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MEMÓRIA

Relembre a primeira edição da Oktoberfest, em 1984

Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Festa ocorreu no mesmo local em que é realizada até hoje, mas em área reduzida | Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

No dia 27 de setembro de 1984, uma quinta-feira, um anúncio de página inteira na Gazeta do Sul avisava: “Nesta sexta, todo mundo vai por roupa de domingo”. A divulgação aclamava o início de uma era que colocaria Santa Cruz do Sul no cenário dos principais eventos do Rio Grande do Sul.

A 1ª Oktoberfest, realizada de 28 de setembro a 7 de outubro de 1984, deu o pontapé para uma série de festas anuais planejadas com o objetivo de ressaltar a cultura germânica e atrair o público da região e de outras áreas do Estado e do País para conhecer e fomentar o turismo em Santa Cruz.

Organizada no mesmo espaço no qual, a cada seis anos, acontecia a Festa Nacional do Fumo (Fenaf), a Oktoberfest nasceu pequena, no mesmo parque dos dias atuais, porém em área reduzida – não ultrapassava a alameda em que hoje se situa a Vila Típica. O Ginásio Poliesportivo ainda não existia (foi inaugurado em 1992) e os shows eram mais regionais. O idealizador de tudo foi Ademir Müller, à época secretário municipal de Turismo. O apoio do então prefeito Armando Wink foi fundamental.

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A expectativa da vinda do governador do Rio Grande do Sul, Jair Soares, porém, não se concretizou. A autoridade até chegou a desembarcar em terras santa-cruzenses, mas foi para inaugurar a pista asfáltica do aeroclube. Nesta reportagem especial, saiba um pouco de como foi a primeira edição da Oktoberfest de Santa Cruz, em 1984, de acordo com quem viveu o momento importante para a cultura e para o reconhecimento do município.

Nasce uma nova Santa Cruz

Uma entrevista com o secretário do Turismo, Transportes e Esporte, Ademir Müller, na Gazeta do Sul de 27 de setembro de 1984, mostrava a motivação da administração municipal da época com a primeira edição da Oktoberfest. “Nunca Santa Cruz do Sul foi tão falada e tão comentada como agora. A divulgação da cidade através da televisão, do rádio e dos jornais atinge toda a população do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina”, salientava a entrevista publicada naquele ano.

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O investimento para a primeira festa foi de 150 milhões de cruzeiros, moeda da época. Destes, 20 milhões foram de recursos da Prefeitura e 130 milhões buscados com a comercialização de estandes, patrocínios e ajuda da comunidade.

Hoje, com 73 anos, e aposentado, Ademir Müller relembra desde o momento em que começaram as tratativas para que a primeira Oktoberfest virasse realidade. “De 1977 a 1979 fui secretário de Turismo, Transporte e Esporte e tive oportunidade de gerenciar o movimento do centenário de Santa Cruz, quando fizemos uma Fenaf, em 1978. Assim que terminou a feira, eu analisei o seguinte: existe uma Secretaria de Turismo, a gente tem que tornar a cidade de Santa Cruz uma cidade turística, e tem coisas que ajudam nisso. As estradas são boas, temos uma capacidade hoteleira razoável, mas vamos aumentar, e temos uma gastronomia boa e atrativa”, recorda Müller.

Ademir Müller era o secretário de Turismo e foi o idealizador da Oktoberfest de Santa Cruz | Foto: Rafaelly Machado

A intenção era realizar a Oktoberfest já no ano seguinte, em 1979, mas a ideia não foi aceita. Apenas em 1983, já no mandato do prefeito Armando Wink, a possibilidade começou a ser discutida. “Queria colocar Santa Cruz no cenário gaúcho. Naquele tempo, nossa cidade não era conhecida. Então, pensei em fazer algo para mobilizar e fazer Santa Cruz aparecer”, frisa. “Em 1983, Wink se elegeu e me chamou para trabalhar com ele. Fui como secretário de Turismo e aí eu disse que só aceitaria trabalhar se ele me desse carta-branca para fazer um evento germânico todo ano. Ele aceitou.”

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O incentivo oferecido pelas empresas voltadas à produção de tabaco foi fundamental para a realização da feira, de acordo com o idealizador. “Não podia fugir muito do que era a Fenaf, que estava consagrada com uma feira, e precisava de dinheiro, recursos, porque a Prefeitura não tinha tudo. Fiz feira agrícola também, porque tinha muito a ver com a cultura alemã; ganhei dez casinhas, as fumageiras me ajudaram demais. Consultei as empresas e elas concordaram em acabar com a Fenaf e fazer um evento germânico. Estruturei o negócio da feira agrícola, pedi para um arquiteto bolar as casinhas da vila típica. E, no caso do pórtico, que era horrível, solicitei para construírem um telhado, e as fumageiras bancaram”, relata Müller.

O professor Fernando Vilela, que à época era responsável pelo Departamento de Esporte da secretaria municipal, elogia o trabalho executado por Müller. “Devo dar um voto de louvor ao Ademir, porque, quando ele criou a Oktoberfest, ninguém esperava. A própria população não acreditou nele, mas, depois que fez esse esforço, ele se consagrou. Pelo entusiasmo, pela maneira de criar essa festa, ele foi um excelente secretário”, declara Vilela.

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Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Christiane Bublitz: a rainha

A escolha das soberanas da 1ª Oktoberfest ocorreu como geralmente eram feitas as seleções das representantes da Fenaf. O trio escolhido para recepcionar os visitantes da edição foi: a rainha Christiane Bublitz, representando a Sociedade Aliança; e as princesas Simone Scholz, representando o Sesc, e Janine Antonio, representando o Corinthians.

Christiane Bublitz, hoje com 56 anos, tinha apenas 17 quando foi escolhida para representar a 1ª Oktoberfest. Recorda que alguns dias depois de receber o título completou 18 anos. “Foi uma oportunidade que surgiu porque eu era modelo e, de vez em quando, participava de alguns concursos. Meu pai era sócio da Aliança e me chamou para participar. Como foi a primeira feira, na época não sabíamos muito como ia ser, o que era, o que iria acontecer. Então, quando eu ganhei, foi uma grande surpresa, porque havia muitas meninas lindas, conhecidas, várias que já tinham títulos. Mas foi muito bom, eu amei, aprendi muito”, relembra Christiane, por telefone, de Itajaí, em Santa Catarina, onde reside.

Aos 17 anos, Christiane foi a primeira rainha | Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Tudo o que viveu no período em que foi rainha está marcado em suas melhores memórias. “Conheci muitas pessoas, nas viagens, o cuidado que a primeira dama na época tinha para comigo, as pessoas que viajavam com a gente, todos cuidavam muito de nós, as festas a que íamos, jantares, bares, tudo foi incrível.” O carinho que o público e, principalmente, as crianças tinham para com o trio chamava a atenção. “Quando chegávamos no parque, vestidas de rainha e princesas, as crianças adoravam, vinham correndo pegar na nossa mão, adoravam, achavam lindo. Fizemos muitas amizades”, comenta.

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Alguns anos depois, em uma apresentação de circo em Santa Cruz do Sul, Christiane conheceu o marido, o ator Dedé Santana. “Ele me viu e no final do circo conversamos rapidamente, trocamos telefone, ficamos conversando mais ou menos um ano por telefone. Quando teve o Criança Esperança em Porto Alegre, ficamos juntos um final de semana, e depois disso eu fui para o Rio de Janeiro e ele me pediu em casamento.”

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Atualmente residindo em Itajaí, Christiane conta que visita Santa Cruz sempre que pode e que esteve na última festa realizada antes da pandemia. “Ser rainha da Oktoberfest foi uma experiência que guardo com muito amor no coração até hoje. Foi uma coisa maravilhosa. Sempre que posso levo meus filhos. Um ano antes da pandemia, quando fui para Santa Cruz, minha filha Yasmin foi na festa com meu traje, minha coroa, minha faixa. Foi algo muito importante para mim. Eu adoro, amo Santa Cruz.”

A rainha Christiane e as princesas Simone e Janine | Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Atrações

Nos dias da festa, em 1984, apresentaram-se Os Canarinhos, do Colégio São Luís; Coral Madrigal, Instituto Musical Mascarenhas e Grupo Canto Livre, entre outros. Houve uma atração internacional, a banda Haubersbronner Dorfmusikanten, da Alemanha. Além disso, foram realizadas exibições de acrobacias aéreas, paraquedismo, balonismo, teatro infantil, patinação, bicicross, desfiles de modas com indústrias locais (Lowasa, Pitt, Arcal, Luina etc) e muitas bandinhas. A exposição de animais também agradou ao público.

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Duas edições mais tarde, em 1986, por exemplo, a Oktoberfest já contava com shows nacionais, como o do cantor Wando. Ademir Müller, que realizou as cinco primeiras festas, conta sobre as dificuldades de infraestrutura que eram enfrentadas na época. “Lembro de um show do Wando, que tive que atrasar e começar só às 22 horas porque não tinha energia para os instrumentos. Tinha que esperar a feira rural apagar as luzes, e aí sobrava energia nos transformadores para poder tocar o show. No outro ano troquei, e aí não teve mais problema. Mas nesse primeiro ano foi um sufoco.”

Os Canarinhos, do Colégio São Luis, se apresentaram na festa | Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Esporte presente na edição

Junto à 1ª Oktoberfest também foram realizados a maratona dos 10 mil metros e os jogos germânicos. O professor Fernando Vilela recorda que em 1984 os esportes estiveram muito presentes e foram importantes para a boa adesão da comunidade à festa. Corredores de diversos estados brasileiros participaram da corrida, que aconteceu no dia 29 de setembro de 1984. Os jogos germânicos, por sua vez, contavam com competições como pau de sebo, prego na tora, serrar toras e jogo da marreta.

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Pau de sebo era um dos jogos disputados | Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Jovens não acreditavam na festa

Se hoje a Oktoberfest tem a relevância que tem em todo o Rio Grande do Sul, muito disso é devido à forte participação da juventude, que organiza excursões para prestigiar shows e a feira em geral. Porém, a adesão dos jovens não era uma realidade nas primeiras edições do evento. “Naquela época, a Avenida do Imigrante já era um ponto de encontro da juventude. Então, o secretário Ademir Müller pedia para eu pegar um carro de som, e eu ia para a Imigrante chamar os jovens para ir à festa. A maioria dizia que não iria, e chamava a Oktoberfest de quermesse. Mas fomos trabalhando a juventude para que eles frequentassem a festa”, relata o professor Vilela.

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Análise final da Oktober de 84

A 1ª Oktoberfest, que em 1984 já era intitulada como a Festa da Alegria, foi encerrada às 20 horas do dia 7 de outubro, um domingo. O Coral das Faculdades Integradas de Santa Cruz, acompanhado pela banda do 8º Batalhão de Infantaria Motorizado, nas execuções dos hinos nacional e municipal, foi o responsável pelo início da solenidade de encerramento. A seguir, a Chama do Imigrante Alemão foi extinta.

Arquivos da Gazeta do Sul mostram, em reportagem publicada no dia 9 de outubro de 1984, dois dias após o término da festa, que a estimativa é de que a 1ª Oktoberfest recebeu 140 mil pessoas. “O secretário Ademir Müller compartilha da opinião da maioria esmagadora da comunidade santa-cruzense, que se define no sentido de que a Oktoberfest passe a ser um evento anual e de afirmação turística de Santa Cruz no cenário estadual e, com o passar dos anos, até nacional”, descreve a matéria.

A Oktoberfest foi responsável por impulsionar a economia de Santa Cruz do Sul. No setor hoteleiro e de alimentação, foram duas semanas de movimentação intensa. Naquele ano, o Hotel Charrua, por exemplo, recebeu 300 hóspedes durante os dois finais de semana. No Nevoeiro, 280 pessoas estiveram hospedadas. O Hotel Santa Cruz também registrou ampla lotação. No Restaurante Centenário, foram servidas 500 refeições.

Capa da Gazeta do Sul traz manchete sobre resultados da primeira festa, em 1984

A polêmica do nome

Uma polêmica envolvendo o nome do evento santa-cruzense também movimentou as páginas da Gazeta do Sul. “Esta primeira Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, que terminou gloriosamente no domingo, apesar de tão bem-sucedida, pode ter sido também a última. É que o uso do nome está a perigo, depois que Novo Hamburgo e Blumenau encaminharam pedidos de exclusividade para uso da marca Oktoberfest no Registro de Marcas e Patentes, e aquele que obtiver este registro vai impedir que qualquer outro empreendimento congênere no país use o mesmo nome, a não ser adquirindo os respectivos direitos”, disse Guido Ernani Kuhn na coluna Canto de Página, na edição da Gazeta do Sul de 9 de outubro de 1984.

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