Nesse sábado, dia 21 de setembro, se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi estipulada em 1982, resultado do ativismo de movimentos sociais, e oficializada em lei há 14 anos, com o objetivo de dar visibilidade às demandas e dificuldades enfrentadas por esse segmento da população – segundo o IBGE, hoje 6,2% dos brasileiros têm algum tipo de deficiência. Pensando nisso e tendo em vista que a acessibilidade é uma das questões mais recorrentes para esse público, a reportagem da Gazeta do Sul saiu às ruas durante a semana para conferir quais os obstáculos (e também facilidades) que as pessoas com algum tipo de deficiência física encontram atualmente em Santa Cruz do Sul. O trecho escolhido foi a Rua Marechal Floriano, que atravessa todo o Centro e abriga o Túnel Verde, um dos principais cartões-postais da cidade. Embora seja apenas um recorte da realidade, a via evidencia algo que se repete em todas as outras ruas e bairros: estamos investindo em acessibilidade, mas ainda é preciso fazer (muito) mais.
RAIO X
A “vistoria” feita pela reportagem nas calçadas que contornam a Rua Marechal Floriano começou na Senador Pinheiro Machado, onde fica a primeira parada de ônibus dos bairros da Zona Sul (Arroio Grande, Aliança, São João, etc.) para o Centro. Foram observadas as condições das calçadas, a existência de piso tátil (para cegos) e o acesso aos estabelecimentos. Confira o que foi encontrado.
A frente da nova Biblioteca Pública Municipal tem piso tátil. O local também conta com rampa de acessibildiade. O mesmo acontece do outro lado da rua, no Monumento do Imigrante, e evidencia algo que aparece em toda a Marechal Floriano: as construções novas, sejam elas prédios ou calçadas, estão sendo feitas considerando a acessibilidade.
Há variações entre pontos irregulares, com lajotas soltas, e outros mais planos. Um bar dessa quadra é o único da Marechal Floriano que tem rampa para cadeirantes. Não há trechos com piso tátil.
A calçada tem poucos desníveis, mas muitas pedras soltas e sem rejunte. Nessa quarta-feira, após a chuva, o trecho estava cheio de pontos com água acumulada. Para acessar o centro da Praça, onde fica a sede da Prefeitura, é preciso ir pelas laterais. Não existe piso tátil. Há uma vaga de estacionamento para deficientes, com rampa, no meio da quadra.
O trecho mais irregular fica em frente a um supermercado, pouco antes do início do único piso tátil da quadra e de uma vaga de estacionamento para deficientes, que ficam em frente à uma loja. Do meio para o fim da quadra há quatro lojas com degrau na entrada, sem rampa.
A situação é semelhante à quadra anterior, sem piso tátil, com muitos desníveis, pedras soltas e trechos irregulares por causa das raízes das arvores. Próximo à esquina, a calçada é mais regular.
A quadra é uma das que mais tem desníveis na calçada. São diversos trechos com grandes elevações e pedras soltas. Nessa quarta-feira, a fachada de uma loja estava em reformas e a passagem de uma cadeira de rodas pelo local era impossível. O mesmo acontecia em um ponto mais à frente, onde há um tapume. Não há piso tátil.
No início, a calçada tem pequenas irregularidades. Logo em seguida, aparece o primeiro piso tátil da rua. A estrutura fica em frente à loja Ella + Bella e foi feita em agosto do ano passado, quando o estabelecimento e a calçada foram reformados. Logo depois fica o Sine, com muitos desníveis e pedras soltas. Na sequência, o passeio está bom e tem o maior trecho de piso tátil da rua, na frente de duas lojas abertas recentemente. No restante da quadra, as elevações e pedras alteradas por causa das raízes das tipuanas reaparecem.
As irregularidades aparecem logo ao dobrar a esquina. Por causa das raízes das tipuanas, a calçada tem diversas elevações, com pedras soltas e rejuntes quebrados. Em frente a um hotel, uma equipe trabalhava para reparar a calçada na quarta-feira. O rejunte estava sendo refeito para minimizar as irregularidades.
A calçada tem pontos com pedras faltando e elevações, mas é bastante regular. Não há piso tátil.
Há algumas pedras soltas e pequenos desníveis. Não existe piso tátil nesse ponto. Diversos estabelecimentos da quadra têm degrau na porta e não possuem rampa, dentre eles um museu e um teatro.
O trecho é bastante plano, apenas com algumas elevações perto dos canteiros das tipuanas. Não possui piso tátil. Nessa quarta-feira a reportagem encontrou a agricultora Rosângela da Silva Jardim, de 45 anos, e o filho dela, de 10 anos, que possui hidrocefalia e usa cadeira de rodas. Moradora de Vale Verde, ela contou que circula pouco por Santa Cruz, mas elogiou as rampas nas esquinas. “Tem lugares que a gente anda, anda e não encontra uma rampa. Aqui me chamou a atenção porque tem muitas. Lá a gente não sai muito de casa, porque é estrada de chão e não tem como ir para a rua, só de carro”, comentou.
As raízes das árvores elevaram boa parte da calçada, principalmente no meio da quadra, onde existem muitas pedras soltas. Nessa quarta havia água empoçada em vários pontos.
Em frente à Praça Getúlio Vargas, a calçada é plana com algumas irregularidades. Na esquina da Júlio de Castilhos, há várias ondulações causadas pelas raízes da tipuanas e pedras soltas.
O trecho tem ondulações leves e poucas pedras soltas. Não há piso tátil. A calçada em frente a uma agência bancária estava sendo reparada nessa quarta-feira com a colagem das pedras soltas.
A quadra é tranquila, mas com alguns pontos irregulares e sem piso tátil. A parte mais problemática fica em frente a um restaurante, onde as raízes das árvores levantaram boa parte da calçada. O estabelecimento tem degrau na entrada e não possui rampa.
Acessibilidade não é apenas arquitetônica
Para o tesoureiro da Associação Santa-Cruzense de Pessoas Portadoras de Deficiência (Aspede), Alison Geller, quando se trata da acessibilidade arquitetônica, que diz respeito aos prédios públicos e privados, calçadas e rampas, existem avanços em Santa Cruz. “A remodelação que a Prefeitura fez nas calçadas do Centro ficou muito boa. As rampas estão em nível correto, sinalizadas e até com piso tátil”, comenta.
Um dos problemas apontados por ele diz respeito à execução de obras em prédios da área central. Para que uma cadeira de rodas circule em uma calçada, são necessários, no mínimo, 90 centímetros de largura para garantir a passagem da cadeira e a manobra feita com os braços por parte do cadeirante. “Em algumas obras, a área de isolamento acaba deixando apenas meio metro para circulação, o que torna inviável o trânsito de cadeiras”, aponta o tesoureiro da Aspede.
Tânia Manske é uma das fundadoras da Aspede e hoje representa a associação no Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede). Segundo ela, tudo passa pela atitude individual de cada cidadão, que precisa se colocar como um agente facilitador social. “Essa é a acessibilidade atitudinal, que ocorre quando a pessoa se coloca como disponível, para todas as outras, promovendo a inclusão e o acesso a todos, independente da deficiência”, argumenta. Mais do que colocar rampas no acesso a lojas, ou instalar piso tátil nas calçadas novas, segundo Tânia, é preciso que os estabelecimentos estejam preparados para atender os deficientes e promover a inclusão.
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