos cinco instituições de ensino superior em Santa Cruz. No ano passado, estava em 37. Só que esse ano já saíram cinco. Muitas instituições se expandem para cá mas não trazem estrutura. Encontram um parceiro local que faz toda a captação e só levam o ensino, de forma virtual. Mas se não atingem o ponto de equilíbrio, simplesmente vão embora. A legislação do EaD foi alterada em 2017 e, hoje, para ter um polo é muito simples, basta ter uma salinha e duas ou três cadeiras. Essa expansão se deu por esse tipo de instituição. Nos preocupamos, sim, porque o público é o mesmo. Mas nós olhamos tanto o caráter comunitário quanto a qualidade do ensino. Acredito que o mercado empregador vai, em breve, começar a filtrar conforme a instituição de origem dos profissionais.

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Muitos acreditam que o crescimento do ensino remoto será o grande legado da pandemia. Na visão de vocês, até onde o EaD pode chegar?


Andreia – Sou professora do primeiro semestre da Medicina e trabalhei, ao longo do ano passado, grande parte da disciplina, que é teórica e prática, no online. Agora no segundo semestre, voltamos com as aulas teóricas presenciais. E percebemos que tem uma grande diferença. O engajamento do aluno muda totalmente, a nossa entrega emocional é muito diferente no virtual. Acho que a pandemia nos ensinou a usar mais esses recursos, que são importantes e vão substituir muitas coisas. Mas há uma questão da presencialidade que é insubstituível, que é o ‘olho no olho’, saber que o aluno está ouvindo e o aluno saber que o professor está ali com ele, que a dúvida dele está sendo reconhecida e valorizada nesse processo de aprendizagem.
Henn – O que deve mudar é que vai existir o híbrido. Hoje, na legislação do Brasil, só existe EaD ou presencial. O que estamos discutindo é o seguinte: um aluno vir de outro município, ter que pegar uma condução, com o custo do transporte e da alimentação, para assistir a uma aula simplesmente expositiva que ele poderia ter na frente de um computador, me parece que não faz mais muito sentido. O momento presencial tem que ser muito rico para o aluno, senão ele não vem. Acredito que a educação vai nessa direção.

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O que muda exatamente com a chamada reinvenção pedagógica, que está sendo implantada?


Andreia – Todos os cursos da Unisc vão ter uma formação comum, que são valores que entendemos serem importantes e vão caracterizar nossos estudantes, independente do curso que fez. Na reinvenção, constituímos um grupo de formação geral que trabalha escrita, questões éticas, de sustentabilidade e também competências de empreendedorismo pessoal. Constituímos os laboratórios de Empreendedorismo e de Práticas Comunitárias, que acontecem no primeiro e terceiro semestres. O que buscamos é trazer para o estudante o encantamento e a crença de que ele é capaz de olhar para os problemas da realidade e propor uma solução.


Então, significa que os cursos terão mais conteúdo prático e menos teórico?


Henn – O conteúdo teórico é importante, porque dá a base para o aluno buscar as soluções na prática. Mas não podemos ter só o teórico, o aluno precisa experimentar. A ideia de trabalhar com projetos é exatamente isso, que o aluno, ao se formar, já tenha uma experiência. Na área da Saúde, isso é mais forte. No curso de Medicina, a prática começa desde o início. Outros cursos não tinham tanto. Trabalhar em sala de aula com um problema real é outra coisa. O ‘saber’ e o ‘saber fazer’ são diferentes. E a ideia é fortalecer muito o ‘saber fazer’. De 60 cursos presenciais, 45 já tiveram seus currículos revistos. Agora estamos em fase de implementação.
Andreia – Na nossa proposta, o aluno é mais ativo. Ele não é alguém que está passivo recebendo o que estou ensinando. O aluno tem que receber, entender e agir. A vida da universidade é muito distante da realidade e a reinvenção procura trazer essa proximidade com a prática profissional. Entendemos que faz sentido ajudar o desenvolvimento de empresas nos nossos ambientes de inovação – a Incubadora e o Parque Tecnológico – porque queremos colocar o nosso aluno em contato com a sua realidade.


Muitos jovens hoje não veem no Ensino Superior um caminho natural. Como convencê-los da importância da formação acadêmica?


Henn – O primeiro é estar perto do jovem. Queremos fortalecer a presença da universidade nas escolas. Se formos olhar as estatísticas, a evasão no Ensino Médio tem sido muito grande. Não é nem uma questão de chegar ao Ensino Superior, muitos não terminam o Ensino Médio. E hoje quem não tem Ensino Médio praticamente não arruma emprego em lugar algum. Outro ponto é mostrar a perspectiva de futuro. Um exemplo: na nossa universidade, alunos da área de TI (tecnologia da informação) já estão empregados no primeiro ou segundo semestre do curso. A remuneração é altíssima e mesmo assim faltam profissionais. A Ativales (Associação das Empresas da Tecnologia da Informação dos Vales) nos procurou para fazer uma atividade de sensibilização junto àquele menino que está no Ensino Médio para que ele perceba que precisa do conhecimento para melhorar sua qualidade de vida.
Andreia – A juventude realmente tem essa ideia de que basta fazer algum curso para conseguir se virar. Mas temos que reforçar para o jovem que a educação formal garante um diferencial. Não só para os cursos que têm responsabilidade técnica. Precisamos ter um nível de entrega de qualquer profissional e essa entrega requer uma formação basilar.
Henn – Outro tema que estamos estudando é o seguinte. Ao invés de o aluno precisar de 4 ou 5 anos para ter um diploma de Administração para então poder atuar no mercado, ele poderá obter certificações intermediárias. Ele faz um curso de 1 ou 2 semestres na área financeira e ganha uma certificação. Depois faz um curso de 1 ou 2 anos na área de RH e ganha outra certificação. Quando tiver um conjunto de certificações com carga horária que atenda ao MEC, ganha o diploma. Vamos trabalhar muito nisso, porque somos uma instituição de educação e não de graduação.

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