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Uma acusação de apologia à pedofilia e à zoofilia fez com que a exposição "Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira", do Santander Cultural em Porto Alegre, fosse interrompida. As queixas se baseiam em apenas três das 264 obras exibidas desde 15 de agosto.
Pressionado pelas redes sociais e pelo Movimento Brasil Livre (MBL), o Santander Cultural interrompeu a exposição, que estava prevista para ser encerrada apenas em outubro. Por meio de nota, o Ministério da Cultura se manifestou, nesta terça-feira, sobre o encerrramento da exposição.
"Não cabe legalmente ao Ministério da Cultura (MinC) avaliar o conteúdo dos projetos que buscam a chancela da Lei Rouanet. Haveria um forte risco de dirigismo cultural. Os proponentes são responsáveis pelo conteúdo dos projetos. Espera-se que cumpram as leis do País. Ao MinC, cabe fazer a análise técnica das propostas", diz a nota.
O site BuzzFeed News publicou imagens das obras para quem não teve oportunidade de visitar a exposição. Confira abaixo algumas das imagens que tiveram mais repercussão negativa.
ADRIANA VAREJÃO: Cena de interior II, 1994
O óleo sobre tela de Adriana Varejão era uma das peças de abertura da exposição. Foi alvo de ataques virtuais, mais de 20 anos depois de ser pintada pela artista. Segundo o catálogo da mostra, a peça apresenta um drama erótico e sua "intensidade histórica, conceitual e estética é exemplar da força da imagem que é possível encontrar nessa exposição".
BIA LEITE, Travesti da lambada e deusa das águas (2013) e BIA LEITE: Adriano bafônica e Luiz França She-há (2013)
Essas duas obras de Bia Leite foram duramente criticadas. "Bia talvez seja uma das poucas artistas brasileiras a enfrentar com desenvoltura e coragem esse tema tabu, que é a homossexualidade na infância e o portentoso sofrimento que crianças atravessam na fase escolar e no início da adolescência. A artista produziu essas pinturas a partir da combinação de fotografias das crianças retiradas do Tumblr www.criancaviada.tumblr.com, onde são postadas fotografias da infância dos próprios usuários LGBT com comentários", explica o catálogo da exposição.
CIBELLE CAVALLI BASTOS: Is a Feeling, 2013
Cibelle reproduz a figura de uma criança comendo e segurando uma tigela em que se lê a palavra "love". Sobre seu rosto, um sticker de arco-íris. Com uma linguagem que lembra a publicidade, ela apresenta "o afeto como interferência na forma de um 'ruído conceitual''. "O ingresso de tal característica na realização desse trabalho perturba a realidade material da obra, cujos princípios não toleram características subjetivas dessa natureza", diz o catálogo da exposição.
FELIPE SCANDELARI: Last Resort, 2016
A obra de Scandelari traz uma madona carregando um chimpanzé e é marcada por itens iconográficos que remetem desde a pintura do século 16, como a caveira, até elementos contemporâneos, como uma galinha azul.
FERNANDO BARIL: Cruzando Jesus Cristo com Deusa Schiva, 1996
As obras de Fernando Baril, de acrílico sobre tela, também irritaram os militantes do MBL, sobretudo a que traz uma imagem de Jesus com vários braços, num cruzamento com a deusa Shiva. Essa obra tem 21 anos. A obra “Cruzando Jesus Cristo com Deusa Shiva”, de 1996, retrata “as inúmeras pernas e braços da figura que reverberam pela superfície da pintura, exibindo objetos de toda ordem nas mãos e pés, muitos deles relacionados à história da arte e à cultura pop”, explica o catálogo.